De volta à balada

pexels-yan-krukov-9005448

Sem parar de produzir, artistas apostam na música eletrônica e acreditam no retorno dos megaeventos

O evento “Feeling The Party”, realizado no dia 25 de setembro, trouxe grandes nomes da música eletrônica como Liu, Santti, Fancy inc, Pontifexx, Jørd, Krone e Lu Oliver, e marcou o retorno das baladas para quem ama dançar. A cena da música eletrônica em Mato Grosso do Sul já foi referência nacional e colocou o Estado no mapa de grandes eventos do segmento, e se depender dos artistas Andre X, Nathalia Albuquerque e Erik Artioli não vai faltar som para curtir na balada.

A história da música eletrônica remonta ao ano de 1948 na França, quando Pierre Schaeffer realizou o Concert de Bruits (Concerto de Ruídos), transmitido pela rádio “Diffusión Television Française”. De lá pra cá muito beat embalou gerações e o rolê em Mato Grosso do Sul foi construído durante décadas.

Com quase 30 anos de carreira, André Lombardi, o “Andre X”, é o mais antigo DJ de música eletrônica de Mato Grosso do Sul. Paulistano, consagrou-se como DJ somente em Campo Grande em 1996, junto com a chegada do estilo eletrônico à cidade. Antes disso, aventurava-se pela dance music desde os 13 anos. A história de Andre X confunde-se com a própria história da cena eletrônica do Estado. O DJ e produtor, que pode ser definido como entusiasmo e dedicação, relatou ao caderno Artes & Lazer a trajetória desse estilo musical que tomou o mundo de assalto.

“Quando eu comecei a tocar, por volta de 1994, o cenário ainda era aquele em que chamávamos de ‘dance’, alguns chamam comercial, música de rádio, mas que na verdade o nome é ‘eurodance’ ou ‘italo house’. Daí por volta de 1996, os DJs perceberam que estava havendo mudanças no cenário musical. Aqui no país foi chegando devagar, mas como eu sou aficionado em coisa nova eu já logo me inteirei e em 1997 resolvi que só tocaria ‘house’ ou ‘techno’, naquela época e ainda hoje o público exige uma certa fidelidade aos estilos”, esclarece o DJ Andre X.

Segundo Andre, houve um “boom”, e de repente aquela música totalmente nova trouxe uma forma de curtir a noite totalmente diferente, acompanhando um vocabulário descolado, além da moda, que também teve grande influência. “Era tudo muito chamativo e colorido. Então para a nova geração naquele momento existia uma magia no ar de que você estava fazendo parte de algo inovador e revolucionário, algo que pode ser comparado ao Woodstock”, aponta o artista.

DEU NA FOLHA

Ganhando popularidade, a cena eletrônica dava os primeiros passos nas raves e colocava Campo Grande na mídia de outros estados. Andre recorda esse grande momento. “As raves vieram com muito peso, tanto que em Campo Grande a balada ‘organic’ chegou a ter em torno de 8 a 10 mil pessoas, foi a maior rave do Brasil daquele ano e saiu até no jornal ‘Folha de S.Paulo’ e no livro ‘Babado Forte’, da jornalista Erica Palomino, em 1998 se não me engano, a cidade ficou famosíssima no cenário eletrônico, isso contribuiu muito por que tudo quanto era DJ queria vir para Campo Grande ver o que estava acontecendo por aqui.”

“Em 2000, com a chegada do ‘D-Edge’ à Capital, consagrou-se como uma das melhores do Brasil em se tratando de música eletrônica, não só pelas festas mas também pelo público que era muito bem-educado no cenário techno e house. Com a inauguração do ‘Garage’ em 2005 o boom continuou já pegando as novas gerações e foi até 2010.”

MUDANÇAS NA CENA

De acordo com Andre, após um tempo de explosão do estilo, alguns fatores colaboraram para que as baladas de música eletrônica tivessem uma queda de público; ele explica como tudo aconteceu. “É a partir daí que a gente tem diversos fatores que mostram por que hoje o cenário é mais suave, mas não diria pior. São vários fatores que agregam para que tenha uma queda de público. Primeiro houve a explosão do sertanejo universitário, e que aconteceu bem no nosso quintal, ele começou a alavancar as novas gerações. A proibição do cigarro em local fechado atrapalhou um pouco a pista, sendo que os clubs não estavam preparados e começou a rolar um estrese, a pista perdeu um pouco o fôlego”, diz Andre.

