Despedida de João Carreiro é marcada por homenagens comoventes e tristeza

velorio joao carreiro
Foto: Nilson Figueiredo

Autor de ‘Bruto, Rústico e Sistemático’ foi velado ontem (4), em Campo Grande

“Essas moda de hoje em dia não tem nada de sertão” é um trecho de “Não Toco Não”, música autoral reproduzida pela prórpia voz marcante do cantor e compositor João Carreiro. Viver e fomentar o sertanejo raiz eram princípios fundamentais para o artista mato-grossense, que abalou o país na noite de quarta-feira (3) com seu falecimento precoce. Aos 41 anos, João Carreiro foi vítima de complicações durante uma cirurgia cardíaca no Hospital do Coração, na Capital. O velório do artista, residente em Campo Grande, aconteceu na manhã de quinta-feira (4), na Câmara Municipal de Campo Grande. No local da despedida, muita tristeza e emoção marcavam os fãs, amigos e familiares, que prestavam uma última homenagem ao músico. O velório encerrou às 9h e, em seguida, o corpo foi transportado para Cuiabá, cidade natal do músico.

O sertanejo João Sérgio Batista Corrêa Filho, conhecido pelo nome artístico de João Carreiro e por emplacar sucessos ao lado do companheiro de carreira Capataz, como “Bruto, Rústico e Sistemático”, sofria de um prolapso da válvula mitral, condição que torna irregular o batimento cardíaco e causa palpitações e falta de ar. Com foco no tratamento, nessa quarta (3), durante a manhã, o cantor publicou um stories no Instagram, informando aos 983 mil seguidores sobre a síndrome e o procedimento que realizaria. “Vou realizar um procedimento médico e ficar uns dias fora aqui da internet, mas pode ficar tranquilo que vai dar tudo certo. Papai do céu tá tomando conta”, disse. No mesmo dia, porém, durante a tarde, a esposa dele, Caroline Francine, informou, em publicação, que a cirurgia havia sido bem-sucedida e que o coração de João já funcionava com a válvula. Três horas depois, ela fez nova publicação pedindo orações ao marido. O cantor morreu pouco depois.

Segundo informações divulgadas pelo empresário Diego Diniz, o Ninho, em estado emocional sensibilizado, demonstrou incompreensão diante do fato, pois “apesar de ser uma cirurgia no coração”, era “um procedimento simples”, comentou. “Isso não faz sentido. A depressão dele foi superada, ele estava bem tranquilo, no melhor momento da carreira e no pessoal, também. Se vocês verem os vídeos que ele tinha postado nas redes sociais antes de entrar na cirurgia, ele está sorrindo, está feliz, está brincando. Ele foi andando, estava muito tranquilo e bem-disposto. É inacreditável”, lamentou o empresário.

O tratamento e a tristeza dos sertanejos 

A cirurgia estava marcada desde 22 de novembro de 2023; seria a primeira troca da prótese, permitindo que o coração do cantor funcionasse regularmente. A decisão do cantor, a favor do procedimento, levou o time de profissionais de João a organizar toda a agenda do artista para um pós- -operatório tranquilo. Contudo, apesar da insegurança do time sertanejeiro, não contestaram o cantor. No entanto, João Carreiro não resistiu às complicações cirúrgicas, deixando amigos, familiares e todo um gênero musical, o sertanejo, em profundo luto.

“O objetivo da cirurgia era trocar a válvula que já estava desgastada, essa era a primeira troca. Ele tinha um sopro no coração. Estou em conversa com o pai dele desde ontem, e fiquei sabendo que o João tinha esse problema desde criança. Mas, três anos atrás, ele teve uma complicaçãozinha, quando ele foi gravar um DVD, um mal-estar, e ele foi fazer um exame. A partir disso, ele resolveu operar e nós aceitamos, não tinha o que fazer. E deu no que deu. Mas, Deus sabe o que faz”, disse o empresário.

