Circo do Mato apresenta “Ponto de Partida”, que reflete sobre tempo, memória e adeus

Mauro Guimarães atua na peça dirigida pelo baiano João Lima, com texto de Breno Moroni - Foto: Larissa Pulchério/Divulgação
Mauro Guimarães atua na peça dirigida pelo baiano João Lima, com texto de Breno Moroni - Foto: Larissa Pulchério/Divulgação

Espetáculo narra a história de um palhaço idoso em espera e reflexão, com sessões na sexta e no domingo

 

Estreia nesta sexta-feira, 1º de agosto, no Circo do Mato, o espetáculo Ponto de Partida, uma montagem sensível e tocante que propõe um olhar poético sobre o tempo, a memória e a solidão por trás do riso. Com sessões também no domingo, dia 3, às 19h, a peça é gratuita, com ingressos limitados e conta com intérprete de Libras. A classificação indicativa é de 12 anos.
Essa é a chance para quem ainda não conferiu o primeiro solo do grupo que há mais de duas décadas marca presença na cena cultural de MS. A obra teve sua estreia em janeiro em Campo Grande, e logo seguiu para a capital baiana, Salvador, com apresentações em casas culturais tradicionais como o Sesc Rio Vermelho, SESC Pelourinho e a Casa Preta Espaço de Cultura. Agora, o público sul-mato-grossense tem uma nova oportunidade de se emocionar com essa montagem sensível e poética.

A trama acompanha um palhaço já idoso, à espera de um contratante que prometeu levá-lo para mais uma apresentação. Sem saber ao certo o tipo de evento, ele permanece esperançoso por ainda ser lembrado, mesmo em meio às limitações impostas pela idade. Enquanto aguarda em um ponto de ônibus, símbolo de trânsito e impermanência, ele rememora episódios marcantes de sua trajetória artística e pessoal, entre risos solitários, recordações afetuosas e a melancolia do tempo que passa.

Ponto de Partida não é apenas uma peça sobre um artista envelhecido é, sobretudo, uma metáfora sobre o fim de ciclos e o valor da escuta. O espetáculo convida o público a refletir sobre o que permanece quando o palco esvazia e a maquiagem se apaga. Afinal, quem consola o palhaço quando o riso vira lembrança?

Espetáculo Especial

Com 60 minutos de duração, o espetáculo Ponto de Partida é dirigido pelo baiano João Lima, com texto de Breno Moroni e atuação solo do artista Mauro Guimarães. Conhecida por montagens com elencos numerosos, a companhia Circo do Mato aposta, desta vez, em um formato mais intimista. Considerado um dos projetos mais especiais do grupo, o solo exige não apenas maior entrega do intérprete, mas também uma escuta mais atenta e sensível por parte do público. É também a primeira vez que Mauro Guimarães dá voz ao seu palhaço em cena — uma mudança que transforma profundamente a dinâmica e o alcance da personagem.

A dramaturgia assinada por Breno Moroni, ator e palhaço com mais de quatro décadas de trajetória, propõe um encontro entre passado e presente da palhaçaria brasileira. O texto presta homenagem a figuras icônicas como Carequinha (George Savalla) e Picolino, com quem o autor teve contato direto ao longo de sua carreira. A obra cria uma ponte simbólica entre gerações e estilos circenses, reunindo influências do circo tradicional, do teatro e da linguagem contemporânea.

“Sem dar muito spoiler, mas, é a história de um palhaço já idoso, vindo de família tradicional de circo, que está esperando uma carona de um contratante para sua última apresentação que não chega a acontecer. Este é o ponto de partida da narrativa, daí a escolha do nome do espetáculo”, explica o diretor, que encarou a missão da montagem em meio a mais de 2 mil quilômetros de distância”, afirma.

Conforme o ator Mauro Guimarães, esse é o primeiro solo da Cia Circo do Mato.“É o meu primeiro solo, apesar de décadas de profissão, é muita responsabilidade. Outra questão é que o meu palhaço não fala, é característico dele e nesta roupagem a gente tem o texto. Então, é algo novo, desafiador, porque diferente de um trabalho exclusivamente do teatro, em que a personagem é construída, na linguagem do circo, não, você traz o seu palhaço que é a sua persona circense, você pode moldá-la, mas continua sendo o mesmo palhaço só que em outro contexto”, complementa.

Foto: Larissa Pulchério/Divulgação

Homenagens

Em uma viagem dramatúrgica assinada por Breno Moreno, o enredo busca ainda homenagear os palhaços de todo Brasil. “Acompanho a hierarquia do circo de lona, onde o palhaço é o último estágio que alguém pode alcançar. Diferente do teatro-circo, em que você pode iniciar como palhaço, no circo tradicional você só se torna palhaço quando é muito velho e já foi mágico, equilibrista, malabarista”, pontua Breno, que na construção textual inspirou-se em palhaços icônicos. “Tenho 40 anos de palhaçaria, sou artista antigo. Então, escrevi este texto em homenagem aos velhos palhaços com quem trabalhei, como Carequinha, do artista George Savalla, e o palhaço Picolino, com quem também estudei, fui discípulo”.

O espetáculo Ponto de Partida levou uma década para sair do plano das ideias e chegar aos palcos. A realização enfrentou diversos obstáculos até conquistar apoio por meio de editais. Foi apenas em 2023 que o projeto recebeu aprovação da Funarte, permitindo que, em 2024, se iniciasse um processo intenso de montagem. O trabalho começou de forma remota, com encontros virtuais entre direção e elenco, e se concretizou em Campo Grande, com cerca de 20 encontros presenciais que moldaram a versão final da obra. Para o diretor João Lima, toda essa trajetória deu à peça uma densidade que dialoga com o próprio tema central: o tempo e a espera.

Serviço: O espetáculo Ponto de Partida, do Circo do Mato – Grupo de Artes Cênicas, será apresentado em duas sessões nesta semana, em Campo Grande. As apresentações acontecem na sexta-feira, 1º de agosto, e no domingo, 3 de agosto, sempre às 19h, na sede do grupo, localizada na Rua Tonico de Carvalho, nº 263, no bairro Amambaí. Os ingressos são gratuitos e podem ser reservados antecipadamente pela plataforma Sympla, no link: sympla.com.br/evento/ponto-de-partida-espetaculo. O espetáculo conta com acessibilidade em Libras e é indicado para maiores de 12 anos.

 

Amanda Ferreira e Carolina Rampi

 

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