Estalos na mandíbula e dores ao mastigar podem ser sinais de Disfunção Temporomandibular, condição que afeta a articulação da boca e impacta a qualidade de vida
Dor ao abrir a boca, estalos na articulação da mandíbula ou até dores de cabeça frequentes são sinais que podem passar despercebidos no dia a dia, mas que merecem atenção. Esses sintomas podem estar relacionados à DTM (Disfunção Temporomandibular), um problema que afeta a ATM (articulação temporomandibular), responsável por conectar o maxilar ao crânio e os músculos da mastigação.
Apesar de muitas vezes ser confundida com tensão muscular ou estresse, a DTM é uma condição comum e que pode impactar significativamente a qualidade de vida. Os sintomas variam desde dores faciais e dificuldade para mastigar até travamentos na mandíbula e sensação de pressão nos ouvidos. O incômodo tende a se intensificar com o uso frequente da musculatura facial, mesmo em atividades rotineiras como falar ou mastigar.
A disfunção pode ser causada por diversos fatores, como bruxismo, má oclusão dentária, traumas na mandíbula ou hábitos repetitivos que sobrecarregam a região. Quando não tratada, pode evoluir e tornar tarefas simples em grandes desafios. Por isso, o diagnóstico precoce e o acompanhamento profissional são fundamentais para o controle e alívio dos sintomas.

A especialista A dentista Juliana Grando Valler é especialista em Disfunção Temporomandibular e responsável técnica da clínica OdontoNutri – Foto: Nilson Figueiredo
Diferenças
Referente a esses problemas, a dentista Juliana Grando Valler, especialista em Disfunção Temporomandibular e responsável técnica da clínica OdontoNutri, localizada na R. Rio Grande do Sul, 1754, Vila Gomes, conversou com a reportagem do Jornal O Estado para esclarecer as causas e manifestações da DTM. Segundo ela, a condição pode ser classificada em duas categorias principais: DTM muscular e DTM articular, cada uma com sintomas e tratamentos distintos.
“Essa disfunção temporomandibular pode ser de origem muscular ou articular. Quando é muscular, o paciente geralmente relata cansaço, dor difusa e dificuldades para abrir ou fechar a boca. Muitos chegam até nós com travamento mandibular e incapacidade de mastigar alimentos básicos, o que compromete diretamente a qualidade de vida”, explica a especialista. Segundo ela, esse tipo de DTM está frequentemente associado à tensão muscular excessiva, bruxismo ou hábitos parafuncionais, como roer unhas ou morder objetos.
Já no caso da DTM articular, a dor costuma ser mais localizada, especialmente na frente do ouvido, e pode vir acompanhada de estalos, rangidos ou até sensação de areia na articulação ao movimentar a mandíbula.
“Quando o paciente apresenta barulhos na ATM, isso já indica um deslocamento do disco articular, uma estrutura que funciona como amortecedor entre a cabeça da mandíbula e a base do crânio. Dependendo da gravidade, a boca pode travar aberta ou fechada, exigindo intervenção imediata”, explica Dra. Juliana.
A avaliação clínica é o primeiro passo fundamental para identificar a origem exata da DTM e definir o tratamento mais adequado. De acordo com a dentista Juliana Grando Valler, as opções terapêuticas vão desde o uso de placas de mordida e fisioterapia até técnicas mais avançadas, como a viscossuplementação e o IPRF. “Em casos mais graves, pode-se chegar a indicar cirurgia, mas essa é sempre a última alternativa. Na verdade, somos contra a cirurgia como primeira opção”, ressalta.
Segundo a especialista, quanto mais precoce o diagnóstico, maior a chance de sucesso com métodos minimamente invasivos, que preservam a estrutura da articulação e evitam complicações futuras.A conscientização sobre a DTM e a busca por atendimento especializado são, portanto, fundamentais para garantir qualidade de vida e preservar a saúde bucal e funcional dos pacientes.
Outros fatores de risco

