Batizada de “Cine da Meia Noite”, a sessão que acontece no dia 10 de agosto no Buteko traz em uma só edição a resistência de diversos movimentos, a da música e vida do blueseiro Renato Fernandes, com o filme “Solidão e Meia”; do Cineclube Transcine que fomenta a arte em ambientes marginalizados de Campo Grande e do próprio espaço que será realizada a exibição, que hoje de portas abertas com outro nome, revive as memórias do antigo ponto underground da Capital, o “Bar do Edgar”.
“A gente está com muita expectativa com a noite do dia 10 no Buteko, que foi o antigo Bar do Edgar e onde o Bêbados começou a tocar, com a exibição do ‘Solidão e Meia’ do Helton Pérez, que mostra com poesia a viagem criativa do Renato e vai de encontro com esse mundo underground, que o Transcine trabalha, por isso escolhemos esse filme que não é feito de forma tão alternativa quanto os outros três ‘vidículos’, mas ele tem essa pegada com o underground”, explica o diretor Givago Oliveira.
Givago apresenta também no “Cine da Meia Noite” três de suas obras: o teaser oficial “T’amo na Rodoviária”; “Vidículo 1” e “Vidículo 2 THI”, sendo que as duas últimas têm a assinatura conjunta de Mariana Sena. “A gente produzia um material alternativo, com a qualidade – não inferior, mas alternativo mesmo – com a linguagem que a gente fala da subalternidade, da linguagem que vem do subalterno onde nem mesmo os centros culturais abarcavam a ideia de exibi-lo. Vimos a necessidade de tirar do quadrado do cinema e centro cultural e levar para o público da rua mesmo, que falasse de igual para igual com esse público, que tivesse essa semelhança com eles”, destaca.
“Levamos o transcine para a rua e começamos com um ‘projetorzinho’ pequeno, projetando em um tecido branco na parede, na rodoviária. A gente conseguiu estruturar, comprar um projetor e uma tela maior, fazendo a exibição com maior qualidade. Alguns cineclubes passam filmes de arte que só serão absorvidos por pessoas da academia. A gente tem a vontade de produzir esse filme, usar os atores sociais e, deles, fazer a obra, o filme e exibí-lo’, pontua Givago Oliveira.
Com pouco mais de 40 minutos totais de exibição das quatro produções audiovisuais a sessão promete envolver o espectador. O teaser de “T’amo na rodoviária” – que depois se tornou um documentário longa-metragem – tem 3 minutos e 10 segundos; “Vidículo1” em 2 minutos e 39 segundos, fala sobre a violência da polícia; enquanto “Vidículo THI” fala em 5 minutos e 21 segundos sobre a transgeneridade, enquanto “Solidão e Meia” tem 24 minutos e 32 segundos.
“A expectativa são as melhores possíveis, esperamos que as pessoas compareçam e que gostem desse ‘Cinema da Meia Noite’, que era um costume nos anos 70 de ir ao cinema esse horário e ver os filmes, e o mais gostoso é poder estar num bar, tomar uma cerveja e depois de assistir o filme discutir e conversar sobre o que se viu”, comenta Givago.
Sobre o ideal principal, o diretor ainda comenta que “o papel do cineclube não é só exibir o filme, mas fomentar uma discussão e temos vários cineclubes na cidade que fazem esse debate, cada um com seu tema e sua linguagem. O Transcine faz o debate com a subalternidade, com a pessoa em situação de rua, com adicto, com a questão de gênero, com a pessoa em estado de vulnerabilidade e então tem esse viés. Mas é importante que exista esse cineclube para que peças de audiovisual independente tenham espaço para que possam ser exibidas e serem discutidas”. (Leo Ribeiro)