Maria Fernanda Figueiró estreia espetáculo com direção de Vanessa Macedo de São Paulo
O palco do Sesc Teatro Prosa se transforma nesta sexta-feira (17) em um espaço de escuta, questionamento e reflexão, por meio do olhar sensível da dançarina, produtora cultural e psicóloga Maria Fernanda Figueiró, no espetáculo ‘Quem a mim nomeou o mundo?’, em dois horários, às 16h e 19h.
A obra busca, por meio de diversas ações, sensibilizar o público para a temática da desigualdade de gênero e estimular ações de reflexão e transformação social através da dança.
A idealizadora, Maria Fernanda, conta que a motivação para a criação desse projeto veio da sua vivência e trajetória na psicologia e na dança, destacando seu envolvimento com os estudos de gênero.
“Percebo que a violência de gênero está sempre presente, em todos os espaços que ocupo, especialmente por meio de relatos de mulheres. Essa constatação me trouxe uma inquietação sobre as desigualdades de gênero e os motivos que levam à discriminação e violência. Paralelamente à minha formação em psicologia, como artista da dança percebo que o gênero atravessa todos os corpos e experiências. E, assim, motivada por essas vivências e reflexões, criei esse projeto artístico para utilizar a dança como meio de investigação e criação sobre gênero, violência e performance, buscando promover reflexão e transformação por meio da arte”, disse a artista para o Jornal O Estado.
Investigações cênicas
Em ‘Quem a mim nomeou o mundo?’ o corpo questiona quais palavras definem as normas de gênero que nos moldam e produzem subjetividades. Questionando pessoas de diferentes contextos e localidades, uma pergunta evoca outras: Qual é a palavra que mata a coisa? Quais discursos (re)produzem violências? Quais prosódias podem ser ironizadas? Como nomear o mundo longe da lógica que determina quais corpos vivem e quais corpos morrem? Quem a mim nomeou o mundo?
O espetáculo foi desenvolvido numa rica parceria entre Maria Fernanda e Vanessa Macedo; diretora e coreografa da Cia Fragmento de Dança (SP) e uma das gestoras do Kasulo Espaço de Arte. O processo de criação iniciou-se em maio deste ano (quando o projeto iniciou) e se encerrou neste mês de outubro, totalizando cinco meses de trabalho contínuo.
Além disso, em junho, o projeto realizou quatro oficinas com Vanessa. Segundo Maria Fernanda, a participação dela trouxe temas como construções dramatúrgicas na dança, autodepoimento, performatividade e representação do feminino na cena, presentes em seu campo de estudo.
“A Vanessa investiga o autodepoimento em cena, o corpo-depoimento, a partir de uma perspectiva feminista, e isso é uma coisa que sempre me chamou a atenção. O autodepoimento se manifesta enquanto potência, na minha opinião, quando ele pega a singularidade de cada artista em cena, e traz ali uma potencialidade do que ele pode contribuir a partir das suas vivências para o contexto social e contemporâneo. Mesmo que cada um esteja falando de si em cena, todo sujeito em palco é atravessado por um contexto histórico, por noções de classe e gênero, por exemplo. E é esse viés que eu quis trazer para a Vanessa”, destaca Maria Fernanda.
“Desde então, Vanessa e eu mantivemos um diálogo próximo e constante ao longo de todos esses meses, com encontros presenciais e também remotos, pois ela reside em São Paulo. Foram inúmeros momentos de troca, especialmente porque a equipe envolvida é extensa e cada detalhe do espetáculo foi cuidadosamente pensado. Refletimos bastante sobre a cenografia, a trilha sonora, a iluminação e o figurino, realizando reuniões com as profissionais responsáveis por cada área. Cada profissional esteve presente no processo, contribuindo em sua área para a construção e o nascimento do espetáculo. A Vanessa é uma artista extremamente comprometida com o processo, o que tornou nosso diálogo contínuo e muito rico desde o início do projeto”, detalha Maria Fernanda.
A artista ainda finaliza acreditando que, por meio da dança, é possível colocar em pauta temas sensíveis, retirando-os do eixo cultural dominante, e inserindo-os nos contextos regionais.
“Nenhuma dança está alheia. Ela, como a arte em geral, pode transformar pensamentos, olhares, fazer a gente se humanizar cada vez mais, se apropriar de ferramentas subjetivas que nos tornam pessoas mais sensíveis ao sofrimento do outro. A dança que eu quero fazer, é essa dança que se preocupa, que está atenta, que denuncia, que se indigna com as desigualdades do Brasil, que pensa e reflete os problemas da sociedade. Eu não gosto do conceito da dança alheia, gosto da dança que de alguma forma contribui, nem que seja muito minimamente, nem que seja por 30 segundos, com uma certa provocação, indignação diante dos sofrimentos, das desigualdades, disso tudo que a gente lida no dia a dia”.
Em cena apresenta-se Maria Fernanda Figueiró. O espetáculo tem coreografia e direção por Vanessa Macedo e Maria Fernanda Figueiró, criação e operação de luz por Camila Jordão, cenografia por Fernanda Lazzarini, criação e edição de trilha sonora por Lua Oliveira, acompanhamento de processo com Júlia Rocha, figurino por Rita Figueiró, produção por Manaká Cultural, assessoria de imprensa por Isabela Ferreira (Reconta), assessoria de comunicação por Hana Chaves e Helton Perez, design gráfico por Vitória Regina Correia, Linara Versoza como contadora, Jessika Garcia como intérprete de libras e audiodescrição por Cândida Abes e Leia Ferreira.
Serviço: a artista da dança Maria Fernanda Figueiró estreia ‘Quem a mim nomeou o mundo?’ nesta sexta-feira (17), às 16h e 19 horas, no Sesc Teatro Prosa (rua Anhanduí, 200), com entrada gratuita. As duas sessões contarão com Intérprete de Libras e Audiodescrição. Para assistir basta reservar seu ingresso pelo Sympla. Para quem quiser e puder fazer uma boa ação: a equipe do projeto estará arrecadando alimentos não perecíveis para o Núcleo Assistencial Ramatís. Mais informações pelo telefone (67) 99186-1558 e pelo Instagram da Manaká Cultural.
Por Carolina Rampi