Por Filipe Gonçalves
A temporada de premiações veio com tudo e o Oscar 2020 promete, há muitos anos que não temos categorias tão disputadas como ator coadjuvante nelas estão nomes de peso como Anthony Hopkins, Brad Pitt, Joe Pesci, Al Pacino e Tom Hanks. Temos grandes filmes concorrendo e nesse texto vou discorrer a respeito de alguns deles.
Um dos que mais me chama atenção pela parte técnica é 1917, a ideia de ver um conflito em um plano sequência (que tem como intuito filmar como se não houvesse cortes), o que o diretor Sam Mendes coordena com maestria e faz que funcione, algumas cenas são extremamente complexas e proporciona cenas lindas e até mesmo psicodélicas. O elenco se mantém muito incisivo, quando li no trailer de divulgação aqui no Brasil tinha uma frase que dizia: “ 1917 é uma obra cinematográfica estonteante’’ pinçada da crítica da revista Vanity Fair, confesso que achei muito exagero, mas ao me deparar com o filme logo nos primeiro minutos já tinha entendido como seria o ritmo e um verdadeiro frenesi que a câmera no rosto permite. Mesmo sem muita ação o passeio pelo cenário já o bastante para nos colocarmos naquele ambiente hostil com arames farpados, buracos de bomba e corpos apodrecendo. A história é bem simples, dois jovens durante a primeira grande guerra tem que levar uma mensagem de seu general o capitão de uma companhia que será dizimada (vivido por Benedict Cumberbatch), pressão é pouco para descrever essa situação.
A mais nova investida do diretor Quentin Tarantino é uma de suas obras mais destoantes, tanto pelo roteiro ousado que conta a história da atriz Sharon Tate, mas em tom de homenagem, tanto pelo ar contemplativo que o filme traz.Editado por Fred Raskin que tem estilo parecido com Sally Menke que foi a editora dos filmes do Tarantino por muitos anos até falecer 2010.Aqui temos um tons pastéis, takes mais longos, o uso de um filme granulado para dar uma intenção mais documental ao filme – principalmente do Brad Pitt dirigindo por Los Angeles que torna meio cansativo depois da terceira vez, mas nada que comprometa a experiência – os atores estão dando um show, DiCaprio e Pitt têm uma conexão muito boa entre si, e o inverso de ser o galã do filme também é um contraponto muito interessante até mesmo de sua carreira que tem sido muitos anos baseada nisso Pitt é um dublê/ faz tudo que trabalha para Rick Dalton (Leonardo Dicaprio) e também une a família Mason com o atores, que aqui são representados como figuras mais alheias ao que acontece na cidade. Por outro lado Leonardo Dicaprio mostra as facetas de um ator que está entrando no ostracismo e também tem medo de se tornar irrelevante vendo a iminência de ter que pegar papéis que não quer, unido a insegurança da atuação e de confiar em si mesmo, o Dicaprio mostra uma desenvoltura impressionante principalmente em cenas onde tem que atuar em um filme fictício que está sendo rodado e o melhor diálogo do filme com a atriz mirim Julia Butters.
Adoráveis mulheres (Little Women) é uma adaptação de um livro de mesmo nome da Louisa May Alcott, já foi adaptado para o cinema várias vezes e chega nessa nova versão sob o comando de Greta Gerwig que também dirigiu o maravilhoso Lady Bird. O roteiro também ficou por conta dela também, e diria que foge de vários clichês e desconstruindo vários deles, na minha opinião ela resolveu vários problemas da versão de 1994 com criatividade sem deixar a peteca cair. Com um elenco bem estrelado como Saoirse Ronan, Florence Pugh,Emma Watson,Meryl Streep e muitas outras. Jo March é uma aspirante a escritora e que tenta publicar suas histórias em um jornal local até receber uma carta sobre a saúde de uma de suas irmãs, sendo obrigada a deixar a vida em Nova Iorque. O primeiro ato já pega o espectador bem com a premissa da Jô, a cumplicidade entre as irmãs é algo bem bonito e isso meio que saí do filme e faz com que nos importamos com a relação que elas têm e também. O que torna a experiência meio confusa, o vai e vêm no tempo se tonta cansativo depois de algumas cenas, não for pela palheta de cores um pouco mais azulada os mais desavisados nem se dariam conta de que o filme não é linear. Saoirse Ronan, mas uma vez está maravilhosamente bem mesmo que você já conheça a história e como o filme vai se desenrolar, ela dá um tom muito doce a Jo ao mesmo tempo em que ela busca coisas bem distantes em sua época. Infelizmente eu acredito que os Oscar de melhor atriz vão para Scarlett Johansson em história de um casamento.
