Cineastas se juntam para lançar primeira distribuidora de filmes do Estado, a Cura Filmes

Legenda - Lançamento oficial será na segunda-feira, com a 1ª Mostra de Curtas Regionais do Centro-Oeste. Foto: Leo Sales
Legenda - Lançamento oficial será na segunda-feira, com a 1ª Mostra de Curtas Regionais do Centro-Oeste. Foto: Leo Sales

Será lançado na próxima segunda-feira (13), no Museu da Imagem e Som (MIS), o projeto “Cura Filmes”, primeira distribuidora de filmes em Mato Grosso do Sul, que tem o objetivo de aumentar a visibilidade das produções cinematográficas locais e facilitar o acesso desses filmes a um público mais amplo no Brasil. A distribuidora é formada pelos cineastas Cainã Siqueira, Raylson Chaves e Arthur Antunes e nasceu do desejo de verem os filmes nascidos no Estado, espalhados por vários cantos do país, e mostrar para o Brasil o jeito sul-mato-grossense de se fazer cinema. “É muito difícil o nosso estado ser visto como um lugar que produz cinema. Muitos cineastas gostam de vir até o nosso território gravar seus filmes e trazerem suas versões para nós, mas não é o mesmo que falarmos com as nossas próprias imagens e sons”, disse Raylson Chaves em entrevista ao jornal O Estado.

Mesmo que haja produções cinematográficas em MS, elas dificilmente saem do eixo Centro-Oeste, e ficam concentradas em cineclubes ou universidade, onde o público geralmente já conhece e tem familiaridade. “O principal objetivo é difundir o cinema regional. Nossa intenção é expandir essas janelas de exibições para podermos criar um imaginário social do nosso Estado por meio do cinema”, disse Chaves.

O sócio e cineasta destaca que a falta de canais de distribuição afetou significativamente a visibilidade das produções cinematográficas em Mato Grosso do Sul, além da perca da memória de fatos e questões urgentes para o Estado que foram abordadas e desenvolvidas em produções perdidas.

Foto: Divulgação

“As universidades de jornalismo sempre produziram muitos trabalhos na área de cinema e acabaram perdidos no tempo. Sem um espaço centralizado para reunir os filmes locais, a catalogação dessas produções dependia principalmente do boca a boca. A distribuição não apenas se refere à disseminação dos filmes, mas também à preservação da memória. Temos que considerar como estamos cuidando das memórias criadas através da produção audiovisual. Muitos trabalhos que abordavam questões urgentes como a crise climática, o racismo, a lgbtfobia e o extermínio da população indígena não foram vistos pelo restante do país, e até mesmo pela própria população local”.

E é essa lacuna de distribuição adequada das obras que a Cura Filmes quer preencher. Para o cineasta Cainã Siqueira, um dos sócios da distribuidora, “um dos compromissos é conectar os filmes produzidos em Mato Grosso do Sul com audiências em todo o país, fazendo com que sejam vistos em festivais, cineclubes, cinema itinerante e eventos culturais por todo o Brasil”.

Desafios

Além de sócio da Cura Filmes, Chaves é fundador do Coletivo AiÊ de Cinema Negro, diretor, roteirista e produtor dos filmes, “Aldeinha – (re)existindo” (2018), “Os amigos que se encontraram na Aldeia” (2019) e “Mihe’aka Voxené: Simoné VeyopéÛti” (2019). Em 2021, foi Produtor Executivo dos filmes: “A Margem é o Centro” e “Eu temo que não amanheça”. Em 2022, realizou seu filme “O Pantanal é Preto”. Já em 2023, desenvolve seu primeiro curta de ficção, “Águas”, vencedor do I Prêmio Ipê de Audiovisual financiado pela Prefeitura do município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Mesmo com uma bagagem na área do cinema regional, o cineasta ainda enfrenta desafios para o reconhecimento mais amplo dos seus trabalhos.

“Um dos principais é a falta de financiamento para essa etapa crucial na cadeia do audiovisual. A distribuição é um dos aspectos mais caros que, muitas vezes, acaba sendo deixado de lado durante o planejamento dos projetos. Muitas vezes, optamos por uma abordagem mais gradual, procurando festivais específicos, ou acabamos guardando nossos filmes, pois realizar a distribuição demanda tempo e esforço para encontrar os festivais e espaços que se alinham com as temáticas das produções”, explicou.

Escolhas e distribuição

Segundo Chaves, a Cura Filmes irá realizar a distribuição de obras autorais, com identidades próprias, que representem a região. “Nosso objetivo é criar uma identidade cinematográfica sul-mato-grossense, exportando filmes que reforcem isso de alguma maneira, sempre fugindo dos estereótipos já estabelecidos por pessoas de fora do Estado”.

Foto: Leo Sales

Para que a distribuição seja realizada, haverá estratégias: a circulação por festivais é o ponto de partida. “Nos festivais, as pessoas assistem aos filmes e pesquisam sobre eles, o que leva à recomendação para outros locais. Às vezes, curadores veem o filme e o selecionam para ser exibido em determinados lugares, iniciando assim um trabalho em rede”, explicou Chaves.

Em seguida, a distribuidora, irá em busca dos cineclubes do país, que possuem um público consolidado, essencial para estabelecer conexões com o público que não está habituado aos festivais. Por último, será levado em conta os projetos educacionais, como escolas e feiras, que oferecem oportunidades para criar um público para o cinema brasileiro, encontrando brechas para a exibição dos filmes.

“A distribuição é essencialmente um trabalho de divulgação, que envolve vender o filme e conectá-lo com festivais que estejam alinhados com o projeto. Isso inclui pensar no design do cartaz, nas estratégias de mídia social e na comunicação geral do projeto. A experiência adquirida ao circular por festivais com nossos filmes é um recurso valioso, pois nos proporciona uma compreensão mais abrangente do processo. Muitas vezes, não é necessário focar apenas em festivais de grande porte; é mais importante garantir que nossa história seja vista e ouvida, em vez de mantê-la guardada”, reitera.

1ª Mostra de Curtas Regionais do Centro-Oeste

Juntamente com o lançamento da distribuidora, haverá a 1ª Mostra de Curtas Regionais do Centro-Oeste, com o propósito de demonstrar o cinema impactante e de qualidade produzido no Estado. “A mostra apresenta filmes realizados ao longo de diferentes anos, buscando envolver tanto a comunidade universitária quanto aqueles que não possuem formação específica em audiovisual ou cinema, explorando assim a diversidade da realidade local. Além das exibições, está previsto um bate-papo com Ulisver Silva, cineasta de Mato Grosso do Sul, e Daniela Cerqueira, professora do curso de audiovisual. Os critérios de seleção envolvem aspectos como qualidade técnica, originalidade e relevância para a cultura e identidade da região. As expectativas para a exibição são criar um espaço de valorização e reconhecimento para o cinema regional do Centro-Oeste, além de promover o diálogo e a reflexão sobre a distribuição das nossas obras”, finaliza Chaves.

Serviço: O lançamento oficial da Cura Filmes será marcado por um evento especial no Museu da Imagem e do Som, em Campo Grande, no dia 13 de maio de 2024, das 18h30 às 21h30. O evento inclui um painel sobre a distribuição de filmes e a 1º Mostra de Curtas Regionais do Centro-Oeste Brasileiro, destacando o talento e a diversidade da produção cinematográfica da região, tudo de forma gratuita.

Por Amanda Ferreira e Carolina Rampi

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