Neste fim de semana, a multiartista Rose Mendonça estreia o solo de dança “Dobra no Tempo”, uma experiência que mistura movimento e som para despertar a potência do corpo e da presença. As apresentações começaram nesta sexta-feira (12), e no sábado (13), às 16h, na sede da CUFA.
A iniciativa integra o projeto “Corpo-Território”, que promove a democratização do acesso às produções artísticas, dá visibilidade às danças negras e abre espaço para reflexões sobre questões raciais, de gênero e o papel da dança na sociedade contemporânea. Além do solo, o projeto oferece uma oficina de House Dance, fortalecendo o diálogo entre comunidade e arte.
Em “Dobra no Tempo”, Rose Mendonça transforma cada gesto em afirmação e cada som em vibração coletiva, conectando passado e presente em movimentos que resgatam memórias e experiências do corpo. O projeto é realizado com o incentivo da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), por meio da Fundação Municipal de Cultura de Campo Grande (FUNDAC) e da Prefeitura Municipal, via Governo Federal e Ministério da Cultura, fortalecendo a memória da arte contemporânea negra na capital sul-mato-grossense.
Nas dobras acontecem a arte

Foto: Kaique Andrade
Com a criação e apresentação do solo ´Dobra no Tempo´ e realização de uma oficina de House Dance, o projeto ´Corpo-Território´ busca democratizar o acesso das produções artísticas para a comunidade e o entorno da Capital; contribuir para a visibilidade das danças negras na cidade; ampliar as discussões e estimular reflexões sobre a dança na sociedade; fortalecer a memória da arte contemporânea negra local e oportunizar um espaço seguro para debates acerca das questões raciais e de gênero.
“Esse trabalho me faz repensar a minha dança e a escrita-memória-corpo desse corpo sul-mato-grossense que dança. É uma criação atravessada pelas histórias da minha mãe, da minha avó e da minha bisavó. As referências que construímos no processo também abriram camadas de mim mesma e das forças que movem aquilo que eu danço”, afirma Rose Mendonça para a reportagem.
O solo aprofunda a intensidade e o fluxo da música House em diálogo com as corporeidades das danças afro-brasileiras, explorando corpo, espaço e tempo em um jogo de improviso.
A proposta integra passos básicos e complexos da House Dance a elementos rituais que evocam memórias e ancestralidades, transformando a cena em uma experiência sensorial. Essências naturais de ervas ampliam essa vivência, funcionando como portais para acessar lembranças profundas e criar uma ponte entre passado e presente, onde símbolos e histórias se manifestam de forma sinestésica.
“Quando danço esse solo, sinto que a mistura entre a House e as danças afro-brasileiras cria um território vivo, onde minhas memórias ganham corpo. As ervas, os cheiros, tudo isso me ajuda a acessar minhas ancestrais e transformar a dança num ritual de reencontro comigo e com elas. É como se o passado e o presente se dobrassem no tempo, abrindo caminhos para outras camadas de quem sou e do que carrego”, destaca.
Colaborações

Foto: Kaique Andrade
A construção do solo “Dobra no Tempo” contou com a direção artística de Simone Vieira, que orientou a pesquisa e a montagem do espetáculo, promovendo um diálogo sensível entre o House Dance e as Danças Afro-Brasileiras.
Com foco na improvisação e na exploração do corpo como território de memória e resistência, Simone ajudou a traduzir as vivências de Rose Mendonça em gestos e sequências que conectam tradição, contemporaneidade e experimentação, consolidando o solo como um espaço de afirmação e potência da cultura negra local.
“Trabalhar com Rose foi entender que cada movimento precisava carregar história, emoção e presença. Minha função foi orientar a relação entre a energia do House Dance e a ancestralidade das Danças Afro-Brasileiras, criando uma linguagem que fosse, ao mesmo tempo, contemporânea e profundamente conectada às raízes. É um solo que celebra o corpo como território de memória e resistência”, conta Simone.
A dança e a performance assumem um papel central na construção de memórias e na afirmação de identidade. No solo, cada gesto e movimento é pensado como uma extensão do corpo enquanto documento vivo, capaz de conectar passado, presente e território.
A prática performática permite que o público acompanhe uma narrativa corporal que questiona o tempo e o espaço, ao mesmo tempo em que celebra a ancestralidade e a cultura negra, criando um espaço de reflexão e pertencimento.
“Nosso corpo é nosso documento. Assim, quando dançamos, nos movemos em direção à nossa história e nossa identidade. Ao mesmo tempo que a dança nos liberta por nos fazer lembrar de quem realmente somos, ela também nos lembra de onde estamos, do que nos atravessa e nos dá oportunidade de colocar tudo isso em movimento na busca do que queremos”, finaliza Simone.
Por Amanda Ferreira
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