Filipe Gonçalves
Mudar o título de filmes não é algo usual, mostra o desespero da distribuidora para emplacar nas bilheterias. “Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa” talvez não devesse existir, um filme com pretensões enormes de alçar voos muito além de seu roteiro e direção. Esquadrão suicida,uma outra franquia onde qualquer um que se virasse melhor com seus “brilhantes diálogos” teria uma chance em uma futura produção -salvo a atuação de Margot Robbie- um filme bem ruim e perdido. Jared Leto diz que foi prejudicado por suas melhores cenas terem sidos retiradas do corte final, coisa que nem o próprio diretor tem controle visto que o estúdio detém o corte final e monta da forma que lhe parecer conveniente. Os que se deram bem foram os atores que tem uma grande experiência, ou os que atuam no automático. Margot Robbie se manteve bem coesa, mesmo com roteiro falho, a atriz se sai bem com o que tem nas mãos. Ela faz o papel de uma ex-psiquiatra que vai enlouquecendo a medida que se envolve com o Coringa do Jared Leto que está mais caricato que o do ‘Bátima da feira da fruta’, seu arco mesmo simples deu um pouco de espaço para a atriz brilhar em seu tempo de tela. Logo o estúdio achou uma boa ideia fazer um filme que já foge da franquia original, no qual estão sendo produzidos outros títulos deixando o mesmo fora de contexto,até aí tudo bem vida que segue.
O DC comics e a Warner têm uma grande dificuldade de adaptar seus heróis e afins para os cinemas,ao mesmo tempo que buscam inovar, também buscam surfar no hype e lucrar pesado com esses filmes cujos os roteiros são bem batidos. Quando em 2008 a Marvel tinha um plano de consolidar os personagens trabalhando um por vez e no fim teríamos um compilado, já com um arco semi desenvolvido. Foi o que aconteceu em vingadores, todos os heróis e subplots já estavam ligados à busca das joias do infinito. A DC acertou com Homem de Aço com o Henry Cavill, um ator mediano, mas com um bom roteiro e boa direção ressuscitou o Superman, ter um filme solo de cada herói parece o caminho aberto que a Marvel desmatou. Então uma série de pequenos equívocos fez com que os rumos da nova empreitada desandaram. O ponto crucial do início do fim foi a escolha do Batman, que sempre foi o queridinho da galera e se mantinha em alta pelo ótimo trabalho do Christian Bale e Christopher Nolan na trilogia que se encerrou em O Cavaleiro das trevas ressurge (2012).
Um novo rumo foi tomado com a nova empreitada envolvendo o Coringa,até o momento está fora da cronologia das franquias anteriores. O sucesso foi mais do que esperado, é muito provável que esse roteiro não foi criado especificamente para esse personagem mais sim adaptado. A Warner Bros precisa se manter em alta, logo aceitaria qualquer tipo de ideias vindo de qualquer lugar, só para tirar o gosto ruim que o Jared Leto deixou. Esse novo filme é mais consistente de que o antecessor, mas isso não é nenhum grande mérito. As coreografias estão melhores guiadas por Chad Stahelski o diretor da franquia John Wick, que tem como marca aquelas lutas em que a câmera não se movem, exigindo o máximo dos atores e que gera planos sequências ótimos; o que ajudou a consolidar a franquia com o Keanu Reeves.O roteiro é um ponto bem delicado,e a diretora Cathy Yan tenta driblar, mas é evidente onde esse conflito começa e termina em tela. O que ajuda a segurar mesmo é a vontade que atriz Margot Robbie imprime em sua personagem sem transformá-la em uma caricatura ou emular o que havia feito em Esquadrão Suicida. O vilão de Ewan McGregor é bem automático, mas não é ruim o que de certa forma ajuda a composição do filme e evita o flop.Por sua conta em risco assista em um cinema mais próximo, dependendo do dia pode ser uma boa diversão.
* Jornalista e membro da TV O Estado