Com rodas de conversa e oficinas, Fashion Revolution Week propõe questionamentos sobre processos produtivos da moda, segurança da indústria, e sustentabilidade fashion

Foto: Daniel Reino/Fundação de Cultura de MS
Foto: Daniel Reino/Fundação de Cultura de MS

Começou ontem e vai até o dia 24 de abril, em Campo Grande, o Fashion Revolution Week 2024, maior movimento de revolução da moda. O evento é realizado em 75 países e em várias cidades do Brasil, que este ano comemora 10 anos de ativismo com 10 dias de ações diversas voltadas para a reflexão do consumo consciente, reflexões acerca do funcionamento da indústria da moda e estimular boas práticas produtivas.

Para muitas pessoas, comprar é um ato satisfatório, que nos traz alegria consigo mesmo, principalmente quando estamos tristes ou descontentes com algo. Os norte-americanos inclusive até criaram um termo para designar o prazer de comprar: “terapia de shopping” ou “terapia da compra”. Entretanto, raramente pensamos para onde vão os itens que descartamos, nem de onde vem os produtos que compramos.

Foto – Divulgação

O Fashion Revolution é um movimento pensado para gerar uma reflexão sobre a indústria da moda. A iniciativa surge após um desabamento de nove andares do edifício Rana Plaza, na capital de Bangladesh, em 24 de abril de 2013, onde milhares de pessoas trabalhavam em condições precárias, para a indústria da moda. A tragédia matou mais de mil pessoas e feriu mais de 2.500, entre máquinas de costura e tecidos. Devido ao acontecimento, foi proclamado o Fashion Revolution Day, que acontece anualmente, para discutir sobre sustentabilidade e consumismo, por meio de uma série de iniciativas.

A representante do Fashion Revolution em Campo Grande, Laís Dantas, a Lala como é conhecida, explica que o principal objetivo da semana Fashion Revolution é conscientizar as pessoas sobre as questões sociais e ambientais na indústria da moda. “A semana é um manifesto anual que acontece em várias partes do mundo. Em Campo Grande, seguimos os mesmos princípios”.

Outro ponto destacado durante a semana são as questões relacionadas à proteção dos trabalhadores e do ambiente na indústria da moda. “Todas as ações são portas de consciência para as pessoas em relação ao seu próprio valor criativo, social, ambiental e econômico, dentro da indústria da moda. E também se relaciona com autoestima, no momento em que aprendemos, descolonizamos e nos qualificamos”, explica Laís.

Este é a segunda edição do evento em Campo Grande. Segundo a produtora de moda Karla Velasco, que é produtora voluntária no Fashion Revolution, a edição de 2023 as ações da iniciativa foram menores e envolveram menos pessoas. “Este ano, a Lala veio com tudo e assumiu a responsabilidade de realizar um grande evento. Vão ser 10 dias de ação e este ano temos eventos para os 10 dias”, comenta.

Pensar a moda

“A primeira ação que a Fashion Revolution propõe é o questionamento: quem faz as minhas roupas? São diversas trabalhadoras e trabalhadores da moda desgraciados pela exploração através da escravidão moderna. Questionar-nos permite adentrar nas realidades da cadeia produtiva da moda: como não conseguimos transformar o que não vemos, é crucial que elas se tornem conhecidas. Assim, com lucidez, traçamos melhores e mais eficazes caminhos”, elucida Karla.

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Além disso, a produtora ainda destaca que pensar na moda de uma forma sustentável significa “reorganizar ações como o uso consciente de tecidos e o que é feito com a sobra deles. Nessa iniciativa nascem várias formas de se fazer moda, transformando esses descartáveis em mais moda”.

Em um mundo onde preços e marcas estão acima de qualidade e dignidade, Karla acredita que estamos no caminho de começar a enxergas a moda como arte, cultura e identidade. “Cada vez mais, a moda vai entrando em esferas maiores como a inclusão. Está ficando democrática. Já não temos mais que pensar em moda como algo fútil, caro e para poucas pessoas. A moda autoral começa a ganhar espaço e carrega com ela, justamente, essa visão de arte, cultura e identidade. A moda circular democratiza mais ainda, oferecendo roupas de qualidade com preços acessíveis. As rodas de conversas dentro do projeto irão focar nesses assuntos, como a pressão estética, consumismo e coletividade”.

