Com as imagens, Marcos Vinícius luta pela preservação das habitantes mais bonitos da Capital
Rafael Ribeiro
Em tempos de liberação de portes e afins de armas, um homem preferiu o amor à guerra em nome das moradoras mais bonitas de Campo Grande: as araras. Marcos Vinícius Santana, 44 anos, nasceu em Curitiba (PR) e em 1983 desembarcou ainda criança na Cidade Morena com a família por conta do trabalho do pai, oficial da Aeronáutica. “Eu basicamente fui criado aqui. Não lembro de quase nada dos tempos de Paraná”, disse.
A infância pacata sofre daquele curitibano naturalizado sofreria uma grande transformação quando uma vizinha ofereceu à sua família uma máquina fotográfica, ainda de filme, caseira, que havia adquirido em uma loja e não teria como pagar. Foi o primeiro contato com o equipamento que mudaria a sua vida. Mas ele demorou a descobrir.
No início, o objeto adquirido com o único propósito de ajudar uma colega a angariar recursos ficou jogado. Mas, as voltas da escola a pé chamaram a atenção do jovem Marcos Vinícius. Suas únicas memórias curitibanas lembravam que na cidade natal não havia uma quantidade tão grande de pássaros à disposição para serem observados. Foi então que decidiu recuperar a máquina e registrar as maravilhas que observava. O primeiro foi um periquito australiano que pousou no seu quintal. Mas a experiência foi fracassada. “Descobri que a máquina precisava de pilhas”, brinca. Não tardou a dedicar a sua atenção às araras. E a correr pela cidade atrás das aves de penas vermelhas ou amarelas, nos parques, matas e em todos os locais.
tempo
O tempo passou, a vida adulta chegou. O menino decidiu virar segurança. Trabalhava em transporte de valores. Ou seja, em carros blindados e fortemente armado. Foi então que angustiado pelas horas e horas isolado dentro desses veículos, decidiu abandonar aquela rotina e se dedicar aquilo que o fazia realizado. “Eu gosto da natureza, de estar junto dela. Não queria passar meu dia enfiado dentro de um carro, sem ser ver e sentir o sol”, disse.
Sai o segurança Marcos, entra Vinicius, o fotógrafo das araras de Campo Grande. Com uma dedicação que só um apaixonado poderia exercer, o estudo das araras o tornou um especialista. Bastam 20 minutos de conversa para citar todas as espécimes de aves de cabeça, hábitos, alimentação… Tudo amparado por uma rotina de muita leitura, desbravamento, conversas com ambientalistas, veterinários biólogos, autoridades.
A rotina do fotógrafo assusta quem vê de longe. Todos os dias ele acorda às 5h, veste sua roupa típica de “infiltração do mato”, como ele mesmo chama, e sai pelas ruas. O objetivo não é somente registrar o cotidiano da ave símbolo da Cidade Morena, mas também montar catálogos de locais de procriação, alimentação. O trabalho, que embasa a atuação das autoridades e cobra providências, trouxe reconhecimento. São as fotos de Vinícius que servem de estudo para ambientalistas e ONGs (organizações não-governamentais), além de lhe gabaritar para trabalhar como guia para turistas estrangeiros.
atraso
“O que as pessoas falam em progresso, eu falo em atraso. Não há conservação do que a cidade tem de melhor, que é sua natureza. Cada vez mais as árvores são cortadas, se coloca fogo nas áreas verdes. Meu maior medo é que as próximas gerações vejam as araras apenas pelas fotos que eu tirei”, disse Vinícius.
O medo é real. Se quando começou ele avistava até 30 araras por dia, hoje essa média não passa de cinco. Por isso, no aniversário da Cidade Morena, o maior dos pedidos desse rosto símbolo da cidade, que nunca tira o sorriso do rosto, é que a questão ambiental não seja abandonada.
“As fotos das araras foi uma maneira de retribuir à cidade a forma como ela me acolheu. Mas para ficar plenamente satisfeito eu queria mesmo é que tratassem a nossa natureza da mesma forma como eu trato a vida, com muito amor”, completou.
Confira o caderno de Aniversário de Campo Grande neste link