Dia Mundial do Grafitti: Artistas transformam murais de aldeia

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Fotos: Ana Carolina Fonseca

No dia 27, comemora-se o Dia Mundial do Grafitti e ‘O Estado’ conversou com artistas, que estão transformando os murais da aldeia Marçal de Souza

Comemorado no dia 27 de março, o Dia Mundial do Graffiti mostra que a arte urbana, que está presente em vias públicas, muros, fachadas e paredes pela cidade, está ganhando cada vez mais espaço, no Brasil. A data homenageia um dos principais precursores da arte urbana no Brasil, o artista plástico etíope, naturalizado brasileiro, Alex Vallauri, que faleceu em 27 de março de 1987. Alex espalhou seus grafites pela cidade de São Paulo e, mais tarde, em Nova York.

O jornal O Estado conversou com Alice Hellmann e Caio Mendes, dois artistas reconhecidos na cena artística campo-grandense, quando o assunto é muralismo e grafitti. Os artistas se juntaram à comunidade da aldeia urbana Marçal de Souza e ao Memorial da Cultura Indígena de Campo Grande para executar o projeto “Kéxunakoa”, que marca a celebração da herança e cultura dos povos originários do Brasil. Por meio do projeto, os artistas vão transformar dois murais da região.

Alice Hellmann e Caio Mendes possuem histórias semelhantes. “Comecei a pintar aos sete anos, e com dez já carregava um spray de tinta na bicicleta”, conta a artista. Já Caio iniciou sua trajetória ainda criança, mas somente aos 30 anos, ela se tornou sua principal atividade e profissão.

Aos 32 anos, Alice já havia feito aula de pintura em tela e desenho, mas a velocidade do spray sempre a encantou. Ela ainda relembra o primeiro grafiteiro que conheceu: “Na pista de skate que conheci Tofu, ele é o primeiro grafiteiro que tenho lembrança”. Quando entrou na faculdade de Artes Visuais, em 2011, a artista fez sua primeira arte com spray, em seguida se inscreveu em um concurso da prefeitura e, desde então, não parou mais. “Fiquei em terceiro lugar nesse concurso e, depois disso, naturalmente outros trabalhos foram surgindo e nunca mais parei”, descreve.

Para ela, o graffiti é o que a faz se sentir viva. “Expressar em grande formato, em espaços públicos, e transformar ambientes depredados com tinta, revolucionou as possibilidades de aplicação do desenho e pintura”.

Há 20 anos, Caio teve seu primeiro contato com a arte urbana. “Foi uma época em que conheci diversos artistas e consegui aprimorar meu estilo, a partir da técnica do stencil e, com o passar do tempo, fui refinando meu trabalho”, conta o artista, de 36 anos, que hoje é um dos poucos que trabalha com realismo no graffiti, em Campo Grande.

“Pode parecer clichê, mas o graffiti, hoje, é a minha vida. É meu sustento e o sentido de tudo. Ele me aproxima das pessoas”, assim resume Caio, sobre a importância da arte urbana em sua vida. “Por meio do meu trabalho, eu posso tocar o coração de alguém e esse é um sentimento gratificante. Quando presencio uma pessoa contemplando o meu trabalho e/ou relatando algum tipo de emoção, é quando eu compreendo brevemente o papel que a arte tem na vida da sociedade”, complementa.

O Dia Mundial do Graffiti é especial para Caio Mendes e ele explica o motivo: “A data mostra que ele [graffiti] está ganhando cada vez mais espaço dentro da arte e um peso muito grande, além de mostrar a força que o graffiti tem, não só no Brasil, mas no mundo inteiro”, acredita.

Projeto Kéxunakoa 

A dupla de artistas se uniu à população da aldeia urbana Marçal de Souza com o projeto “Kéxunakoa”, que significa “fortalecer a tradição”, para revitalizar dois muros do Memorial da Cultura Indígena, situado na aldeia urbana Marçal de Souza.

O principal mural que será restaurado pelos artistas, na entrada do memorial, tem 40 metros de comprimento, e o segundo, de 10 metros, localizado na entrada da aldeia, será reformado em conjunto com 20 membros da comunidade terena.

Idealizado pela terena Fabriciane Malheiro, em uma roda de conversa com a coordenação do Memorial da Cultura Indígena de Campo Grande, representada por Maria Auxiliadora Bezerra, o projeto marca a celebração da herança e cultura dos povos originários do Brasil, e foi contemplado pelo Fmic (Fundo Municipal de Investimentos Culturais), por meio da Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo). “Nós tínhamos a necessidade de revitalizar o muro, começamos a escrever a ideia, nos juntamos ao Caio e à Alice, e o projeto foi aprovado, após dois anos de espera”, explica a coordenadora.

Durante quatro dias, os artistas ministraram oficinas de arte urbana para a comunidade da aldeia e, a partir da próxima quarta-feira (28), deve ser colocada em prática a revitalização, iniciando pela restauração e pintura dos murais. Na programação das oficinas, a comunidade ainda terá a oportunidade de aprender danças típicas com duas indígenas e confeccionar os trajes dessas danças, que serão apresentadas no dia 14 de abril, quando o projeto será finalizado.

“Foram quatro dias consecutivos de muita troca e aprendizado, com alunos entre quatro e 15 anos de idade. Dá para ver no sorriso deles que tem sido significativo, eles estão atentos a cada aula”, resume Alice sobre as oficinas ministradas.

Segundo Caio, a revitalização do mural principal, de 40 metros, é uma importante representação a ser compreendida e respeitada. “Além da sua extensão, imponência, ele tem uma importância simbólica para toda a comunidade. É uma representação muito importante, para compreendermos e respeitarmos.”

Serviço: Para acompanhar o processo das restaurações e o andamento das oficinas de danças e confecção dos trajes, acesse o perfil do Instagram do projeto: @ projetokexunakoa.

Por Livia Bezerra – Jornal O Estado de MS.

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