Nesta segunda-feira (22) é comemorado o Dia do Cantor Lírico. Muito visto apenas nas telas do cinema, esse é um estilo que possui mais de dez séculos de história, onde sua maior característica é o canto sem o uso de microfone nas apresentações, mais comum em teatros, casamentos, concertos e cerimônias. E mesmo na terra do sertanejo, o Coro Cant’arte é um dos representantes do estilo em Mato Grosso do Sul.
Reunindo um conjunto de talentosos alunos de canto, licenciados em música e amantes da música clássica, o Coro foi fundado em 2007, para integrar a montagem da ópera ‘Cavalleria Rusticana’, de Pietro Mascagni. Em setembro de 2008 o Coro estreou no Teatro Glauce Rocha, marcando assim o início da sua jornada.
“O Coro foi criado para a divulgação da música erudita, da música de concerto. Eu peguei meus alunos de canto a época, para formarmos tanto solistas, quanto o coro”, relembrou a diretora do Cant’arte, Edineide Dias, ao jornal O Estado.
Agora, o Coro é responsável por levar a música erudita a várias partes do Estado: do Festival de Cultura de Ivinhema, Aquidauana, Dourados, Glória de Dourados, Sidrolândia e Corumbá. A acessibilidade também não fica de fora, e o Coro já implementou recursos para deficientes visuais e auditivos em suas performances, como narração em Libras e programas em Braile.
Em 2023 o Coro se uniu a Orquestra Sinfônica de Campo Grande para interpretar a ‘Misa Criola’, de Ariel Ramirez, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Já neste anos, o Coro apresentou o ‘Tributo a Puccini’, concerto em homenagem ao centenário de morte do grande compositor de óperas.
Talento de família
Com apenas 18 anos, a jovem Beatriz Mayumi é a solista mais jovem do Coro Lírico Cant’arte. Em entrevista ao jornal O Estado, ela recorda que desde os quatro anos já gostava de cantar, mas foi aos 12 que teve seu primeiro contato com a música lírica. “Foi por meio da minha tia, ela também era cantora lírica, e fazia apresentações, cantava em almoços e jantares da família. Sempre demonstrei curiosidade, perguntava coisas para ela e também comecei a cantar nos eventos de família, coisas como Adele e músicas pop, mas foi ela que me introduziu a estilo clássico”.
Ainda por meio da tia, Beatriz foi introduzida ao Coro lírico Cant’arte, por volta dos 13 anos. “Fiz um teste para poder entrar e desde então sou a integrante mais nova que tem por lá. Sempre foi muito terapêutico, nunca ninguém forçou nada em mim, sempre foi uma escolha voluntária minha em ir atrás dessa área, olhava a música clássica com olhos diferentes justamente pelo fato das pessoas da minha idade não se interessarem”.
Para a jovem, foi o meio em que ela vivia que a incentivou ainda mais, já que ela acredita que Mato Grosso do Sul não valoriza tanto a área, quanto como os grandes centros como São Paulo, por exemplo.
“Minha família sempre me incentivou muito, eu conheci um amigo que eu me aproximei muito nesse período de escola, que também adorava música clássica, ele ia às minhas apresentações, a gente conversava sobre isso e meio que se apoiava, porque é muito raro encontrar pessoas com 14 anos, por exemplo, que se interessam por esse estilo musical. Então, assim, eu tive muito incentivo e isso foi muito importante para eu continuar estudando, para eu continuar participando e para continuar nessa área em específico, sabe?”, reforça.
“A partir de então, desde 2019, eu nunca mais larguei o coral, me apaixonei pela música clássica, pelas óperas, pelo lírico em si, pelas apresentações e por tudo isso, por tudo que isso simboliza, é uma arte que não é tão explorada aqui no nosso estado e o fato de poder contribuir com ela, poder apresentar para outras pessoas, para mim é uma coisa assim maravilhosa”, completa.
Beatriz ainda destaca que foi a música e a participação no Coro que a ajudou passar por momentos complicados na vida. “Nesse meio período que estive com o coral, nós passamos pela pandemia e a música foi o que me salvou, verdadeiramente, ela foi o meu ponto de escape, até hoje funciona como terapia para mim, ela manteve a minha cabeça no lugar, a minha vontade de viver, apesar de tudo que estava acontecendo ao redor do mundo e foi muito forte, ela me ajudou a passar pelo luto e me fez enxergar o significado da música na vida mesmo. Eu devo muito para a música, muito mesmo, e só o fato de poder compartilhar isso um pouquinho com outras pessoas, já me traz aquele sentimento de gratidão e de trabalho feito”, finalizou.
Desafios
A diretora do Cant’arte, Edineide Dias, recorda que uma das influências para a permanência do Coro foi o Maestro Vitor Marques Diniz, fundador da Sociedade Coral e Orquestra Clássica de Mato Grosso do Sul, que realizou trabalho de divulgação da música de concerto, e formação de músicos e professores.
Nós temos um coro que faz música erudita há 17 anos. E 17 anos sem interrupção. Muitas vezes sem o apoio dos órgãos oficiais. Somos de um Estado onde isso não é muito incentivado. E uma pessoa que batalhou terrivelmente e me influenciou grandemente para eu tomar essa vertente da música erudita é o Maestro Diniz. Ele incentivava todos nós, mas não tinha um curso superior de música aqui. E muitas das pessoas a quem ele atingiu com a sabedoria dele, com o seu universo musical, uma pessoa que a gente nunca vai poder esquecer”.
Segundo Dias, há público para a música lírica em MS, mas existe carência de pessoas que trabalham com esse segmento.
“Eu acho que o problema maior, os desafios, foi justamente a criação e a manutenção do grupo”. Ela ainda destaca que talentos de MS precisaram sair do Estado para serem reconhecidos. “As pessoas não conseguem sobreviver deste tipo de arte. Para sobreviver eles vão para outros lugares, porque aqui não tinha oportunidade. E assim, perdemos cantores e cantoras maravilhosas, mas com o Coro conseguimos dar essa oportunidade”.
O que é o canto lírico
Conforme a Sociedade Artística Brasileira, o canto lírico “é o conjunto de técnicas vocais utilizadas para a interpretação de composições, em sua maioria, eruditas. A expressão ‘lírico’ é derivada do instrumento musical lira, que era usado na Grécia antiga”.
O canto lírico ainda se distingue dos demais modos de canto pela sua expressão vocal, que possibilita graves imponentes, agudos limpos e vibratos uniformes. Além disso, a extensão vocal dos artistas é um enorme diferencial, sendo aplicado tanto nos tons mais altos, como nos mais baixos.
Dentre os mais famosos cantores desse tipo, estão Luciano Pavarotti, Plácido Domingo e José Carreras.
Por Carolina Rampi
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