Com estreia em 8 de agosto, em Dourados, curta sul-mato-grossense celebra a imaginação como resistência e transforma o cotidiano em poesia visual
Quatro personagens, dias repetidos e uma faísca de cor no meio da rotina: esse é o ponto de partida de Voantes, curta-metragem sul-mato-grossense que estreia oficialmente no dia 8 de agosto, às 20h, na CEUD localizada na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados). Com linguagem sensível e estética lúdica, o filme retrata como a imaginação pode ser um gesto de resistência diante da apatia cotidiana. Financiado pelo edital da Lei Paulo Gustavo/MS, o projeto aposta na força do audiovisual para provocar encantamento e reflexão sobre o poder transformador da arte.
Voantes acompanha quatro personagens, um artista, uma publicitária, um costureiro e uma atendente, que vivem presos à rotina até serem surpreendidos por uma espécie de “contaminação criativa”. A partir desse momento, pequenos gestos, cores e atos de imaginação começam a transformar o mundo ao redor deles. Como se fossem tomados por uma força invisível, passam a flutuar em meio ao concreto dos dias comuns. O filme propõe uma metáfora delicada sobre o poder da criação como fuga, resistência e renovação, evocando um universo onde o lúdico tem peso de manifesto.
A produção é uma expansão poética de Voante (2021), curta anterior em que o universo visual e simbólico surgiu com um único personagem: um artista que se confunde com sua própria criação, usando uma cabeça de tecido bordada, desproporcional e repleta de colagens. Em Voantes, esse imaginário se multiplica e se ramifica, alcançando novos corpos e histórias. Com uma estética que mistura teatro visual, ilustração, design têxtil, performance e cinema, o filme se afasta da narrativa tradicional e propõe uma experiência sensorial, onde fantasia e afeto caminham juntos. É um chamado para sonhar, mesmo quando tudo parece querer nos manter no chão.

Foto: Caduts/Divulgação
Luz, câmera, ação!
Dirigido por Raique Moura e Gil Esper, com roteiro de Gil Esper, Júnia Pereira, César Rodrigues e Raique Moura, Voantes é resultado de um processo criativo coletivo e gradual. Em entrevista ao jornal O Estado, Raique contou que o curta foi “construído aos poucos, com mãos, tempo e imaginação”. A ideia do projeto surgiu em 2023, a partir do desejo de expandir o universo visual e poético de Voante (2021), curta anterior que apresentou ao público um personagem híbrido entre humano e criação artística.
Com apoio da Lei Paulo Gustavo nas esferas estadual e municipal, o projeto ganhou fôlego em 2024, quando parte do filme chegou a ser exibida em uma pré-estreia interna, ainda em caráter experimental.
“A proposta envolvia misturar cinema, teatro, costura, colagem e ilustração. Isso exigiu planejamento cuidadoso e a formação de uma equipe ampla: mais de 75 pessoas participaram da criação, entre elenco, técnicos, artistas visuais, costureiras, produtores e assistentes.Os maiores desafios da pré-produção estiveram na criação desse universo artesanal: as cabeças cenográficas, os figurinos bordados à mão, os objetos de cena e os ambientes foram desenvolvidos com atenção total aos detalhes. Tudo foi pensado para traduzir visualmente o imaginário dos personagens”, explica Raique.
As filmagens de Voantes foram realizadas em locações reais, como praças, ônibus em movimento, supermercados, fazendas e até casas da própria equipe. Cada ambiente impôs desafios específicos à produção, exigindo soluções criativas e rápidas.A montagem reorganizou cenas e incluiu narrações e transições para dar ritmo ao filme. Já a trilha sonora uniu composições originais, sons ambientes e trechos do curta anterior, em um trabalho conjunto entre direção, músicos e montadores. Cerca de 15 pessoas participaram diretamente dessa etapa, que funcionou como um processo de refinamento final.
Dourados em paisagens
A obra é profundamente enraizada em Dourados e nas vivências do interior do Mato Grosso do Sul. O curta transforma o cotidiano da cidade em parte essencial da narrativa. Mais que uma escolha prática, filmar em Dourados foi um posicionamento estético e político, refletindo os ritmos e afetos do território. Para os realizadores, o projeto marca uma virada importante: diferentemente de Voante (2021), feito com poucos recursos, Voantes contou com apoio da Lei Paulo Gustavo, permitindo uma produção mais robusta. Fazer cinema no interior ainda é desafiador, mas também é um ato de resistência e afirmação.
estamos muito felizes em finalmente compartilhar o filme completo com o público. Será a primeira exibição com todas as cenas finalizadas e a proposta estética apresentada do jeito que imaginamos desde o início”, detalha Raique.

Foto: Caduts/Divulgação
Em 2024, um trecho de Voantes foi exibido em uma pré-estreia interna, ainda em caráter experimental. Agora, o curta está finalizado e pronto para ser apresentado ao público. Além da estreia presencial, está prevista uma exibição online gratuita e exclusiva. Os realizadores planejam ampliar a circulação do filme, inscrevendo-o em festivais e mostras, além de promover sessões em espaços culturais e educativos, especialmente aqueles que dialogam com teatro, artes visuais e audiovisual.
Voantes é, acima de tudo, um filme coletivo, construído a muitas mãos com empenho, sensibilidade e a confiança de todos que acreditaram no poder da criação compartilhada. Cada etapa da produção contou com o envolvimento direto de artistas, técnicos e colaboradores que ajudaram a dar vida a esse universo visual e poético. Entre os principais nomes do projeto estão os responsáveis pela montagem e edição, além do elenco formado por Raique Moura, Ludmilla Lopes, Guilherme Godoy e Mariane Rodrigues.
Amanda Ferreira