Quem trabalha com circo sofreu na pandemia, e os artistas precisaram “se virar nos trinta” para conseguir lidar com a crise causada pela COVID-19. Em Dourados, o Circo Le Chapeau fez até promoção de almoço para conseguir arrecadar recursos a fim de arcar com os custos do espaço dos artistas. A arte circense precisou se reinventar e trabalhar duro para conseguir transmitir aquele calor dos espetáculos presenciais e pessoais por meio das telas.
“Durante a pandemia houve muita dificuldade. A pandemia veio com a necessidade de interrupções sociais, de distanciamento, e as nossas atividades artísticas são extremamente sociais. Então, tivemos que nos reinventar, partir para aulas on-line, tentar adaptar todas as atividades para espaços reduzidos e transformar nossas apresentações para um formato digital e a vivência desse novo formato e a criação dessa nova realidade digital é uma coisa muito complicada”, conta uma das integrantes do grupo, Társila Bonelli.
A artista conta que se reinventar foi difícil e que o grupo precisou se esforçar ainda mais para criar, e que uma das maiores dificuldades era vender a arte digital. “Resolvemos filmar espetáculos direcionando para um público que está em casa, aprender a conversar com essa câmera, e tivemos muito mais dificuldade em vender isso, mas precisávamos nos sustentar. Por isso, ainda durante a pandemia, precisamos optar por coisas que a gente não fazia como fazer almoços para vender, o que foi essencial para poder ter um dinheiro a mais, já que só a arte não estava conseguindo pagar tanto a manutenção do espaço quanto a nós, os artistas”, explica Társila.
O picadeiro é a rua
Os espetáculos do Circo Le Chapeau são pensados para serem apresentados nas ruas, tendo uma comunicação direta com o público, brincando com a plateia e com o improviso. “Todos os espetáculos são adaptados para qualquer formato de apresentação, seja em teatro, escola, embaixo da lona de circo ou na praça, e isso é nossa principal característica. Somos um grupo que se adapta a todos os lugares, levando uma linguagem mais simples e leve para todas as idades”, explica Junior de Oliveira.
A companhia desenvolve trabalhos voltados para o circo, mas busca mesclar o teatro e a dança também. Todos os artistas do grupo vivem exclusivamente da arte, e para poder complementar a renda eles atuam como professores de arte dentro do espaço cultural Sucata de Arte. “Além dos espetáculos temos oficinas de artes, indo para festivais com espetáculos, oficinas, então, temos uma linguagem diversificada. Com a pandemia também atuamos nas plataformas virtuais. Participamos de festivais on-line, disponibilizamos alguns espetáculos que já desenvolvemos, e hoje em dia, conseguimos transformar qualquer tema em espetáculo circense”, completa Junior.
De volta à normalidade
A diminuição nos casos ativos de COVID-19 e mortes pela doença, em razão do avanço da vacinação em Mato Grosso do Sul, tem tornado possível a volta das apresentações presenciais na agenda do circo, mas tudo de forma segura, seguindo as medidas ainda necessárias de biossegurança. “Estamos contentes por podermos rever as pessoas, receber os aplausos e ver o sorriso no rosto das pessoas, porque arte é completa com o público”, pontua Junior.
Ainda de acordo com ele, a agenda de setembro já foi bem movimentada, e o próximo mês também promete muitos espetáculos apresentados pela companhia. “Com o Projeto Caravana de Circo do MS vamos passar pelas cidades do Estado relembrando como os circos chegavam nas cidades antigamente”, comemora o artista circense. Serão oito cidades visitadas pelo Circo com o Projeto, além de outras que receberão o espetáculo do Circo Le Chapeau.
Sobre o Circo Le Chapeu
Levar o espetáculo para bem perto das pessoas é o objetivo do Circo Le Chapeau, fundado em 2012 por dois artistas circenses formados na Escola de Circo de Londrina, o campo-grandense Junior de Oliveira e a londrinense Nicole Rodrigues. O circo de rua se tornou oficialmente uma companhia sul-mato-grossense em 2015, quando o grupo retornou a Campo Grande, ganhando um novo integrante, o artista Pepa Quadrini.
“A ideia principal do grupo desde a sua criação, foi a de levar a arte do circo para a rua, as praças, feiras e locais em que pudéssemos ter um contato mais direto e mais próximo do público, e a partir disso surgiu o nome ‘Circo Le Chapeau’, onde ‘chapeau’, que quer dizer chapéu em francês, representa a bilheteria de todo artista de rua e a utilização de um nome em outro idioma foi justamente pra brincar com essa tradição dos circos de lona, que usam de nomes internacionais para chamar mais atenção e parecer que viemos de muito longe”, conta em tom de brincadeira um dos fundadores, Junior de Oliveira.
Em 2017 a companhia se torna de Dourados e, junto da Cia. TheAstai, funda o “Instituto de Desenvolvimento Artístico e Social Sucata Cultural”, um espaço cultural com teatro de bolso, biblioteca, sala de exposições de artes visuais e espaço gastronômico. O espaço também oferece aulas de circo, teatro, balé e jazz, além de desenvolver projetos em várias outras vertentes da arte, se tornando cada vez mais uma referência no ensino da arte e da produção cultural. (Beatriz Magalhães)