Das lembranças da minha in-fância, as que sempre me vêm à cabeça com muita saudade, eram as manhãs de domingo quando meu avô colocava na vitrola os discos do Nelson Gonçalves de que ele gostava tanto. Com 10 anos de idade eu ainda não sacava bem de quem era aquele vozeirão, mas adorava a música “Naquela Mesa”, composta por Sérgio Bittencourt, em homenagem ao pai Jacob do Bandolim, que ficou imortalizada na voz do Nelsão.
Na época eu estava apaixonado por um rock alemão chamado “Ich Schau Dich An”, da banda Spider Murphy Gang, que tocava à exaustão nas estações de rádio, e obviamente só queria saber de “rocks”. Passados muitos anos, cá estou escrevendo esta homenagem a Nelson Gonçalves, cujo nascimento completou 101 anos no último domingo (21), e sabe o que aprendi me tornando fã dele? Ele teve uma vida mais rock’n’roll que muito roqueiro por aí! O “Rei da Boemia” viveu altos e baixos em seus 79 anos de existência e quase 60 de carreira. Foi de aspirante a cantor com difi-culdade para emplacar enquanto se virava em vários ofícios, entre eles o de garçom, ao maior vendedor de discos de seu tempo.
Passando pelo sucesso e pelos vícios em álcool e drogas que o levaram a perder fortunas. Só para ter uma ideia nos anos 1940 e 1950, Nelson foi o artista mais popular do Brasil, e gravava pela RCA Victor, que depois passou a ser a BMG. Era a mesma gravadora do Elvis e do Frank Sinatra. Quando a gravadora achava que o samba-canção representado pelo Nelson já havia morrido, estava em declínio, ele se associa ao compo-sitor Adelino Moreira e lança “A Volta do Boêmio”, e vende milhões de cópias.
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