BDParty: arte, rima e muito hip hop marcaram a festa de dois anos da Batalha da Pista

Foto: Beatriz Santos
Foto: Beatriz Santos

Evento aconteceu após três semanas de pausa da BDP

A Batalha da Pista (BDP) comemorou na noite de quinta-feira (14), dois anos de ‘corre’. A organização é responsável por realizar as batalhas de rima na Orla Morena todas as quartas-feiras, às 19h. A arte e a cultura do rap e do hip hop estão sempre presentes nas disputas que são abertas ao público e rolam de frente a pista de skate da orla.

 

Foto: Batalha de MC’s na BDParty/Beatriz Santos

 

BDParty

O evento aconteceu no Ponto Bar, estabelecimento localizado no centro da cidade, e teve início por volta das 20:30h, quando os portões foram abertos para o público.

O MC (como são chamados os rimadores) e apresentador CJ, que participou do festival de Bonito, deu início as apresentações rimando amistosamente com Poka Pala.

A competição que marcou a BDParty foi no formato de batalhas de sangue em dupla e ao todo foram sete, sendo quatro na primeira fase, duas semifinais e uma final emocionante com vitória feminina.

As vencedoras foram as MC’s La Brysa e Perséfone. La Brysa veio de Três Lagoas, cidade que fica a 334km de Campo Grande, e já rimou em várias cidades do país. Já Perséfone começou a rimar faz pouco tempo, cerca de um ano, mas também venceu a última edição especial da Batalha Da Pista, o Arraiá da BDP, onde teve sua primeira vitória.

Apesar das campeãs da BDParty 2 anos serem mulheres, poucas minas rimam em Mato Grosso do Sul. Segundo La Brisa, o número de mulheres que rimam ainda é bem inferior ao de homens e elas encontram muita resistência no cenário. “Eu espero que daqui a dois anos cada cidade que tenha batalha tenha pelo menos duas mulheres rimando”, comenta.

 

Foto: Na direita, MC La Brysa/Amanda Ferreira

 

Já Subúrbia, vencedora da edição arraiá, diz que além das mulheres enfrentarem o machismo estrutural, ainda tem a questão da dupla jornada. E vê dificuldade em conciliar a vida pessoal com a vida nas rodas rimando.

O cenário de Mato Grosso do Sul ainda é muito voltado para o agronegócio, como destacou o MC Michel em uma de suas falas. “O négocio aqui é sertanejo!”, ele mencionou. Então, fazer rap e conseguir visibilidade com isso é muito difícil. Além dele, La Brysa e Rude Reis, campeão da penúltima temporada de batalhas, falaram sobre a dificuldade em conseguir se sustentar apenas com as batalhas.

Para Rude, as batalhas ainda não são rentáveis ao ponto dele conseguir sustentar a sua família, e falta oportunidade e reconhecimento. Além do estado, a classe social impacta na visão que o público tem do movimento e se torna difícil se sustentar exclusivamente de arte no Brasil.

 

MC’s rimando. Rude Reis na direita/Beatriz Santos

 

E é por isso que a Batalha da Pista realiza esses eventos temáticos, para atrair um público maior e de vários nichos diferentes. “Eventos como esse trazem visibilidade para a periferia. E, além disso, trazem um público diferente do que costuma ‘colar’ nesses eventos underground. “, comenta CJ.

Também é comum ver crianças nesses eventos. Tony Jazz, MC, acredita que é muito importante a participação do público mais jovem nas batalhas porque a arte transforma, e o rap e o hip hop são formas de arte que mudam a vida do ser humano, além desses jovens serem a nova geração.

A estudante de jornalismo Nathaly Santos já acompanha batalhas de rap há anos pela internet, mas foi só a partir do ano passado que ela passou a ir assistir às disputas de rima presencialmente. Ela conta que tinha medo de ir às batalhas por não ter companhia, mas depois que começou a frequentá-las, e até a namorar um MC, ela já fez muitos amigos no rolê e agora comparece a todas que pode ir, inclusive, já foi em três na última semana.

 

Foto: A esquerda, Nathaly Santos. E a direita, a MC La Brysa/Beatriz Santos

 

Já Lia Tiaen, estudante de artes cênicas e natural de Corumbá, cidade que fica a 417km de Campo Grande, acompanhas as batalhas desde que era criança porque sua mãe a levava. Lia diz que vê muita diferença entre as batalhas que acontecem na sua cidade e as da capital sul-mato-grossense, pois em Corumbá tem mais incentivo cultural, as crianças acompanham as batalhas desde pequenas, além da presença da arte fronteiriça, pela proximidade da cidade com os países que fazem fronteira com MS.

Além das batalhas, 0s visitantes poderiam passear entre os estandes que estavam posicionados no corredor que dá caminho para a área aberta do bar. Nas lojinhas, diversos produtos estavam a venda, desde doces e roupas, a joias e quadros de artes autorais. O local também tinha bar com bebidas álcoolicas e não álcoolicas e muito rap rolando. E enquanto as disputas de rima aconteciam, dois artistas, um de cada lado do palco, pintavam um quadro ao vivo.

 

Foto: Diversos vendedores tiveram a oportunidade de expor seus produtos na BDParty/ Amanda Ferreira

 

A artista Gabriela Moraes afirma que o evento abriu espaço para que a arte dela fosse reconhecida. Ela gostava de pintar quadros, principalmente fotos por encomenda, mas tinha vergonha de expor seus produtos. Depois que começou a levar seus quadros para os eventos de rima e foi recebendo admiração do público, Gabriela foi perdendo um pouco mais a vergonha e gostando cada vez mais de prestigiar o evento e trazer novos quadros.

 

Foto: Mesa com quadros de arte autoral/Amanda Ferreira

 

E no estande do pedagogo Fernando Michels você podia encontrar alguns itens de anime como pelúcias, adesivos e chaveiros. Mesmo os objetos sendo de uma cultura completamente diferente do rap e do hip hop, Michels ressalta que a arte e a cultura caminham juntas, e que mesmo que não pareça, anime e rap estão interligados. “Poder compartilhar a nossa cultura e aproveitar a cultura e a arte dos outros é muito bom, e é importante a gente se apoiar. Além do evento unir um pouco dos dois públicos. ”

 

Foto: Amanda Ferreira

 

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1 thought on “BDParty: arte, rima e muito hip hop marcaram a festa de dois anos da Batalha da Pista”

  1. Francisco Fabio da Costa e Silva

    Parabéns pela matéria para demonstrar essa Arte a nossa População.
    Principalmente a nossa Juventude ter conhecimento do que é o Hip Hop não é só Rima, tem Cultura, Negócios, Amizades e é local que não se restringe em Classe Social, Cor e Indentidade de Gênero.
    Organizadores e MC’s continuem com tudo.

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