Parasita é um daqueles filmes que é uma grata surpresa seja em qual momento da vida você assista, ele é capaz de prender na trama e até mesmo fazer gostar de alguns personagens por mais manipuladores eles possam ser, Bong Joon-ho tem um olhar bem interessante de como as pessoas se relacionam — o que é bem diferente para nós ocidentais e leva alguns minutos para se colocar no filme — aqui temos uma família que para ser bem sucinto “gosta de atuar para ganhar a vida” e aí você pensa são uma trupe de atores então ? E eu digo claro que não! são as pessoas mais manipuladoras que já vi agindo em um filme e isso sem exagero claro. Eu acredito que temos aqui grandes cenas que já se tornaram icônicas como as da Jessica (Park So Dam) “Jessica, Only Child, Illinois, Chicago”. Além disso o roteiro é bem primoroso concebido por Bong Joon-ho, Han Jin-won que sabem o que estão fazendo principalmente por Bong Joon também estar no controle do longa, aqui ele põe algumas das ideias que permeiam nossas mente em um dia de ócio que não fariam sentido nenhum ou não valeriam um filme mas nas mãos certas temos uma família que usa e abusa do storytelling para se dar bem na vida já que trabalho não é forte deles — inclusive isso não é muito difícil de acontecer de verdade — e vêm sendo o queridinho da galera na internet ao posto de melhor diretor e melhor filme.
É claro que não poderia faltar a tradição no Oscar 2020, o Irlandês é uma grande prova de que dá pra fazer cinemão nos sites de streaming sim e olha só quem veio pra provar é isso o Martin Scorsese e grande elenco. O filme tem um ritmo bem lento para aqueles não estão habituados a filmes de máfia, carrega um tom de que qualquer coisas pode ocorrer no próximo minuto e mudar o rumo da história toda, a única certeza que temos é que Frank Sheeran (Robert De Niro) está vivo por estar narrando o filme que é uma grande marca do Scorsese. Frank começa na máfia por baixo e já sabendo que nunca faria parte das famílias italianas como membro por obviamente não ser italiano, ele passa boa parte da vida trabalhando como assassino e ajudando a eliminar os próprios membros que se sobressaem na organização. Uma grande ressalva é para brilhante atuação do Joe Pesci (indicado a melhor ator coadjuvante), que aqui é um homem extremamente cauteloso que em horas difíceis tem que tomar decisões equivalentes, Al Pacino (também indicado a melhor ator coadjuvante) se mantém bem colocando algumas nuances muito peculiares em seu personagem, o que casa muito bem com a contrapartida do Robert De Niro que formam uma bela dupla sem sombra de dúvidas.
Se ano passado tínhamos o grandioso Pantera Negra da Marvel, esse para fazer fusquinha temos Coringa. Uma investida muito grande da dupla de roteiristas Todd Phillips.
Scott Silver que em hora nenhuma se basearam no que o Coringa do Heath Ledger, mas com certeza buscou os acertos do Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008). A grande atuação do Joaquim Phoenix fez toda a diferença, principalmente por não ter algo caricato e prezando pela decadência que esse personagem tem. As expressões corporais junto com a entrega do ator e a mixagem de som forma a tríade de uma boa experiência cinematográfica. Na história Arthur Fleck é um comediante fracassado que tem que fazer alguns bicos para sobreviver e se manter com sua mãe, apesar de ter vários problemas neurológicos e pacíficos ele tem que enfrentar também o caos e a desumanização da Gotham City dos anos 1980. As palhetas de cor deixam bem evidente a sujeira e o descaso da cidade onde a selva urbana se encontra com a falta de perspectiva das pessoas vivendo amontoadas e alheias a todo tipo de violência. Arthur tenta fazer as coisas da forma mais correta possível e logo depois ir bem longe do aceitável matando homens e justificando suas ações. O filme trouxe a discussão de exaltar um homem perverso e maluco fazendo o que quer e trazendo outras pessoas para uma espécie de revolta popular. Muito se especulou sobre esse assunto, mas acredito que o filme deixa bem preto no branco de como as coisas funcionam e como a ética pessoal é subvertida sob essa ótica específica. Joaquin Phoenix tem levado todos os prêmios em que foi indicado e também é o queridinho do Oscar esse ano.
