Documentário mostra combate às queimadas na região pantaneira

Em meio a um ano conturbado, marcado pela pandemia da COVID-19, todo o Pantanal passou por um choque, o maior incêndio da história. 2020 foi o ano em que a maior planície alagável do mundo pegou fogo de um jeito nunca visto anteriormente. Em busca de documentar a vivência da linha de frente de combate ao fogo, os amigos Giulliano Gondim e Alexis Prappas foram até a Serra do Amolar e viram de perto o trabalho dos brigadistas e a queimada que marcou o bioma.
O documentário foi disponibilizado nas redes sociais dos dois amigos.

O documentário que leva o nome da serra, “Amolar”, mostra o trabalho realizado pelos brigadistas e pelos institutos e órgãos, como o IHP (Instituto Homem Pantaneiro), que fazem o trabalho de manutenção da fauna e flora local. Além disso, mostraram o trabalho dos veterinários e voluntários que salvaram diversos animais que sofriam com os efeitos do fogo.

Entre os relatos, os agentes combatentes dos incêndios explicam os fatores que podem ter contribuído para que as queimadas ganhassem tamanha proporção. A primeira foi a falta da tradicional cheia na planície. Nos últimos 50 anos, aumentou a quantidade de resíduos orgânicos existentes no solo. Um possível descuido da população com fogo ou até mesmo a ação natural do sol sobre algumas superfícies podem ter contribuído para o início do fogo, que se alastrou muito rápido.

Giulliano, produtor audiovisual, revela que a iniciativa surgiu ao acompanhar as notícias. Segundo ele, todo o período de pré-produção foi feito um pouco “às cegas”. Apesar de existir a vontade de registrar esse momento, para se ter acesso à área é complicado, mas, ao entrar em contato com alguns amigos que atuaram de forma ativa no combate aos incêndios, ele contra que encontrou auxílio para chegar até a linha de frente.

“Ao chegar em Corumbá, nós entramos em contato com o coronel Rabelo (diretor do IHP) e ele foi muito solícito e disse que ia nos ajudar a chegar até lá. Nós passamos quatro dias lá e acompanhamos todo o trabalho que foi feito e, com isso, conseguimos produzir todas as imagens, entrevistas para contextualizar o material”, pontuou.

Com esse apoio, a dupla conseguiu chegar até o “olho do furacão” e acompanhar todo o trabalho dos brigadistas da linha de frente. Para evitar o fogo, as equipes precisam utilizar um equipamento mais pesado e roupas mais resistentes ao fogo, o que eleva a temperatura, em um local que já está muito quente pelas chamas.

“A resistência que aqueles homens precisam ter é incrível. Tiveram aqueles voluntários que vieram do Paraná, que passaram pela adaptação do calor de Corumbá e ainda enfrentar o fogo, não é algo fácil. Os próprios brigadistas relataram que a região dificulta o combate, pois é o clima de deserto com o sobe e desce de morraria e a mata muito fechada”, destacou.

O trabalho das equipes esteve voltado não só em extinguir o fogo para evitar maiores danos a região, aos moradores, mas também para criar uma rota de fuga para os animais. A ação preventiva buscava criar corredores para que a fauna nativa pudesse buscar abrigo de forma segura, em locais preservados. No documentário, é possível ver famílias de macaquinhos utilizando a rota.

Além desse auxílio para a fuga natural dos bichos, o documentário mostra o resgate dos animais que foram afetados pelo fogo. O trabalho dos voluntários era o de prestar socorro, pois eram animais desorientados por inalar muita fumaça, feridos com queimadas provocadas pelo fogo, desde onças-pintadas, tucanos, porcos espinhos… muitos ganharam uma segunda chance ao serem resgatados.

Para Prappas, que é fotógrafo, os quatro dias em que passaram na região foram inesquecíveis. Durante todo o dia, era possível presenciar a queda da fuligem do céu, que chegou a lembrar até mesmo neve.

“Para nós que conhecemos a região, foi uma cena muito chocante, chegar e dar de cara com tudo muito seco, toda aquela área que todo ano é alagado, com o solo rachado pela falta de água. Acompanhar o trabalho do pessoal, que está lá dando o melhor de si para salvar o Pantanal, desperta aquele sentimento de querer fazer a diferença”, contou.

Apesar de todo o trabalho de contenção ao fogo, apenas a natureza pôde salvar a natureza. “Os brigadistas atuam com essa realidade de evitar que as chamas alcancem as casas dos ribeirinhos e afetem ainda mais os animais. No fim, apesar de toda a dedicação da linha de frente, apenas a chegada das chuvas aplacou o fogo e só a natureza foi capaz de salvar todo o Pantanal”, disse.

Prappas revela que, mesmo sob o sol quente, com as chamas se espalhando ao redor, o Pantanal ainda vive e quando se olha bem de perto, mesmo sob o solo rachado e seco, o verde ressurge entre as frestas. “É incrível o poder de reconstrução que existe no bioma, mesmo diante de tanta adversidade, ele já trabalhava para se reerguer e voltar a ser o local majestoso de antes”, concluiu.

Todo o documentário foi desenvolvido de forma autoral pela dupla, mas alguns amigos ajudaram para que o resultado final fosse alcançado, entre eles o editor Gladson Beda, o colorista Victor Gargaro, e o produtor Waity Pissinati, responsável pela trilha.

Serviço: O documentário pode ser conferido na íntegra do perfil do Instagram de Giulliano, buscando por giugondim; ou conferir as fotos produzidas por Prappas no site www.prappas.com.br/amolar.

Texto: Amanda Amorim

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