Há 101 anos nascia Charles Bukowski, o poeta dos esquecidos

Todo mundo tem seus escritores favoritos. O meu era o romancista, contista, poeta, que também fez algumas participações no universo do cinema. Charles Bukowski nasceu no dia 16 de agosto de 1920, em Andernach, Alemanha, mas mudou-se para Los Angeles com os pais ainda pequeno. Iniciou o Curso de Jornalismo em 1939 e logo começou a escrever. 

Em virtude do conteúdo de suas poesias e contos, seu pai expulsou-o de casa. Pulava de emprego em emprego, aliás o trabalho que mais exerceu na vida, além de escritor, foi o de carteiro. Bukowski bebia em excesso e escrevia enlouquecidamente. Sua escrita, a responsável por ter sido colocado para fora de casa, foi marcada por três características: teor autobiográfico, a simplicidade e o ambiente marginal onde eram vividas as suas histórias.

Em suas influências podem-se destacar Fiódor Dostoiévski, pelo pessimismo, e Ernest Hemingway, pelas frases curtas, jeito simples de escrever, e até Henry Miller, porém a figura mais evidente, presente no estilo literário de Buk, é John Fante, romancista estadunidense, contista e roteirista de ascendência italiana.

Fante ficou conhecido pelo belo trabalho “Pergunte ao Pó”, um romance semi autobiográfico ambientado na década de 1930, que conta a história do aspirante a escritor Arturo Bandini. Bukowski também tinha um personagem cativo em seus textos chamado Henry Chinaski. Se você, caro leitor, não conhece John Fante, procure ler “Pergunte ao Pó” ou “Sonhos de Bunker Hill”, ambos são ótimas dicas para entrar nesse universo literário.

Voltando ao velho Bukowski, temas como sexo, alcoolismo, ressacas, jogatinas eram abundantes em suas obras e personagens marginais faziam parte da fauna que habitava seus textos. Tais aspectos não apareciam em formas tradicionais do verso. De estilo livre, coloquial, sem preocupações estruturais, o autor representava o seu cotidiano em sua escrita, e tradição nunca foi o forte de Bukowski. Antissocial e obsceno, Charles teve uma vida regada a empregos precários, bebedeiras e mulheres. Mesmo neste cotidiano caótico, ao longo de sua vida, publicou 45 livros de poesia e prosa. 

Houve quem afirmasse que Bukowski pertencera à “Geração Beat” (termo usado tanto para descrever um grupo de norte-americanos, principalmente escritores e poetas, que vieram a se tornar conhecidos no fim da década de 1950 e no começo da década de 1960, quanto ao fenômeno cultural que eles inspiraram, posteriormente chamados ou confundidos aos beatniks, nome este de origem controversa, considerado por muitos um termo pejorativo e que tinha em seu rol de autores Jack Kerouac, William S. Burroughs e Allen Ginsberg), porém Charles Bukowski odiava esse rótulo.

Em 1987, Bukowski virou tema de filme. “Barfly – Condenados Pelo Vício”, que estreou no cinema estrelado pelo então galã Mickey Rourke e por Faye Dunaway como protagonistas. O longa conta a história de Chinaski (alter ego de Bukowski), um promissor escritor que vive se embebedando e entrando em brigas. O autor ainda acabou inspirando uma dezena de filmes. Falando em celebridades, Bukowski era de poucos amigos. Sean Penn e Bono Vox fizeram parte deste seleto grupo.

A verdade é que Charles Bukowski era amado por uns e odiado por muitos, mas é importante salientar que, ele deu visibilidade ao submundo e aos esquecidos. Os heróis de suas obras eram aqueles que venciam lutas de bar, que passavam dias sem comer, que dormiam na praça e na sarjeta. Assim como a vida do autor, o enredo de seus personagens findou-se exatamente em Los Angeles, lugar que ele adotou como cidade natal pela paixão à vida boêmia. Lutador até o fim, em 1994, Bukowski não conseguiu esquivar-se da leucemia. Morreu aos 73 anos de idade, pouco depois de finalizar a obra “Pulp”.

Em seu túmulo, o desenho de um boxeador com as mãos em punho, feito pelo próprio Bukowski, e a expressão “Try It”, em bom português “tente”, deixam bem claro que o “Velho Safado”, como ele era conhecido, morreu sem baixar a guarda. Buk faria 101 anos no último domingo.

(Marcelo Rezende)

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