8ª Feira Literária de Bonito reúne grandes nomes da literatura e rompe limites demográficos através da palavra escrita

Quadrinistas Flib ( Foto: Elis Regina )
Quadrinistas Flib ( Foto: Elis Regina )

A 8ª Feira Literária de Bonito (Flib) terminou no sábado, mas já deixou saudade entre os ávidos consumidores de literatura que estiveram na Praça da Liberdade, local aonde a feira estava instalada. O tema “Literatura: Fronteiras e Travessias” trouxe uma rica programação 100% gratuita, envolvendo leitura, teatro, música, cinema e outras expressões artísticas.

O evento recebeu dezenas de escritores, incluindo grandes nomes nacionais além de oficinas literárias, rodas de conversa e palestras. Os homenageados desta edição foram Helio Serejo, Graciliano Ramos e Aglay Trindade, reconhecidos por suas contribuições à literatura regional e nacional. A Flib foi palco também de lançamentos literários e shows musicais.

Flibinha

No primeiro dia o destaque foi a “Flibinha”, onde as crianças contaram com espaços exclusivos, como a ‘Tenda Flibinha’, e uma programação pensada especialmente para elas. Durante a abertura, ocorreu a premiação do 2º Concurso de Redação da Flib 2024. Participaram alunos da rede municipal de ensino cujo objetivo é valorizar e estimular a criatividade literária entre os estudantes da cidade.

A professora Mariane Morais Rigotti, orientadora dos três vencedores do concurso, pontuou que durante o processo, foram trabalhados textos de Graciliano Ramos e que os alunos buscaram, a partir deles, inspiração nas trajetórias de suas famílias para os textos.

A aluna Giselli Martins conta que sua grande inspiração foi seu avô, um homem nordestino que sofreu com a fome e a seca e encontrou em Bonito um lugar para reescrever sua vida. “Escrevendo a história dele, eu também escrevi a minha e a da minha família. Poder contar sobre o que ele passou foi muito especial, pois, assim, todo mundo pode saber de sua história”, contou.

Para a professora Mariane, participar do concurso, sobretudo para uma escola da área rural, é uma forma de estimular os estudantes a buscarem o seu melhor. “Eu acredito muito no conhecimento e a literatura é uma maneira de nossos alunos poderem buscar novos mundos, viajar um pouquinho mesmo sem sair do lugar. Além disso, é muito importante que esse tipo de concurso exista, pois os incentiva a escrever e, claro, eles adoram ter a oportunidade de ganhar os prêmios”, contou emocionada.

Livraria Flib

Outra atração da 8ª Feira Literária de Bonito foi o espaço para venda de livros com café e artesanato regional. Com 12 expositores e um lounge para debates e lançamentos, o Pavilhão das Letras promoveu a circulação dos livros e ainda permitiu a integração entre os autores e o público. A novidade em 2024 foi o espaço exclusivo para quadrinhos e uma livraria montada pela própria Flib para comercializar as obras dos autores que integram a programação do evento.

Poesia de Vanguarda

No segundo dia de Flib, o poeta de vanguarda Douglas Diegues, apresentou a palestra “Poesia e literatura nas fronteiras desconhecidas do Brasil com o Paraguai”. Diegues iniciou a palestra partir do conto ‘A Pele do Jaguar’, do argentino Jorge Luis Borges, passando pela origem pictórica rupestre e pelos idiomas falados pelos povos originários. Ele também leu poemas em seu “Portunhol Selvagem”, língua de manifesto e identidade estabelecida na fronteira, utilizada pelo poeta como um artefato literário.

Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado, Douglas Diegues comentou a questão das terras indígenas sul-mato-grossenses. “A cultura indígena em Mato Grosso do Sul é um verdadeiro tesouro vivo. Eles têm conhecimentos maravilhosos sobre agricultura, sobre técnicas de canto, sobre tecelagem, sobre várias habilidades e vários domínios, embora eles também tenham muitos conflitos internos. Eles estão vinculados com o cultivo do espírito, com as suas tradições míticas e são um povo muito especial. Não seria melhor a gente se unir, respeitando as suas crenças, respeitando as suas ideias religiosas e as tradições de ambos os lados?”, questionou Diegues.

Para Douglas Diegues é necessário um novo olhar para erradicar os conflitos. “A gente tem que mudar o ponto de vista, a maneira de olhar pra eles. E é isso que o meu trabalho tem como base, criar, aportar subsídios para que a gente crie uma nova visão, para que a gente olhe para eles com olhos novos, com olhos generosos, com o olhar amoroso. A terra não é só dos fazendeiros e não é só dos indígenas. É do universo. É preciso conviver em harmonia e não querer um engolir ao outro. A gente tem que inventar um novo mundo e a base é essa.”, completou o poeta.

Goela Seca

O Lounge do Pavilhão das Letras foi palco de conversas poderosas, como a da poeta Jô Freitas. Em conversa mediada pela professora Karina Vicelli (IFMS/Dourados), a escritora encantou o público com seus poemas, sua trajetória e seu livro de contos ‘Goela Seca’. Esse é o primeiro livro de Jô e nasceu de narrativas que permeiam a periferia e a Bahia, estado onde a autora nasceu.

Essa foi a primeira vez de Jô em Bonito e, segundo ela, uma oportunidade de levar suas letras para uma região diferente, longe do eixo dos grandes centros como São Paulo. Para a poeta, a literatura precisa estar presente em todos os espaços. “Para mim, a ostentação tem que ser o livro. Ele é que deve estar no hype. A literatura deve ser tão acessível quanto o celular, que é muito mais caro e, mesmo assim, está nas mãos de muitas crianças”, afirmou.

Quadrinhos em evidência

No terceiro dia a Flib dedicou um espaço especial para as histórias em quadrinhos com a participação dos quadrinistas Marina Duarte, Dudu Azevedo, Fabio Quill e Fred Hildebrand em uma roda de conversa chamada ‘Entre o traço, a tinta e o texto.’

O paulistano Fabio Quill, autor de contos e HQs, muralista e arteducador falou ao jornal O Estado sobre o cenário dos quadrinhos em Mato Grosso do Sul e também sobre a importância de eventos como a Flib.

“Eu, Marina, Dudu e Fred, somos uma nova geração de quadrinistas aqui do Estado e temos conseguido realizar um feitos inéditos com nossas publicações. Nós estivemos no FIQ (Festival Internacional de quadrinhos), realizado em maio em Belo Horizonte e participado de outras feiras no país inteiro. Acredito que o quadrinho MS tem ressurgido nessa proposta de cruzar as fronteiras alcançando leitores fora, sendo indicados a prêmios e ganhando editais nacionais”.

Quill também salientou a importância dos quadrinistas unirem-se para divulgação de seus trabalhos. “Nós não temos um coletivo organizado como a UBE (União Brasileira de Escritores), por exemplo, mas na camaradagem, juntos podemos estar em outros lugares levando nosso trabalho. Essa troca é muito rica e estar aqui no Flib é muito importante.”, finalizou.

No último dia de Flib o destaque ficou com Antonio Pitanga que participou de uma conversa sobre literatura e o cinema novo.

 

Por Marcelo Rezende

 

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