André Tristão estreia solo sobre a presença cênica

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Com tradução em libras e audiodescrição, ator André Tristão estreia solo com proposta inclusiva

O ator André Tristão teve um 2022 bastante movimentado, prolífico e de sucesso. Agora, completando 20 anos de teatro e dando sequência às boas vibrações do ano passado, o artista estreia o espetáculo “Eu Preciso que Vocês Me Escutem”, com entrada gratuita, no próximo sábado (28), às 20h, no Armazém Cultural, em Campo Grande, que trata da presença cênica em espaços arquitetônicos, além de dar atenção especial aos deficientes visuais e ter tradução em libras e audiodescrição. Ao todo, serão seis dias de apresentação.

O ator falou com exclusividade ao jornal O Estado sobre o espetáculo que leva ao palco, além do debate sobre borramentos das fronteiras entre as linguagens artísticas, como dança e teatro, também a ocupação e interação da obra com espaços arquitetônicos de Campo Grande, a partir do estudo da presença cênica e de treinamentos corporais por meio de uma técnica específica, e, ainda, sobre a carreira. “É um espetáculo que tem o teatro como suporte, porém trago pra cena a discussão sobre o borramento das fronteiras entre as linguagens dança/teatro. Além disso, trago o audiovisual e a arquitetura para essa pesquisa e assuntos relacionados à vida, morte e metalinguagem”.

O projeto acaba sendo, de certa forma, uma celebração da trajetória do diretor. “Este ano completo 20 anos desde que comecei a fazer teatro e, juro, entrar nesse universo foi espetacular. Foi a única coisa que comecei a fazer na vida e não parei… É uma delícia olhar pra trás e ver o caminho que percorri e as pessoas que tive a oportunidade de trocar ao longo desses anos! Muito desafios, muitas descobertas, encantamentos e decepções, vivências que fazem o artista que eu sou hoje. Além disso, meu encontro com a dança se deu de uma forma muito gostosa por meio da técnica Klauss Vianna, que é uma técnica de Dança e Educação Somática, e que conduz esse trabalho!”.

Sobre isso, o ator e preparador vocal Ewerton Goulart comenta a respeito do texto dele, utilizado por Tristão na peça. “O André é um dos poucos artistas atores de Campo Grande que tem formação em Klauss Vianna, que é uma referência nacional em dança e teatro. Essa junção dos nossos trabalhos, para mim, tem essa potencialidade. E esse texto meu – que é um fragmento de um texto meu, na verdade –, que ele está utilizando nesse espetáculo, eu construí, a princípio, para o exercício de teatro, para trabalhar a espontaneidade dos atores, para trabalhar elementos do inconsciente”.

“Eu acho que é justamente isso que é a busca da minha pesquisa, de trazer aquilo que é mais profundo, do mais inconsciente, a partir desse texto. E que o texto que o André está construindo também, em cima do meu, e em cima de outros fragmentos, tem muito a ver com isso”.

A escritora Raquel Naveira mostra-se encantada com o trabalho do ator. “André é um excelente ator e dramaturgo, com formação em teatro. Assisti inclusive à sua apresentação de fim de curso na Universidade Anhembi-Morumbi, em São Paulo. André tem se debruçado sobre textos meus e de minha filha Letícia Naveira em vídeos e esquetes muito instigantes. Essa passagem de uma linguagem a outra é rica, revela sensibilidade, joga luzes, provoca dialogismos. Desejo um bom espetáculo a todos”.

Acessibilidade e interação

Tristão explica que a importância da adaptação de um espetáculo desses no teatro é proporcionar a fluência no convívio de pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência. “Às vezes observamos a inclusão como algo ‘exclusivo para’… E não de fato inclusivo. Isso acaba fazendo com que as comunidades [de deficientes e não deficientes] não interajam. A ideia é poder fazer com que essa interação aconteça”.

O diretor relembra a época em que foi professor de deficientes visuais. “Por ter trabalhado com um tempo no CAP-DV MS (Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual), tive a oportunidade de conviver com pessoas cegas e com baixa visão. A partir disso, meu trabalho foi enriquecido e pude explorar com meu aluno, na época, as descrições exatas e necessárias para a compreensão de quem não enxerga com os olhos”.