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Esse é um dos objetivos do Desfile Manifesto, uma das trações principais do evento, conforme explica Laís. “É um convite para olharmos para o que está por trás da produção de nossas roupas. Corpos criativos desfilando pelas feitas 100% em upcycling, técnica de reaproveitamento de materiais que seriam ou foram descartados. O desfile promove a moda consciente pela mensagem que carrega, pela diversidade de corpos representados, pela técnica de produção de peças, pelo respeito às pessoas e pelo respeito à natureza”.

Conforme Laís, a burocracia, prematuridade e falta de sensibilidade com o assunto são alguns dos desafios enfrentados ao se realizar um evento de moda de forma gratuita e aberta ao público. Karla também evidência que o poder público precisa ser engajado com esse tipo de iniciativa. “Seu papel é criar, promover e incentivas políticas públicas favoráveis à mudança. O poder público deve ser responsável por influenciar diretamente mudanças sistêmicas na indústria da moda”.

Campo Grande em ação

Serão 10 dias de oficinas, rodas de conversa, encontros, atividades ao ar livre, aprendizado, reflexões e atrações artísticas que incluem o Desfile Manifesto. Todas as atividades são gratuitas e abertas ao público. “As expectativas são as melhores! As oficinas estão com as vagas preenchidas e temos uma participação grande de várias frentes da moda de Campo Grande. Vai ser um importante passo para que a Capital e comece a discutir a moda em uma esfera maior e fora do pensamento de que moda é para poucos”, comenta Karla.

“Os impactos começaram quando conseguimos reunir voluntários em prol de um movimento que valoriza as pessoas e o meio ambiente, acima dos lucros. E vem se concretizando a cada pessoa que escolhe se envolver no movimento para pensar em sustentabilidade dentro da moda. Para o futuro, espero que a indústria de moda local se sinta provocada a ponto de repensar sua responsabilidade ambiental e social. A revolução é coletiva!!”, finaliza Laís.

A Fashion Revolution Week Campo Grande – MS conta com os apoios da Fundação de Cultura do Mato Grosso do Sul, SETESC, Governo do Estado, Prefeitura de Campo Grande, SENAC Hub Academy, Fecomércio MS, SENAC, Casa de Ensaio, Grupo Casa e Cervejaria Capivas.

Agenda

Quinta-feira (18)
13h às 15h – Oficina de vitrine digital para brechós, com Wity Prado, no Centro de Economia Criativa, na rua Marechal Rondon, 1500, Centro.

15h30 às 17h – Oficina de Fotografia Digital, com Kaique Transgrafias, no Centro de Economia Criativa. R. Mal. Rondon, 1500. Centro.

Sexta-feira (19)
19h às 20h30 – Desfile Manifesto, na Escadaria Orla Morena.

Sábado (20)
14h30 às 18h – Oficina de acessórios com materiais reciclados, com Júlia Delphino, na Praça do Preto Velho, no Jardim Paulista. Também haverá apresentações de DJ Najja e Cia Apoema.

Quarta-feira (24)
13h às 17h – Oficina de precificação de produtos e criação de coleção, com Lauane Sales, no Teatro Grupo Casa. R. Visc. de Taunay, 306, bairro Amambai.

19h às 21h – Roda de conversa “Consumo, resíduos têxteis e coletividade”, com Eclair Silva, Dayane Pereira e Kaylyan Tiviroli, na Capivas Cervejaria. R. Pedro Celestino, 1079 – Centro.

16, 17, 22 e 23/04
13h às 17h30 – Oficina de Upcycling, com Luiz Gugliatto, no Senac Hub Academy. R. do Parque, 75 – Centro.

Mais informações e inscrições gratuitas através do Instagram: @lalacry_

 

Por Amanda Ferreira e Carolina Rampi 

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