Artista completou 50 anos de carreira levando sua obra de Mato Grosso do Sul para todo o mundo
Faleceu neste sábado (26), em Bonito (MS), o artista plástico Jonir Figueiredo, aos 73 anos. Natural de Corumbá, Jonir era um dos nomes mais importantes das artes visuais sul-mato-grossenses, com trajetória marcada pela valorização das paisagens, da identidade regional e da cultura pantaneira. Ele estava na cidade como convidado da abertura da 3ª edição do Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito (CineSur), quando morreu, dormindo, vítima de um mal súbito, segundo familiares.
Na sexta-feira (25), Jonir participou da cerimônia de abertura do festival, no Centro de Convenções de Bonito. No sábado, ao saber da notícia, a organização prestou uma homenagem ao artista durante a programação do evento. “Sua presença reafirmou seu compromisso com a arte e a cultura. Figura essencial nas artes visuais, Jonir deixa um legado de beleza, sensibilidade e inspiração”, destacou a nota oficial lida no palco. O corpo foi velado neste domingo (27), no Centro Cultural José Octávio Guizzo, em Campo Grande.
Jonir Figueiredo era formado em Educação Artística pela Faculdade Unidas de Marília (SP) e atuava como desenhista, gravador, performer, pintor e produtor cultural. Iniciou sua carreira nos anos 1970 e foi um dos idealizadores do Movimento Cultural Guaicuru, coletivo que buscava exaltar a identidade sul-mato-grossense a partir das raízes indígenas do povo Guaicuru. Sua obra, marcada pelo uso de múltiplas técnicas, foi reconhecida em diversos salões de arte no Brasil e no exterior, sempre trazendo o Pantanal como paisagem simbólica e afetiva.
A Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul também lamentou a perda e divulgou nota de pesar. “Jonir Figueiredo foi um artista ímpar, um personagem da história do nosso estado. Andava entre nós, à procura de novas ideias, matéria-prima para criar sua arte e formas de divulgá-la. Sua partida é uma perda imensurável para a produção cultural sul-mato-grossense”, diz o texto.

Foto: Reprodução
Legado e Afeto
Nas redes sociais, a notícia da morte de Jonir Figueiredo gerou grande comoção entre artistas, amigos e representantes da cena cultural sul-mato-grossense. Diversas homenagens foram publicadas ao longo do fim de semana, celebrando o legado e a sensibilidade do artista.
A atriz e diretora Renata Leoni, referência no teatro de MS, escreveu: “Vá em paz, Jonir”, em uma mensagem breve, mas carregada de afeto. O cantor e compositor Jonavo destacou a relevância do artista para a identidade cultural do estado: “Grande representante da nossa cultura! Viva Jonir”. Já o músico Guga Borba ressaltou sua admiração pessoal: “Incrível Jonir, que ser humano diferenciado”.
A produtora cultural Ângela Finger também prestou homenagem ao artista, destacando sua generosidade e importância para a arte sul-mato-grossense. “Vaidoso, elegante, dono de uma beleza expressiva e pantaneira, Jonir tinha um talento singular nas artes plásticas, que representava nosso estado dentro e fora do Brasil. Era de um coração bondoso, sem preconceitos. Agora, o que nos resta é a saudade daquele sorriso de amigo e artista”, disse Ângela ao Jornal O Estado.
Desde as primeiras horas da manhã, amigos, admiradores e colegas de profissão utilizam as redes sociais para prestar homenagens e se despedir do artista. “Ahhh, Jonir Figueiredo, meu querido amigo de tantos anos! Tenha uma passagem leve e plena de luz. Você foi um cara e artista maravilhoso nessa sua vida por aqui! Vá em paz, meu amigo!”, escreveu um amigo. “Sua missão foi cumprida com louvor. Sentiremos sua falta”, lamentou uma amiga, ainda incrédula com a notícia.

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Sobre
Autodidata e intuitivo, era desenhista, gravador, pintor, performer cultural e arte-educador, com uma produção marcada pela forte inspiração na iconografia pantaneira, tema recorrente em suas criações.
Reconhecido em salões de arte em Mato Grosso do Sul e em diversas regiões do Brasil, também levou seu trabalho a outros países, com exposições no Mercosul, no Japão, em cinco cidades da antiga União Soviética, na Europa e até na sede da ONU, em Nova York. Além das exposições, sua trajetória é registrada em diversos livros sobre arte e cultura sul-mato-grossense e do Centro-Oeste.
Técnico especializado em artes e cultura, participou de inúmeros cursos de extensão universitária. Considerava-se artista desde criança, estudou em escolas tradicionais de Corumbá, como Dona Arsênia, Círculo Operário e Santa Teresa. Em suas palavras, era a intuição que guiava cada pincelada, linha ou cor.
Em 2022, Jonir Figueiredo celebrou cinco décadas de trajetória artística com uma agenda intensa de atividades culturais no Brasil e no exterior. Em maio daquele ano, foi à França, onde realizou uma exposição individual no Centro Paris Anim’ Sohane Benzian, além de ministrar oficinas voltadas ao público infantil, apresentando os animais do Pantanal e a diversidade cultural de Mato Grosso do Sul ao público europeu.
Durante a temporada em Paris, também lançou o livro “Jonir, Uma trajetória de vida construída com arte”, publicação que reúne obras, registros e memórias de sua carreira. Ao retornar ao Brasil, deu continuidade às comemorações com uma série de exposições e encontros culturais em diversas cidades sul-mato-grossenses, reafirmando seu compromisso em levar adiante a arte e as narrativas visuais do estado que tanto o inspirou. (Colaborou Marcelo Rezende e Agência Brasil).
Amanda Ferreira e Juliana Aguiar