Jojo Rabbit é uma das histórias mais envolventes desta temporada, e a brilhante escolha de trilha sonora que mostra músicas conhecidas como: Beatles, David Bowie, Ramones interpretadas em línguas diferentes é genial. Jojo é uma criança que vive na Alemanha Nazista e tenta provar seu valor, juntamente com seu amigo imaginário que o próprio Adolf Hitler descobre que sua mãe está escondendo uma Judia em sua casa. . Scarlett Johansson com um sotaque bem peculiar e encantador mostra mais uma grande atuação nesse que parece seu ano de grande estreias, o ator mirim Roman Griffin Davis é bem carismático e o roteiro ajuda bastante com a composição do seu personagem, elenco conta ainda com Sam Rockwell que é um dos meus atores favoritos e está bem diferente de como vimos nas últimas temporadas com no sério Três Anúncios Para Um Crime (2017). O filme traz uma ótima reflexão sobre o que estamos fazendo e por quem estamos fazendo o que é bem pertinente no momento que estamos vivendo.
História de um casamento é um daqueles filmes necessários, e com ótimas interpretações. Aqui temos um Adam Driver mais inseguro mesmo tentando fazer parecer que não entregando uma de suas melhores performances até agora, Scarlett Johansson entrega uma personagem confusa porém muito segura de si e também preocupada com os rumos de sua vida. Um casal que tem uma vida normal depois de um tempo começa a perceber que a relação se tornou unilateral e mesmo que tentem dar uma chance infelizmente acaba. O se daqui em diante é uma visão que todos temos, porém passamos a omitir, o filme é bem necessário como disse pelo fato de tratar de quanto estamos envolvidos com as pessoas, o quanto podemos deixar o que sentimos de lado para nos tornamos mesquinhos e levianos com os sentimentos das outras pessoas. Ao desenrolar de uma separação tudo pode se tornar muito complicado com as desavenças criadas, pelo quanto Charlie Barber (Adam Driver) está ligado a sua esposa, até mesmo mostrando um lado infantil e inconsequente. Adam está indicado ao Oscar mas não é favorito já Scarlett Johansson foi indicada duas vezes eu creio que em história de um casamento tem mais chances nesta temporada.
Ford Vs Ferrari um misto de emoção bem controlado para um final que diz muito sobre como vivemos e o que deixamos, um dos filmes mais subestimados dessa temporada, conta com uma ótima entrega de Christian Bale, que traz a emoção de dirigir e a dificuldade de autocontrole. A história é sobre a Fabricante de carros Ford estar em um momento que precisa inovar, para isso eles vão investir no mundo das corridas dominado pela gigante Ferrari, a investida é em 24 horas de Le Mans. A fotografia desse filme munido da ótima edição é o que a gente parar 2h32 e realmente se envolver com história desses homens que tem que passar poucas e boas para construir um carro que seja tão bom quanto a equipe financiada por Enzo Ferrari. O filme está indicado a quatro Oscar incluindo melhor filme e melhor o que é bem justificável.
Como joguei uma luz antes, essa é uma das melhores temporadas em anos, filmes com temas bem pertinentes, filmes com grande apuração técnicas ótimas atuações e diria que fica complicado entrar no bolão da premiação em tempos assim. Os grandes favoritos são 1917 e Coringa 10 indicações contra 10.
Sinto falta de algumas grandes produções do ano passado que mereciam pelo menos algumas indicações técnicas com Midsommar da A24 e o Farol (que sim teve indicação mas foi meio despercebido),muito se deve pelo seu teor nada ortodoxo digamos assim, mas conta com um grande elenco e interpretações apertadíssimas. Willem Dafoe está ótimo como o faroleiro, Florence Pugh está excelente como uma jovem que perde os pais. Isso se deve também pela campanha da própria A24 que foi para o Uncut Gems do com o Adam Sandler que esse sim não teve nenhuma indicação e não foi nem adiante no processo de avaliação para seleção.Seja como for façam suas apostas porque a premiação acontecerá no domingo a partir das 21h horas uma belo momento para reunir a família e amigos para ver quem vai levar.