Foto: Nilson Figueiredo
Além da predisposição genética, a DTM também pode ser desencadeada por traumas físicos e hábitos aparentemente inofensivos, mas que ao longo do tempo causam sobrecarga na articulação. A dentista destaca que quedas na infância, acidentes e impactos na região da mandíbula podem iniciar um processo degenerativo.
“Tenho pacientes músicos que marcavam o ritmo da música tocando os dentes, um hábito repetitivo que causou trauma direto na ATM. Com o tempo, isso evoluiu para um quadro degenerativo, que infelizmente não tem cura, apenas controle”, explica.
Outro vilão comum é o bruxismo, tanto o noturno quanto o chamado bruxismo de vigília, que ocorre quando a pessoa está acordada, geralmente durante momentos de concentração ou estresse. “Hoje, a maioria das pessoas apresenta o bruxismo de vigília. Nem sempre há o toque entre os dentes, mas a contração muscular contínua já é suficiente para gerar sobrecarga na ATM”, alerta a Dra. Juliana. Esse tipo de esforço inconsciente pode agravar ou até iniciar uma DTM.
Tratamento
Por ser uma condição que pode gerar sintomas diversos, como dor de ouvido, zumbido e dores de cabeça, o tratamento muitas vezes envolve uma equipe multidisciplinar. A Dra. Juliana também reforça que a disfunção não afeta diretamente a voz, como alguns pensam, mas impacta a biomecânica da mastigação e fala.
“A pessoa sente dor perto do ouvido e acha que é problema de audição, mas na verdade é a DTM. Ela pode até limitar a abertura da boca a ponto de o paciente não conseguir mais fechar sozinho, e nesses casos, é necessário realizar manobras clínicas para destravar. O problema é quando o paciente demora para buscar ajuda, não sabe a quem recorrer, e os travamentos se tornam cada vez mais frequentes. O ideal é procurar um especialista em dor orofacial e disfunção temporomandibular o quanto antes”.
O tratamento da DTM exige diagnóstico preciso e abordagem personalizada. O IPRF (Injetável de Plasma Rico em Fibrina), por exemplo, é obtido a partir do próprio sangue do paciente e contém fatores de crescimento que auxiliam na regeneração da articulação. Já a viscossuplementação utiliza substâncias que ajudam a lubrificar a ATM, melhorando a mobilidade e reduzindo a dor.
“Fazemos uma avaliação completa para entender a origem da disfunção. Dependendo do caso, podemos entrar com medicação, fisioterapia, placa estabilizadora para aliviar a compressão na articulação, e, nos casos articulares mais avançados, utilizamos técnicas como a viscossuplementação ou o IPRF”, explica.

Foto: Nilson Figueiredo
Acompanhamento
O tratamento da DTM não termina com a saída da crise, ele exige acompanhamento regular, principalmente nos casos de origem articular. A dentista Juliana reforça que o controle da condição é fundamental para evitar a progressão da doença degenerativa, como a osteoartrite ou osteoartrose. “Depois da fase aguda, o paciente geralmente passa a usar uma placa estabilizadora e é acompanhado de forma gradual: mensalmente, depois trimestralmente, até que o controle permita consultas semestrais ou anuais”, explica.
O controle emocional também desempenha um papel crucial, já que o estresse e a ansiedade estão diretamente ligados ao aumento de sintomas como apertamento, dor e travamento da mandíbula.Mulheres são mais acometidas pela DTM, segundo a especialista, devido a fatores hormonais, genéticos e emocionais. Por isso, a anamnese, aquela primeira conversa clínica detalhada, é fundamental.
“Leva até duas horas, porque preciso entender o paciente como um todo. Não é só tratar a ATM, é entender a causa da dor”, destaca. O tratamento pode incluir protocolos como a viscossuplementação com ácido hialurônico ou o uso do IPRF, com resultados expressivos na regeneração e melhora da biomecânica articular. O mais importante, segundo Dra. Juliana, é o diagnóstico precoce.
“Às vezes o paciente chega achando que é só um estalinho, e quando vemos na imagem, há uma grande degeneração. Com o tratamento certo, conseguimos devolver a qualidade de vida e evitar que esse problema silencioso se torne incapacitante”, finaliza.
Serviço: A clínica OdontoNutri oferece avaliação e tratamento para DTM (Disfunção Temporomandibular). Localizada na Rua Rio Grande do Sul, 1754, Vila Gomes, o agendamento pode ser feito pelo WhatsApp: (67) 9855-9046. O diagnóstico precoce é fundamental para evitar a piora dos sintomas.
Amanda Ferreira