Exposição ‘Passeio da Alma’ segue no MIS até dia 31

Foto: Allan Gabriel/Divulgação
Foto: Allan Gabriel/Divulgação

Artista traz para as telas cores, esperança e resistência de uma vida dividida entre o Direito e a Arte em mostra no MIS

No meio das cores fortes, entre o amarelo, azul e vermelho, nasce a arte de Amanda Monteiro, que por meio de pinceladas, transforma momentos de sombras em luz, com a exposição ‘Passeio da Alma’, disponível no MIS (Museus da Imagem e do Som) em Campo Grande, que segue aberta até o dia 31 de outubro.

A trajetória da artista visual Amanda Monteiro é uma dessas narrativas que se confundem com a própria essência da criação artística: resistência, fé, resiliência e beleza. Sua exposição é mais do que uma mostra de telas, é um convite para que cada visitante percorra um passeio da alma, expressão usada pela própria artista para definir a experiência.

Da lei para a arte

Amanda trilhou sua vida ao longo de duas paixões: o Direito e a Arte. Formada em Artes Visuais no início da década de 1980, na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e com pós-graduação em cerâmica, realizada na Espanha, Amanda também se dedicou ao Direito, após ficar viúva aos 26 anos. “Eu nunca deixei de fazer arte, então é um retorno à minha vocação inicial. Agora, aposentada do Direito, posso exercer meu trabalho com as artes plásticas quase que exclusivamente”, afirma.

Hoje, com quase 70 anos, ela celebra uma nova fase: a de viver para a arte. Para o Jornal O Estado, ela revela seus sentimentos de como é revisitar a artista que sempre existiu dentro de si, só que agora de forma plena e total. “É como se eu estivesse voltando pra casa, para o lugar sempre sonhado! Então sou muito grata por esse dia ter chegado”.

A pandemia de Covid-19 marcou esse renascimento. Depois de um ano para se recuperar das sequelas da doença, Amanda encontrou no processo criativo a maneira mais autêntica de sublimar a dor. “Com muita fé e gratidão superei as sequelas da Covid transmutando esse período sombrio num convite à esperança e à ânsia de expressar as cores da vida com alegria e luminosidade, onde cada pincelada nos remete a um caminho onírico por onde a alma passeia entre contrastes e harmonias cromáticas”, explica.

Cores e traços: Entre o amarelo, azul e vermelho, nasce a obra da artista visual Amanda Monteiro – Foto: Allan Gabriel/Divulgação

Paleta

As cores, para ela, são mais do que escolha estética: são vocação. “As cores são um fascínio na minha vida desde sempre”, confidencia. É essa explosão cromática que dá forma às telas expostas no MIS, onde a teoria das cores se apresenta de forma acessível e lúdica. “O público pode constatar que a perseverança e o propósito levam ao caminho sempre sonhado”, acrescenta.

Apesar de já ter participado de exposições no Brasil e no exterior, como em 1992, quando recebeu uma menção honrosa em uma mostra na Argentina em comemoração aos 500 anos do descobrimento das Américas, esta é a sua primeira exposição individual. E isso faz toda a diferença: “Conto uma história através das telas que pertence a um contexto próprio, não se dilui com o trabalho de outros participantes”, diz.

Recepção

O público, aliás, tem respondido de maneira emocionada. Mais de 500 pessoas já visitaram a mostra, e cada relato é um presente para Amanda. Ela lembra especialmente do encontro com um visitante. “Um senhor chamado João me chamou para explicar o que achou de uma tela. Ele me disse que estava comovido porque quando era militar havia participado de uma missão no Haiti. Aquela tela o transportou de volta a esse período da vida dele. Eu fiquei muito tocada”.

Outra tela, intitulada “Chuva Rica”, também despertou forte emoção em visitantes que viram na obra a materialização da esperança. Professores da rede municipal, que participaram de atividades educativas ligadas à exposição, destacaram o impacto das cores e sua importância no desenvolvimento sensorial e criativo das crianças.

“É muito gratificante um retorno sensível! Em uma das obras o motivo pintado tem um contexto expressado por mim mas um visitante enxergou outra coisa. Daí foi maravilhoso colocar para o público a questão sobre o que estavam realmente enxergando. Foi mágico!”.

Arte na infância

Esse viés educativo é, para Amanda, fundamental. “As crianças começam a ter contato com processos criativos capazes de despertar e desenvolver suas habilidades sensoriais. É um mundo novo para elas”, afirma. Ela tem acompanhado de perto essas visitas, conduzindo grupos escolares e compartilhando sua experiência como forma de inspirar futuras gerações.

“Penso que as experiências vividas vão recheando as gavetinhas dos pequenos, especialmente porque as crianças são um papel em branco e é responsabilidade de nós adultos orientá- las para um futuro saudável”, explica.

“A arte nesse contexto é muito importante para que as crianças desenvolvam seus próprios processos criativos e tenham mais possibilidades de escolha na vida. Para mim, como artista plástica, é especialmente uma grande satisfação poder transmitir o pouco que sei e ver a diferença que resulta num olhar infantil”, complementa.

Há, na exposição, uma mensagem que se insinua em cada tela: a capacidade do ser humano de transformar momentos sombrios em epifanias. “Esse conceito se materializa nas próprias obras. É um conceito abstrato que se torna palpável quando se observam as pinturas expostas”, explica.

De fé e gratidão, Amanda construiu o alicerce desse novo ciclo. “O que posso dizer com toda a certeza é que sem Deus não somos nada. Então sou muito grata pela vida que me tocou e pelo caminho de superação que Deus me proporcionou. Esse novo ciclo me oferece a oportunidade de compartilhar a minha arte e transmitir uma mensagem de esperança para todos”, afirma.

Aos quase 70 anos, Amanda olha para a frente. Sonha em participar de novas mostras e, sobretudo, em ensinar. “Com essa experiência acadêmica bastante consolidada, o que eu quero é transmitir o que eu sei para as gerações futuras. Não tem maior satisfação do que ensinar alguma habilidade que tu tenhas em especial. Isso é muito gratificante. Espero ser abençoada com essa graça”, diz.

Serviço: A exposição de Amanda Monteiro segue aberta ao público até o dia 31 de outubro, no Museu da Imagem e do Som (MIS), das 7h30 às 17h30. A visitação é gratuita. O MIS fica na Av. Fernando Corrêa da Costa, 559, Centro, Campo Grande.

 

Por Carolina Rampi

 

 

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