Imprevisto: Encontros e Confluências

Foto: reprodução
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Artistas de MS realizam exposição ousada, com proposta inovadora e ‘fora da curva’

 

A partir do dia 28 de março, a Casa de Cultura de Campo Grande irá receber a exposição ‘Imprevistos’, assinada pelos artistas Elias de Aquino e Brenda Postaue. De forma inovadora, a exposição propõe o rompimento dos formatos convencionais de apresentação, e aposta no inesperado e na intuição como método de criação das obras. Com curadoria de Adriano Braga, a mostra começa às 19h e contará com apresentação musical de Ossuna Braza.

A exposição traz uma reflexão sobre a própria dinâmica de trabalho dos dois artistas, que desenvolveram suas pesquisas individualmente, sem o conhecimento prévio sobre o que o outro estava produzindo, algo bem diferente do que vemos em exposições, onde os trabalhos dos artistas geralmente ‘conversam’ entre si. O curador Adriano Braga acompanhou o processo de cada um, e foi o responsável por promover interlocuções que respeitaram as trajetórias e desejos individuais tanto de Elias quanto de Brenda. Como resultado, os trabalho de ambos foi puramente de experimentação, onde a confluência das obras se dá no encontro, sem determinações prévias.

Conceitos Acima, obras da série “Panambi” de Elias de Aquino, abaixo, pintura de Brenda Postaue – Foto: divulgação

“Buscou-se um processo de pesquisa, priorizando percursos informais de trocas de saberes, em comprometimento com as múltiplas investigações de outros modos de fazer, que prescinde das experiências naturalizadas nos espaços institucionais e nos sistemas de arte. A confluência é trabalho não só da composição, mas de decomposição do sentir e do pensar, práxis sensível aberta as singularidades do encontro”, disse o artista-pesquisador, curador e professor, Adriano Braga, em trecho de texto da exposição.

Elias de Aquino desenvolve sua produção em pintura, performance, vídeo e cerâmica, investigando a violência nos territórios rurais de Mato Grosso do Sul a partir de suas ocupações e disputas. Sua obra parte de arquivos e memórias familiares, resgatados e reconfigurados. “Entendo que essa exposição pretende questionar principalmente quais são os parâmetros que persistem na institucionalização do trabalho artístico e nisso que a gente entende como um circuito de arte contemporânea e que nos afeta, principalmente, como artistas independentes”, destaca Elias. “Estamos pensando nesses processos que se dão por uma gestão compartilhada, e não por uma lógica de separação entre as produções e suas curadorias, ou entre o fazer e o pensar”.

Reaprender e ocupação

Por meio da própria metodologia de criação, Elias acredita que os espaços institucionais de circulação de trabalhos artísticos, ainda que essenciais para a visibilidade, funcionam de forma precária no Estado. “No contexto de Mato Grosso do Sul, o circuito de artes visuais ainda opera sob um regime de grande precariedade, com poucas instituições, baixa circulação e um grande número de artistas”, pontua.

Foto: divulgação

Diante desse cenário, o artista tem buscado alternativas para compensar os espaços expositivos e a própria definição do que é um trabalho artístico. Ele tem se afastado da ideia tradicional de “obra”, que remete a um resultado, para priorizar processos de pesquisa que desafiem categorias fixas. Esse movimento o levou a se distanciar um pouco da pintura, área em que possui formação e experiência acadêmica, para explorar outros suportes como cerâmica, vídeo e performance.

“O que temos na exposição são pequenos fragmentos de algo que aconteceu, não o ápice do trabalho. O verdadeiro trabalho é a pesquisa, a investigação, a metodologia de aprendizado e de reaprendizado de práticas familiares”, explica.

Quebra do tradicional

Elias destaca que a proposta do grupo não segue um regime convencional dentro da exposição, optando por uma lógica de partilha. Apesar dessa dinâmica colaborativa, cada um desenvolve sua pesquisa individualmente, com investigações particulares que refletem interesses próprios. Adriano atuou como uma ponte entre essas produções, facilitando o diálogo entre as abordagens de cada artista e especulando sobre possíveis interseções entre elas.

“Podemos pensar que o próprio nome ‘Imprevisto’ vem dessa proposta, de entender e assumir imprevistos, como uma metodologia de trabalho. Acredito que é muito importante assumir o não saber das coisas, assumir o imprevisível, que ainda está oculto, e pensar nisso como uma maneira de trabalhar”.

Já Brenda Postaue, residente em Dourados-MS, transita entre a arquitetura e a produção artística, explorando em sua pintura as fronteiras da matéria e da plasticidade. A artista parte de gestos intuitivos e experimentações com materiais não convencionais visando descobrir, através dos limites que eles impõem, novos modos de fazer. “Imprevisto tem se prolongado muito além do imaginado. Assim como a conceituação do projeto, que desenvolvemos em 2023, enfrentamos a imprevisibilidade na produção. Coleciono novos suportes, procurando encontrar no caminho o destino”, reflete Brenda. “Sou uma pessoa muito diferente de quem era quando escrevemos Imprevisto – não imaginava ser assim hoje”.

Para Adriano Braga, a curadoria se alinha com um pensamento coletivo e descentralizado, em que “o fazer expositivo se torna um campo de partilha e desestabiliza as estruturas tradicionais da arte”. Ele também destaca como sua trajetória influenciou essa abordagem: “Minha experiência curatorial está muito ligada ao espaço independente Rumos, em Goiânia. A partir dele, venho articulando curadorias que compreendem esse processo como um fazer coletivo, construído a várias mãos. Acredito que essa perspectiva também motivou a escolha de Elias e Brenda para a exposição, pois há uma convergência entre essa metodologia curatorial e a própria concepção da mostra.”

Retratos Mais registros fotográficos de Elias Aquino expostos na série “Panambi” – Foto: divulgação

A noite de abertura contará com a performance “Junta-Panela”, de Elias de Aquino, que resgata um objeto afetivo a partir do gesto de sua construção — gesto aprendido com seu avô pedreiro. Como parte do evento, haverá ainda uma apresentação musical do multi-instrumentista e professor de música Ossuna Braza. Em maio, ainda, serão oferecidas oficinas gratuitas na Casa de Cultura ministradas por Elias e Brenda, como parte da programação do projeto, proporcionando um contato mais aprofundado com suas metodologias e processos criativos. Mais informações sobre as oficinas serão divulgadas em breve.

“A exposição é um convite para refletirmos sobre como o outro participa da nossa construção individual e como o diálogo e a humildade são essenciais nesse processo criativo”, conclui Elias.

Serviço: A exposição “Imprevisto” começa no dia 28 de março, às 19h, na Casa de Cultura, Av. Afonso Pena, 2270 – Centro, Campo Grande. A performance “Junta-Panela” ocorre em 28 de março e as oficinas gratuitas serã durante o mês de março, na Casa de Cultura. O evento é financiado pea Lei Paulo Gustavo, via Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul.

 

Por Amanda Ferreira e Carolina Rampi

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