Cartas trocadas durante a ditatura, entre Brasil e Portugal são o mote da obra “Cartas de Além-Mar”, do membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (do Instituto Histórico e Geográfico de MS e atual presidente da União Brasileira de Escritores), Samuel Medeiros, lançado hoje na Galeria de Vidro da Esplanada Ferroviária.
“Eu já imaginava há longo tempo reunir essas cartas e dar formato de publicação, mas nunca tive esse impulso final até que, ano passado, durante uns feriados chuvosos, sozinho em casa resolvi remexer em tudo, separar e digitalizar os textos um a um. Por isso há esse grau de intimidade entre o que foi escrito, e a minha própria pessoa que se identificou mais ainda com aquele tempo”, explica o autor em entrevista ao caderno de Artes&Lazer.
Seguindo exemplos de nomes da literatura, como Clarice Lispector e Fernando Sabino, com “Cartas Perto do Coração”, ou ainda Monteiro Lobato que reuniu cartas escritas em 40 anos entre ele e o escritor Godofredo
Rangel (Cartas de Gleyre), como cita o próprio autor, Samuel destaca que: “um momento importante foi quando eu redigi as cartas que eu teria escrito à época (não guardei nenhuma das minhas)”.
“Sim, a forma que escolhi de fazer literatura me utilizando das cartas foi compensador”, pontua.
Dessa forma, o livro é organizado: primeiro com uma contextualização do período na história, caracterizado pela truculência da ditadura que se impôs no país desde 1964. Há então a trascrição das cartas e redação das em seu nome, até o epílogo de contextualização das amizades que ficaram apenas na memória. Ditaduras lusitana e brasileira, além de cultura e troca de informações, recomendação de livros, além de política internacional são abordados nas conversas entre os amigos que aparecem na publicação.
Um de Lisboa e outro de Coimbra, os amigos mantinham contato epistolar que serviu de base, após ser digitado e editado sem alterar o texto original, para esse serviço histórico à literatura. “Não se trata de um aprendizado, mas de uma experiência nova em resgatar memórias… mas visitar o passado tem seus momentos compensadores desde que eles sirvam para a literatura”, aponta ainda Samuel.
Sobre a livro, contextualizado na cidade de Curitiba, o autor ainda ressalta que: “só faz menção a dados a ela, pois lá conheci essas pessoas e
tivemos momentos importantes juntos, como o compartilhamento de nossos ideais pelas liberdades democráticas. Vivíamos no tempo da Ditadura brasileira e nossa amizade foi sedimentada também no inconformismo com o status quo”.
“E, depois que os amigos se transferiram para Portugal, também viviam a ditadura de Salazar, sempre tínhamos assunto, embora o medo da censura, que violassem nossos escritos”, conta ainda Samuel.
Como mensagem final Samuel pede que, aos leitores, fosse transcrito o trecho de seu livro apontando que: “Grande parte de nossos anseios e esperanças naqueles dias estão nessas cartas nascidas no silêncio das madrugadas, quando nos dividíamos entre o mundo real e os sentimentos, expressando o que não se diria verbalmente e à luz do dia. Nesses momentos me entregava na relação com essas pessoas, e o que escrevia seria algo intimamente ligado ao que ia no coração, talvez mais a extensão do sentimentos que da palavra. Mas o sonho que a realidade”.
Serviço: O livro será lançado hoje (21), às 19h30, disponível para compra na Galeria de Vidro, da Av. Calógeras, 3.141. Informações e contato através do email [email protected].
(Texto: Léo Ribeiro)