PANORAMA ATUAL

Andre X crê que o cenário atual é mais propício para Campo Grande. “Hoje existem mais clubs, pubs, lounges funcionando semanalmente, são várias facções diferentes com seus projetos e seguidores, antigamente eram 1 ou 2, praticamente uma família só. Hoje nós temos muito mais DJs em atividade e até alguns que vivem exclusivamente da música, coisa que antigamente era meio fora de questão. Existe ainda uma desvalorização do trabalho, mas a principal diferença daquela época pra hoje é a magia que existia em torno de um evento de música eletrônica. O público fazia o evento ser o que era.”

REPRESENTATIVIDADE FEMININA

A DJ campo-grandense Nathalia Albuquerque, que realizou uma live set em homenagem ao aniversário de 122 anos de Campo Grande no dia 26 de agosto, é uma das garotas que estão ocupando o cenário da música eletrônica no Estado. Ela acredita que as baladas “adormeceram” mas aposta na retomada dos eventos, no “novo normal”. “Existe um público que curte música eletrônica, mas acredito que nossa cidade está carente de locais para consumir esse gênero musical, e falo isso antes mesmo da pandemia. Já tivemos grandes clubes como Garage e Move, e também grandes festas como Garage Stadium, Noite do Branco, Única, além de shows de grandes nomes como David Guetta, Tiesto e Fatboy Slim (inclusive trabalhei na produção dos três).”

“Eu acho que a cena aqui já foi mais forte e no momento está ‘adormecida’. Não sei se o comportamento das pessoas mudou, hoje em dia existe uma valorização da música eletrônica, mas não no quesito balada, sabe? E sim em restaurantes, bares. Isso, sim, está forte e acho que nunca ‘caiu’. Quer ouvir um som gostoso, mais lounge, house? Tem vários bares e restaurantes que investem nisso. Mas balada mesmo, acho que falta. Vamos ver agora no pós-pandemia. Minhas expectativas são as melhores possíveis! Acredito que a pandemia veio para mudar algumas coisas, como, por exemplo, o aumento de festas ao ar livre e também eventos mais intimistas. Mas ainda assim penso que as festas maiores vão acontecer, principalmente depois que for decretado oficialmente o fim da pandemia”, salienta Nathalia, apostando em dias melhores.

APOSTANDO NO ELETRÔNICO

Muita gente conhece o baterista Erik Artioli por fazer parte da banda de blues rock Bêbados Habilidosos, mas Erik, que é multi-instrumentista, sempre teve um pé na música eletrônica e com o período pandêmico, ele lançou o álbum “Coffee in Mars”, que contém oito músicas e faz parte de seu novo projeto E-ARTH, mostrando que tem produção novinha em folha no segmento. “A pandemia me fez voltar a querer produzir e voltar a navegar neste segmento. E como pararam os shows e eu precisava de alguma forma estar conectado com a música, voltei a estudar piano e comprei um programa de produção chamado FL Studio e com alguns tutoriais no YouTube voltei a produzir”, relata o músico.

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL

O novo trabalho tem a participação de Rod Rivers, ex-banda Rivers, que hoje reside em Londres. “Quando comecei o E-ARTH – gravei 4 singles, ‘Asian Soul’, ‘Old Town’, ‘Breathe’ e ‘August’. A música ‘Breathe’ teve participação nos vocais do Rod Rivers – Rodrigo vocalista da banda Rivers. Todas as essas músicas estavam voltadas para uma pegada meio banda ainda não tão eletrônica. Depois dessas quatro músicas resolvi lançar um álbum com uma pegada muito mais eletrônica mesmo. Aí que surgiu o álbum ‘Coffee in Mars’, com oito músicas.”

SOM ESPACIAL

Erik aposta no eletrônico e vê no estilo novas possibilidades. Seu novo trabalho tem até sons do espaço. “O álbum não tem um estilo definido, pois tem música que vai para uma pegada melodic techno, outra que vai para um estilo lounge e outro synthwave. Eu me inspirei no espaço e todas as músicas tento colocar uma ideia que faz você se sentir nele. A música ‘Mars’, por exemplo, eu utilizei o som do espaço de fundo captado pela Nasa e criei a música em cima.”

A música eletrônica de Mato Grosso do Sul pode ter passado por um período de hibernação, porém quem ama o estilo continua apostando e produzindo sem parar. A retomada dos grandes eventos conta com inúmeros craques do som eletrônico e certamente não será por falta de artistas que a balada vai acabar. Quem quiser acompanhar os trabalhos de Andre X, Nathalia Albuquerque e Erik Artioli pode encontrá-los nas redes sociais, por intermédio dos links: Andre X: linktr.ee/djandrex , NathaliaAlbuquerque: https://linktr.ee/ djnathaliaalbuquerque Erik Artioli: https://linktr.ee/erikartioli

Texto de Marcelo Rezende

Veja mais notícias no Jornal Impresso

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *