Marcelo Rezende
Foi no dia 2 de janeiro de 1971, que teve início a produção original do seriado “Spectreman”, uma série de televisão japonesa de ficção científica. Sua produção seguiu até 25 de março de 1972, totalizando 63 episódios. Aqui no Brasil, a produção foi ao ar entre os anos de 1981 e 1982 pela Rede Record. Entre 1983 e 1990, a série foi transmitida pelo SBT.
A trama do seriado é em torno da luta do androide Spectreman contra o cientista Gori e seu auxiliar, Karas – ambos “homens-macacos”. Fora as batalhas do bem contra o mal, Spectreman também abordava questões relacionadas aos problemas causados pela poluição e tinha viés ambientalista. Para o mercado americano a abertura foi refeita e composta uma música com pegada bem rock’n’roll, o que ajudou a divulgar e cativar o público, e esta abertura marcante veio ao Brasil. A dublagem, feita nos estúdios da TVS (que era também o nome original do SBT), era recheada de vozes marcantes, como Carlos Seidl (Dr. Gori) e Potiguara Lopes (Karas), os populares Seu Madruga e Prof. Girafales do “Chaves”, entre outros.
Eu nunca me esqueci, a série sempre começava com a seguinte frase: “Planeta: Terra. Cidade: Tóquio. Como em todas as metrópoles deste planeta, Tóquio se acha hoje em desvantagem em sua luta contra o maior inimigo do homem: a poluição. E apesar dos esforços das autoridades de todo o mundo, pode chegar um dia em que a terra, o ar e as águas venham a se tornar letais para toda e qualquer forma de vida. Quem poderá intervir? Spectreman!”. A série fez muito sucesso no Brasil, me lembro bem que se eu perdesse um episódio sequer, não tinha assunto para conversar com os coleguinhas no recreio do dia seguinte.
Feito para concorrer diretamente com o também histórico “Ultraman”, o orçamento de “Spectreman” era extremamente apertado e curto. Por isso, algumas “tosqueiras” eram recorrentes na atração. Fantasias de monstros eram feitas de borracha tão ruim, que era notório ver partes do corpo de quem as usava. Além disso, as maquetes de papelão também tinham acabamento pior até mesmo para seriados da época, mas isso não importava para um moleque de 11 anos que adorava seriados de heróis e monstros japoneses. Eu vibrava com essa série – que nostalgia lembrar disso na primeira coluna do ano!
No Brasil a Editora Bloch lançou uma revista em quadrinhos do Spectreman (que tinha as cores mudadas para azul e cinza e foi rebatizado de Kenji para Kenzo). A revista fez muito sucesso, sendo publicada até o número 30. Nas aventuras desenhadas por Eduardo Vetillo, o nosso herói enfrentava vários tipos de vilões, desde piratas galáticos até múmias espaciais e, é claro, o maligno Dr. Gori (que nesses quadrinhos não tinha o cabelo loiro e sim escuro!). Colecionei esse quadrinho e me arrependo de não ter guardado a minha coleção.
Vale destacar uma curiosidade muito bacana, o ator Tetsuo Narikawa, o intérprete de Kenji, a identidade humana de Spectreman (falecido em 1º de janeiro de 2010), era um grande mestre de karatê, sendo o fundador e presidente da Liga Nacional Japonesa de Karatê. Outro grande barato era o nome japonês da série. Nos primeiros 20 episódios, ele se chamava “Uchuu Enjin Gori” ou “Simiano Espacial Gori” em português, em alusão ao vilão do seriado, Dr. Gori, um macacão que lembra os macacos do clássico filme “Planeta dos Macacos”, de 1971. Apenas no episódio 20 o nome do herói entrou no título, que fica “Uchuu Enjin Gori versus Spectreman”.
Para sempre guardado na minha memória afetiva, Spectreman é uma das coisas mais divertidas que vi na minha infância. Embora simplório, ou tosco no melhor sentido da palavra, era um herói japonês que só queria proteger o planeta contra monstros.