Deixe de lado o amor líquido e assista Medianeras

Filipe Gonçalves 

Claro que os filmes americanos tem uma grande aceitação do público principalmente pelos streamings serem da terra do tio Sam em sua maioria, além de grandes estúdios e distribuidoras.O cinema Latino Americano é bem rico além de ter ritmo diferentes tornando a experiência mais interessante, uma ótima pedida é a nova safra de filmes Argentinos, nossos vizinhos,tirando as rixas do futebol tem uma visão bem particular para a sétima arte.Um grande exemplo é “Medianeras – 2011” que em nossa terra ganhou o subtítulo de ‘ Buenos Aires da era do amor virtual’ – que entrega boa parte do plot -. O filme acompanha Martin (Javier Drolas) que trabalha em casa e tem bastante tempo para refletir sobre sua vida e sobre a relações líquidas, termo que começou a circular no começo da década passada e obviamente difundido pelo livro “ Amor líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos – 2000” do professor Zygmunt Bauman.

A forma bastante sutil que o filme coloca a ideia de que as pessoas tem muitas ferramentas mas não encontram tempo em suas vidas ou estão tão entorpecidos pelas tecnologias e vão deixando de lado os relacionamentos interpessoais por algo mais frio. O interessante é que não há uma falta de interesse ou medo por parte dos personagens, eles simplesmente revelam uma desconforto por estarem caindo armadilha de um relacionamento que não vai muito longe e quase sempre traz a objetificação como máxima. Gustavo Toretto diretor e roteirista conduz com diálogos relevantes e uma fotografia que dá enfoque na frieza da cidade com enquadramentos abertos deixando a cenas acontecem para que haja uma contemplação do ambiente usando bastante objetos azuis assim como os filtros também que ajudam a reforçar essa assepsia dos lugares e das relações ali presentes. Esse tema é bem recorrente hoje em dia mais que em 2011, hoje temos grande parte da população mundial conectada em redes sociais, projetos com Starlink da Nasa em parceria com Spacex para trazer uma internet universal potencializando o consumo e transformando em um espécie virtual. Cada vez mais uma ferramenta que só existe no mundo real é levada de alguma forma para as telas de computadores e celulares, como função do Uber que silencia o motorista, esse novo mundo onde as pessoas estão cada vez mais anti sociais e individualistas, trazendo a tona todos os anos de evolução tecnológica para nos transformar em uma raça que evita conversas ou pensamentos divergentes, e até mesmo encontros reais com pessoas por medo de serem mais uma vez objetificadas.

Ressignificando as relações para um âmbito imediatista os atores Javier Drolas e Pilar López trazem para perto essa angustia de viver como moeda de troca mas sempre buscando o melhor, a forma com a história deles se cruza é algo bem sensível e na medida do possível plausível, afinal como prevemos de onde um amor virá ? A constante presença de ícones da cultura pop, seja por um personagem emblemático que arremeta a busca ou pela ideia de que devemos sempre estar em movimento fecham bem essa trama.

Impossível não assistir esse filme e não reparar nas ótimas fotografias extraídas de Buenos Aires a cinematografia fica por conta de Leandro Martínez, é claro fica evidente a inspiração em filmes de diretores Wes Anderson e Roy Andersson que prezam por um minimalismo cheiro de significados dentro de suas narrativas, assim como as cenas de prédios no início do filme está totalmente ligada ao contexto e também é a base para a reflexão também contribuindo para os respiros que o filme necessita.

Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje, busque assistir Medianeras e compreender, absorver e se divertir. Estamos em um momento em que não podemos ficar perto daqueles que amamos mas dá para recomendar para aquela pessoa especial.

Cinéfilo , Podcaster, colaborador da TV O Estado e autor da coluna “Quentinhas do Cinema”

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