Duo Amábile pela Europa: Artistas sul-mato-grossenses levam música autoral clássica para Suiça e França

Fotos: Arquivo pessoal
Fotos: Arquivo pessoal

O Duo Amábile, formado pelos músicos e professores doutores da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), Marcelo Fernandes e Ana Lúcia Gaborim realizaram mais uma série de apresentações na Europa, na Suíça e na França. O recital apresentou ao público a força das poesias sul-mato-grossenses, composições próprias e ritmos da música brasileira.

As apresentações fizeram parte de uma turnê cultural pela Europa, com cinco concertos programados pelos dois países e o duo já se apresentou na Universidade Sorbonne, em Paris, Maison de L’Amérique Latine e Université Paris-Saclay, ontem (5). Anteriormente, Marcelo e Ana Lúcia se apresentaram na Embaixada Brasileira, em Berna, Suíça, em março, e teve a presença de diversos embaixadores representantes da Escola Superior de Belas Artes; Fernandes também realizou recital solo de violão e depois acompanhado por Ana Lúcia no Conservatório Superior de Winterthur.

Para o jornal O Estado, Marcelo Fernandes descreveu as apresentações como “uma jornada de muita alegria pessoal e profissional”, destacando a possibilidade de mostrar a arte realizada em Mato Grosso do Sul para o mundo. “Nós podemos experimentar e, sobretudo, mostrar a arte feita no Estado e ver a repercussão em outros países. É um grande experimento, a alegria de quem experimenta uma coisa nova”

Quando se trata da recepção da música brasileira na Europa, especialmente aquela que nasce dos ritmos e da poesia sul-mato-grossense, a impressão é de fascínio, surpresa e encantamento por parte do público estrangeiro.

“Eu vi a reação das pessoas, temos algo especial na música brasileira. Acho que a música clássica brasileira é absolutamente desconhecida do público estrangeiro e até no Brasil”. O desconhecimento, no entanto, abre caminho para o impacto. “É uma tradição enorme, uma tradição centenária. Nós temos música clássica desde o século XVIII”, lembra. Essa herança, quando apresentada ao público europeu, provoca reações inesperadas. “Quando chega nos ouvidos dos europeus, isso assusta um pouco. Assim, no bom sentido. Nossa, como que eu não sabia isso?”
O fascínio se amplia quando elementos regionais, como os ritmos do Chamamé e a canção de câmara, entram em cena. “Eles não acreditam que tenha. Quando chega aqui, ficam fascinados. E algumas coisas que eu trabalho aqui, com canção de câmara, com ritmo de Chabamé, é muito interessante mesmo.”

Parceria na música e na vida

A parceria entre o compositor e violonista e a cantora Ana Lúcia Gaborim é marcada por um processo criativo profundamente colaborativo, que também é levada para a vida, já que os artistas são casados há 30 anos. As obras, muitas vezes, nascem inacabadas de forma proposital, permitindo que Ana Lúcia insira sua personalidade artística desde o início. “Eu escrevo já para Ana Lúcia poder colocar pedaço da personalidade dela no que vai ser o produto final”, explica.

Diferente do modelo tradicional de gravação em estúdio, o processo na música clássica começa com a partitura — que o artista compara a uma “planta de prédio” ou “receita de bolo”. No entanto, essa partitura inicial vem menos detalhada propositalmente. “A gente constroi mais da música juntos e depois eu faço uma versão final depois de experimentar muito”, conta.

Essa experimentação conjunta inclui desde questões fonéticas do texto até sua relação com a estrutura musical. “Ela tem muita participação nas obras, nesse sentido da experimentação, de dizer o que funciona, o que não funciona.”

A organizadora das apresentações do Duo Amábile na França foi a escritora Mazé Torquato Chotil. “Aproveitei a passagem do Duo pela Suíça para apresentá-lo em Paris, na Maison de l’Amérique Latine e na Universidade Sorbonne Nouvelle, dentro da programação do Printemps brésilien, que celebra o Ano do Brasil na França. Foi um prazer organizar esses eventos em parceria com as duas instituições, com a participação do Institut Franco-Brésilien Alter’brasilis”, relatou ao jornal O Estado.

A sul-mato-grossense há três anos se divide entre Paris, São Paulo e Mato Grosso do Sul, e se dedica a divulgar a cultura de MS no país.

“Os franceses conhecem bem o Rio de Janeiro, São Paulo e a Bahia, mas o Mato Grosso do Sul é praticamente desconhecido. Já organizei por aqui, junto com Henrique de Medeiros, da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, um evento para apresentar a cultura do nosso estado. Fico feliz em poder compartilhá-la com os franceses — e, desta vez, por meio do Duo Amábile”, explica.
Ela ressalta que o público francês é naturalmente engajado com a música, tendo em sua maioria o conhecimento de pelo menos um instrumento, o que enalteceu a apreciação pelas apresentações do Duo.

“Em Paris, cada um dos 20 bairros conta com pelo menos um conservatório, o que demonstra a presença de uma verdadeira cultura musical e uma curiosidade constante em descobrir a música de outros países. Foi nesse espírito que o público recebeu com entusiasmo o Duo Amábile: os aplausos refletiram não só o prazer proporcionado pela apresentação, mas também o reconhecimento pela qualidade técnica dos dois artistas, algo que chamou particularmente a atenção”.

De MS à Europa Marcelo Fernandes e Ana Lúcia Gaborim levam à Europa a força da poesia e da música brasileira – Foto: Arquivo Pessoal

 

Futuro

Os próximos passos do Duo Amabile estão repletos de expectativas e projetos em andamento. Entre as prioridades, está a estreia de um conjunto de canções que foram escritas especialmente para o duo e que ainda não foram apresentadas ao público. “Nós temos uma série de canções que foi escrita pra nós que nós temos que estrear”, afirma o músico.

Além das estreias, a dupla também se prepara para registrar esse momento criativo em estúdio. “Temos que gravar um álbum, temos esse interesse agora próximo”, comenta, destacando que a gravação se tornou uma meta concreta. Ao mesmo tempo, seguem em processo de consolidação do repertório, que reúne obras autorais e de outros compositores. “Temos esse caminho pra andar”, diz.

Um dos pilares do projeto, no entanto, vai além da performance a dois: o duo se propõe a ser um espaço aberto para colaborações artísticas. “Sobretudo queremos que seja um duo inclusivo. Como é isso? Que a gente possa ter convidados, músicos que venham, cantores que venham participar conosco”, explica.

Essa proposta já se concretizou em diferentes momentos. Em Portugal, o duo contou com a participação de uma cantora soprano portuguesa, Inez Araujo. No Brasil, artistas como Luciana Fischer, Tio Joel Mendes e Luiz Said também somaram suas vozes e instrumentos às apresentações. “São pessoas que, de alguma forma, contribuíram para essa história do Amábile”, completa.

Com esse espírito de colaboração e construção coletiva, o duo segue em frente, olhando para o futuro com os pés fincados em sua essência: a criação compartilhada e o diálogo musical constante. “O futuro é esse, consolidar repertório e ter parceiros assim”, conclui.

 

Por Amanda Ferreira e Carolina Rampi

 

Confira as redes sociais do Estado Online no Facebook Instagram

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *