Ícone cultural de MS, a professora Maria da Glória Sá Rosa completaria 96 anos hoje

Fotos: Acervo Maria da Glória
Fotos: Acervo Maria da Glória

A ilustre Maria da Glória Sá Rosa, mais conhecida carinhosamente como Glorinha, nasceu no dia 4 de novembro de 1927, na pequena Mombaça, cidade do Estado do Ceará. A mombacense de certidão é uma personalidade destaque na Capital, pelo protagonismo potente e profícuo no que tange à cultura e à educação. Seu apreço e dedicação à docência, carreira na qual foi ativa por mais de quatro décadas, rende frutos até hoje. Assim como seu ativismo expressivo e incisivo no âmbito cultural. Professora, pesquisadora, produtora cultural, além de escritora, Maria da Glória completaria, hoje, 96 anos. Em sua homenagem, por seu legado admirável, dedicamos a ela a matéria deste sábado.

Glorinha faleceu em julho de 2016, aos 88 anos. Apesar da perda irreparável, deixou para Campo Grande um legado rico, transformador e inspirador. Cumprindo com louvor a tarefa de registrar a cultura do Estado que escolheu para viver, Glorinha também foi responsável por apresentar a Mato Grosso do Sul os nomes de grandes artistas. Além de uma carreira profissional e brilhante, é mãe de quatro filhos: José Carlos, José Boaventura, Eva Regina e Luiz Fernando, que, em entrevista ao jornal O Estado, rememora o período tomado por nostalgia.

“É uma data de muitas saudades, muitas lembranças. A alegria que ela possuía, a vontade de viver, era estimulante. Ela era o tipo de pessoa que estava à frente de todos, mas não demonstrava isso. Ela era o tipo de pessoa que tomava atitudes pensando no futuro. Então, eu só posso dizer que sou pura saudades!”, compartilha o médico e produtor rural.

Em 1950, Glorinha iniciou sua carreira na docência nos Colégios Osvaldo Cruz e Nossa Senhora Auxiliadora. Sua trajetória como professora também a levou a atuar no campo acadêmico, desde que o Estado ainda era indiviso. Durante seu percurso na docência, Glorinha foi uma forte influência na vida de alunos dentro e fora da sala de aula. Uma amante descomedida das palavras, suas paixões e dedicação inebriou a todos que com ela conviveram.

“A maior herança que ela nos deixou foi o aprendizado. A educação que ela passou para todos nós, seu caráter, sua força. Você não via ela deprimida. Ela estava sempre olhando para a frente com muito otimismo em tudo. Essa foi a grande herança que ela deixou para nós. Se eu fosse resumi-la em poucas palavras, posso dizer: sábia, muito inteligente e de um bom senso esplêndido. Gostava muito de ensinar as pessoas, gostava de passar tudo que ela sabia para os outros. Muito generosa”, ressalta Luiz Fernando.

Fotos: Acervo Maria da Glória

Educação e cultura

Seus atributos não se privaram ao âmbito familiar. Formada no curso de línguas neolatinas, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, foi responsável por ministrar as disciplinas de língua portuguesa e espanhola na Capital. Ainda em 1961, participou da fundação e instalação dos primeiros cursos superiores de Campo Grande. Lecionou por quase duas décadas na antiga FUCMT (Faculdade Dom Aquino de Filosofia, Ciências e Letras), atual UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), espaço onde criou o TUC (Teatro Universitário Campo-Grandense) e promoveu e fomentou diversos cursos e semanas literárias. Para a escritora e colunista Sylvia Cesco, o encontro com Glorinha foi determinante em sua trajetória.

“Fui aluna durante sete anos, no colégio estadual e no curso de letras da faculdade da professora Maria da Glória Sá Rosa, ícone cultural deste Estado, que reconheceu em mim essa facilidade de criar textos literários, sob forma de poesia, conto ou crônica. Em homenagem à Maria da Glória, organizei o livro de crônicas e contos: ‘A Glória Desta Morena’, com textos inéditos que ela havia deixado antes de falecer e que contou com a participação de vários escritores”, relembra a colunista. 

Além de se dedicar à docência, Maria da Glória também foi produtora de programas de rádio e de televisão, como o programa “Intercomunicação” na “TV Morena” e o programa “Mensagem ao Mundo Feminino”, na “Rádio Educação Rural”. Seu vasto currículo ainda vai além, tendo atuado como coordenadora de diversos festivais de grande magnitude de teatro, poesia e música. Eventos em que Glorinha pôde apresentar grandes nomes artísticos, como o dos irmãos Geraldo e Tetê Espíndola, momentos que Geraldo Espíndola rememora com muita nostalgia.

“Professora Glorinha foi um diferencial na cultura (na época mato-grossense, que estava para se tornar sul- -mato-grossense), pois ela foi uma das idealizadoras e criadoras dos festivais de música em Campo Grande. 

Foi nesse período que começou a aparecer a minha geração. Além disso, ela apresentou um programa na ‘TV Morena’, em preto e branco ainda, em que participei e foi um relicário aquilo. Tocamos muito rock nele! Glorinha também foi professora na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), foi minha professora no científico e sempre me incentivou à leitura de obras incríveis. Ela era muito contemporânea, moderna, sempre viajava muito e por isso sempre nos trouxe muito conhecimento de graça, nas aulas de português e literatura. Foi uma professora muito amada”, enfatiza o cantor e compositor.  

Em homenagem a essa figura marcante e por sua enorme influência na vida de incontáveis alunos, colegas e admiradores, sua biblioteca foi doada por familiares para a Uems (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul). O acervo é aberto ao público e conta com diários e obras da professora. 

Fotos: Acervo Maria da Glória

Legado A escritora Sylvia Cesco, que também foi aluna de Glorinha, organizou o livro: ‘A Glória Desta Morena’ 

 

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