MC Anarandá: Rapper guarani-kaiowa retrata a violência contra a mulher em músicas

Fotos: Acervo Pessoal
Fotos: Acervo Pessoal

Canções alertam para a importância de denunciar os agressores

Em comemoração ao Dia Internacional da Música, o caderno Artes & Lazer buscou conhecer a história da MC Anarandá. De etnia guarani-kaiowa, a rapper busca retratar em suas músicas o crime de violência contra a mulher, com o objetivo de alertar as mulheres sobre a importância de denunciar seus agressores.

Ana Lúcia Rossate, 24 anos, é conhecida como “Anarandá” e iniciou a carreira na música no início de 2014. A artista utiliza o rap como forma de expressar sua arte e afirma que a escolha a faz enfrentar grandes desafios, já que o ambiente é majoritariamente masculino. “Sou professora, atleta, atriz, locutora na rádio indígena da Aldeia Bororó, digital influencer e acadêmica de Gestão Ambiental na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados)”, resume Anarandá.

As músicas da rapper têm importante cunho social, retratando as violências sofridas pelas mulheres, principalmente dentro das aldeias indígenas. “Me sinto uma porta-voz delas”, coloca a artista, acrescentando que enfrenta muitos percalços na música e no estilo musical que escolheu por ser uma mulher indígena.

Ainda de acordo com ela, o processo criativo é difícil em razão da delicadeza e importância do tema que retrata nas rimas. “O processo criativo para falar sobre a violência contra mulher não é fácil. Há perigos de todo jeito, até mesmo o de ser ameaçada pelas pessoas que praticam esses atos violentos, que se recusam a ouvir a verdade por meio do rap. Mas nada disso me impede de continuar e de eu ser o que sou”, afirma.

Em off

Fora dos palcos e das redes, Anarandá vive com dificuldades na vida financeira. Formada em Gestão Ambiental pela Universidade Federal da Grande Dourados, Ana Lúcia é sinônimo de superação. Mãe biológica de um menino de 4 anos e mãe adotiva de duas adolescentes, ela trabalha como professora da língua materna (guarani) e de diversidade cultural, além de produzir conteúdo para a internet, sendo assim a forma de pagar as contas. “Estou caminhando para viver da arte, sou professora particular e atualmente estou apenas com dois alunos. Eu dou meus pulos para dar conta, faço propaganda das lojas no Instagram, faço vídeos e com isso eu inteiro para pagar os boletos”, conta a jovem.

“Quando eu partir, não chore”

O primeiro videoclipe da cantora é da música “Feminicídio”. Anarandá retrata na letra a violência contra a mulher, chamando a atenção das ouvintes. No refrão a rapper canta “Quando eu partir, não chore; não tenta trazer as flores”, e alerta sobre a importância e necessidade de denunciar os agressores. Para a realização do videoclipe, a rapper foi contemplada na Lei Aldir Blanc, que prevê auxílio financeiro ao setor cultural.

“Escolhi dois lugares para mostrar, no clipe, que a violência contra a mulher não acontece só na aldeia, mas na cidade também. Pensei nos espaços para mostrar que nós indígenas podemos e estamos em qualquer lugar. Somos livres para viver. Muitos pensam que podemos gravar clipe só na aldeia, e meu objetivo era quebrar isso, porque eu decido onde quero gravar, estamos e ocupamos qualquer lugar”, explica a artista.

Traduzindo sentimentos

Anaradá canta em português e guarani, traduzindo a dor e a luta das mulheres indígenas. “A música para mim é tudo. São as vozes das dores, alegrias, ódio, tristezas, amor, paixão, em resumo a voz do sentimento. Ela nos faz sentir melhor, fugir da realidade que nos rodeiam, nos aproxima das pessoas que amamos e também nos distancia de outras pessoas. Compreendo que nossa música e nossa voz significam reflexão”, analisa.

Com a pandemia Anarandá passou a trabalhar com a carreira solo, e por isso buscou enfatizar ainda mais o empoderamento feminino nas suas canções. “Criar é sempre algo difícil, e agora é ainda mais difícil por questões financeiras. Não é fácil ser artista, indígena principalmente”, reclama.

A artista luta bravamente para conseguir alcançar ainda mais pessoas com a sua voz. Artista ainda pequena, a rapper tem um longo caminho a percorrer e muito a conquistar, e o que não falta é esforço e dedicação. “Eu corro muito para divulgar minhas músicas. Fiz lives no Instagram (@anarandarefletirmcs) até alguém me chamar para apresentar minha arte, até que alcancei várias pessoas no show online. Sempre faço tudo com muito esforço e dedicação. Eu ainda sou uma artista saindo da caixinha, quase ninguém me conhece ainda, mas aos poucos vou chegando a lugares diferentes”, afirma.

Produzindo sem parar

Para aumentar suas produções, Anarandá está promovendo uma vaquinha virtual para conseguir arrecadar dinheiro a fim de investir em novos equipamentos. O objetivo é arrecadar R$ 20 mil, e até agora a artista conseguiu atingir 6% da sua meta. “Essa vaquinha é para a minha carreira. Quero fazer registro das minhas músicas e colocá-las nas plataformas digitais. Também quero gravar clipes e comprar equipamentos de som para produzir meus beats”, explica Anarandá.

O link para doar é: https:// www.vakinha.com.br/vaquinha/ ajuda-para-comprarequipamento-de-som-egravar-minhas-musicas-eclip-e-para-fazer-ministudios-por-favor-meajudem

(Texto de Beatriz Magalhães)

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