Ninho ainda acrescenta o quão significativa é a perda do cantor para o cenário sertanejo, mas frisa que João deixa um legado de suma importância para a nova geração. “O João era uma referência na música da viola caipira, sertanejo raiz e sertanejo tradicional. Vai fazer muita falta, mas eu tenho certeza que o legado dele vai ser levado pela nova geração de violistas daqui por aí. Ele era muito querido pela juventude, pela galera nova, universitários. Por isso, eu creio que vão levar por muitos, muitos anos o legado dele para frente”, ressalta o empresário.

Capataz, que fez dupla com João Carreiro, publicou, nas suas redes sociais, uma homenagem ao cantor. “Recebi esta notícia triste ao lado da minha filha, ela hoje com 21 anos, lembro de quando começamos (ela na barriga da mãe), chorou ao meu lado… Ninguém, além de nós, sabe o que vivemos… Deus sabe do meu coração… vá em paz, João. Deus conforte sua família e te receba de braços abertos…”, escreveu o artista em seu Instagram.

Despedida na Capital: velório 

O velório de João Carreiro foi realizado ontem (4), na Câmara Municipal de Campo Grande. A cerimônia, iniciada às 7h com o término por volta das 9h, foi envolta por falas que expressavam carinho e admiração ao cantor, momento em que suas virtudes, como a generosidade e talento, foram destacados. Em meio a tantas homenagens, a fala de familiares, como o pai do cantor, João Sérgio Batista Corrêa Filho, provocou forte comoção para quem lá estava.

“Eu vou falar do meu filho, João Carreiro, não vou falar do artista. Esse filho é um menino de ouro. Ele foi cedo demais, tinha que ter ido o pai e ficado o filho. Como podemos vivenciar uma coisa dessa? Mas sobre os mistérios de Deus, a gente não sabe. O homem fala o que pensa, e Deus só pensa, ele não fala”, disse, muito emocionado, o pai do cantor.

Contudo, para a fã Maria de Lourdes Pereira de Souza, 61, presente no velório, o momento é de incompreensão e dor. Ainda, em entrevista ao jornal O Estado, a fã relembra a primeira vez que viu o cantor, no programa da Ana Maria Braga, e acrescenta, “desde então, sempre acompanhei a carreira do João”.

“Eu não era aquela fã que estava em todos os shows dele, fui em alguns, mas eu, eu era aquela fã que eu tinha que ouvir pelo menos uma música dele todos os dias. Não tem nem o que falar, só digo que está doendo muito. Eu me encantei pela história dele, desde a separação da dupla, a depressão, e a força que ele teve, a garra para continuar a vida após isso. Isso tudo mexeu muito comigo e eu fiz questão de, cada vez mais, acompanhar sua trajetória, como pessoa, suas músicas, tudo que ele fazia. Não tem mais o que falar, era o João Carreiro. Nunca mais vai ter outro João Carreiro. O coração parece que vai sair do peito, de tanta dor”, lastimou a fã.

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Foto: Nilson Figueiredo

Trajetória

Na estrada desde 2006, a dupla João Carreiro e Capataz emplacou hits que caíram nas graças do público da música sertaneja, como “Bruto, Rústico e Sistemático” e “Xique Bacanizado”. No Spotify, a dupla tem 902,9 mil ouvintes mensais e, durante os oito anos de estrada, lançou sete álbuns. Desde 2014, João Carreiro se apresenta sozinho.

O último show dele foi na cidade de Pedra Preta (a 240 km de Cuiabá), na virada do ano. Além da esposa, João Carreiro deixa uma filha.

Nomes da música sertaneja também prestaram homenagens ao cantor, caso da dupla Jads e Jadson. “Vá em Paz cumpanheiro João Carreiro.” Nome em ascensão no gênero, a cantora Ana Castela também se pronunciou sobre a perda. “Que Deus conforte o coração de toda a família, amigos e fãs do João Carreiro. Ele foi um excelente cantor sertanejo”, publicou no X (antigo Twitter).

Por Ana Cavalcante.

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