Sobre a técnica empregada à atuação no espetáculo, André comenta. “A Técnica Klauss Vianna trabalha com a pesquisa do corpo a partir de um movimento sensível com uma escuta presente. Então a fala, a condução, necessitam de uma precisão cinestésica, o que auxilia muito na troca com pessoas cegas e com baixa visão”, detalha.

Sobre a percepção das reações do público e as sensações que isso proporciona a ele, o artista afirma que foca “no agora” em cada performance. “Nesse espetáculo trabalho muito com o momento presente! O que faz com que eu reaja a partir daquilo que me é dado! A narrativa do tempo presente emprestada do ‘Núcleo Fuga!’ para essa pesquisa e a labilidade do que foi construído faz e fará com que cada dia eu viva o trabalho de forma nova, fresca, presente!”

Projeto

O solo, que está sendo produzido desde setembro de 2022, tem direção de movimento da renomada professora doutora Jussara Miller (SP); assistência de direção de movimento de Dora de Andrade (MS), textos de Giordano Castro (PE), Raquel Naveira (MS) e Ewerton Goulart (MS); provocação de cena de Ligia Prieto (MS); produção audiovisual de Helton Pérez (MS) e produção musical de Julio Queiroz.

As apresentações serão gratuitas e contarão com audiodescrição e interpretação em libras (Linguagem Brasileira de Sinais), recursos de acessibilidade para pessoas cegas e surdas.

Oficinas

Além das apresentações, também serão realizadas duas oficinas, uma no sábado (28), e outra em 5 de fevereiro, sempre das 9h às 12h, no Armazém Cultural.

Segundo Tristão, a proposta é de que os participantes vivenciem a pesquisa que ele realizou para a criação do espetáculo “Eu Preciso que Vocês Me Escutem”; que é o estudo da presença corporal, da presença cênica em espaços arquitetônicos.

As oficinas são voltadas para a comunidade acadêmica (cursos de Teatro e Dança, Artes Visuais, Audiovisual e Arquitetura e Urbanismo), artistas de dança e de teatro, e para a comunidade de deficientes visuais; culminando em dois atos performáticos que serão desenvolvidos no espaço em que o espetáculo será encenado. As inscrições devem ser realizadas pelo link: https://forms.gle/yJ7fVGRfLVvHhHfx7.

No teatro e no audiovisual

André Tristão tem 34 anos e é ator, professor e diretor de teatro. Formou-se em Teatro pela Universidade Anhembi-Morumbi e em Técnica Klauss Vianna pela PUC de São Paulo. Atualmente divide seu tempo e trabalha entre São Paulo e Campo Grande. Na capital sul-mato-grossense foi integrante do Teatral Grupo de Risco por oito anos, e coordenou o Núcleo Experimental de Teatro da UFMS.

No audiovisual trabalhou no longa-metragem “Não Eu”, na websérie “Simão Morto”, no longa-metragem “Madalena”, no curta-metragem “Metástase” de Iulik de Farias e, mais recentemente, no remake da novela “Pantanal”, da Rede Globo. Atualmente é brincante de teatro na Casa de Ensaio e atua ministrando oficinas de teatro, dança e educação somática.

Serviço:

O espetáculo “Eu Preciso que Vocês Me Escutem”, encenado por André Tristão, será apresentado gratuitamente nos dias 27, 28 e 29 de janeiro, e 3, 4 e 5 de fevereiro, às 20 horas, no Armazém Cultural (Avenida Calógeras, 3.065, Centro). Os ingressos para as apresentações podem ser reservados antecipadamente pelo site www.sympla.com.br/evento/eu-preciso-que-voces-me-escutem/1853150.

As inscrições para as oficinas podem ser feitas pelo link https://forms.gle/yJ7fVGRfLVvHhHfx7. Mais informações podem ser obtidas em linktr.ee/euprecisoquevocesmeescutem e pelo WhatsApp (67) 99988- 1807.

Por Méri Oliveira – Jornal O Estado de MS.

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