Exposição “Viscerália” propõe Exposição “Viscerália” propõe mergulho na carne e no espírito na Galeria de Vidro espírito na Galeria de Vidro

Fotos: Arquivo do artista
Fotos: Arquivo do artista

Mostra do artista campo-grandense Ryan Paès revela a força simbólica da carne e propõe um olhar visceral sobre a condição humana

A carne como corpo, rito e espelho da existência. É nesse território simbólico e sensorial que o artista Ryan Paès apresenta “Viscerália”, exposição que inaugura no dia 13 de novembro, às 19h, na Galeria de Vidro, em Campo Grande, com curadoria de Sara Welter. A mostra propõe um mergulho profundo nas nuances da carne, matéria viva, contraditória e fascinante, que se desdobra em cores, cortes e gestos que transitam entre o belo e o grotesco, o sagrado e o banal.

“Passei a ver carnes em todos os lugares, outdoors, propagandas digitais, ‘sexta da carne’. Foi ali que o tema me atravessou pela primeira vez, em 2022, e tornou-se o eixo da minha pesquisa”, relembra o artista. “A carne como espelho da vida, sua realeza, beleza crua e violência silenciosa.”

Ryan explica que a ideia nasceu de um incômodo e de um fascínio por espaços como açougues, lugares que, segundo ele, “guardam contradições” e se tornaram um tipo de altar cotidiano. “A concepção da carne me atravessa como matéria simbólica antes de ser imagem. O açougue, para mim, é um espaço que guarda contradições, torna-se um altar onde se celebra a vida, o corpo e ao mesmo tempo a morte. Então como dizer que esse fascínio vem, também, da ambiguidade: o manejo, o gesto do corte, o preparo é um ritual cotidiano, no fim, esquecemos a origem daqueles volumes, descorporificamos, dessacralizamos”, afirma.

O artista descreve o ato de pintar como um ritual que recria essa tensão. “Busco uma tentativa de reencenar essa tensão entre o sagrado e o brutal, preso pelo reencantamento da carne. Pinto como quem manipula um corpo: esgarço, sobreponho camadas, deixo a carne vibrar na cor, sempre viva e salubre. Então, querendo ou não, o desconforto se torna estrutura pictórica, ele organiza o gesto. É nesse ponto que a imagem se transforma em ritual — não de exibição da dor, nem de crítica ao seu consumo, mas de escuta daquilo que pulsa por baixo dela. Que vive e que nutre.”

Foto: Arquivo do artista

Para Paès, viver no Centro-Oeste foi essencial para a formação desse olhar. “Este território é um ponto de partida inevitável. Viver no Centro-Oeste é conviver com a carne em múltiplos sentidos — ela está nas feiras, nos frigoríficos, nas conversas, na paisagem urbana e até no repertório cultural. É matéria econômica, mas também imaginária”, reflete. “Nessa expo, eu parto do cotidiano, sem julgamento e moralismo, mas com curiosidade, o que acontece quando essa carne, tão presente, tão banal, tão vermelha, atravessa o campo sensível da arte? Me coloco junto, acredito que o território me atravessa pela experiência encarnada, sensorial. O calor, o sangue, a terra vermelha, o espetáculo das matanças rurais acabam se transformando em cor, textura e gesto. Tudo se infiltra, se histeriza na pintura como memória do corpo e da nossa paisagem inconsciente.”

Em “Viscerália”, o ato de pintar é também o de se confrontar. “Pintá-las, de certo modo, é lidar com aquilo que há de mais íntimo e exposto em mim. É também um gesto de confronto: atravessar a própria matéria, reconhecer o limite entre o corpo e o espírito. Existe dor, mas também vida, como se o ato pictórico reorganizasse o que antes era apenas um ruído interno. Então vejo como um processo de cura, mas não no sentido de apagar a ferida e sim de torná-la visível, também digna de existência.”

A mostra convida o público a vivenciar o desconforto, encarando o que há de fascinante e repulsivo na carne e no humano. “Mais do que uma reação estética, quero que a obra seja aberta e se complete no outro. No geral, espero provocar um deslocamento. Quero que o espectador se sinta convocado a olhar para o que normalmente se evita, essa matéria viva, o corpo que somos e o corpo que consumimos”, explica Ryan. “Há beleza na carne, na nossa cultura, mas há também brutalidade, e é nesse atrito que mora a potência das obras. Se o público sair do espaço sentindo-se afetado, dividido entre a atração e a repulsa, no lugar do incômodo, acredito que a pintura terá cumprido sua função inicial.”

A curadora Sara Welter ressalta que “Viscerália” provoca o espectador a confrontar o próprio desconforto diante da carne aberta, entendendo-a para além da matéria. “Explora o simbolismo na dualidade entre desejo e repulsa, o sagrado e o banal”, define.

A vernissage contará com coquetel, apresentações performáticas e poesias, abrindo ao público uma experiência sensorial e simbólica sobre a vida e a carne, aquilo que pulsa em cada um de nós.

Serviço: A exposição “Viscerália”, de Ryan Paès, será inaugurada com um Vernissage nesta quinta-feira (13), às 19h, na Galeria de Vidro, na Plataforma Cultural, rua Calógeras, 3015, Campo Grande. Todas as peças estarão à venda e mais informações poderão ser obtidas no instagram no artista, @ryanpaes.art

 

Por Carolina Rampi

 

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