Países do continente asiático poderão formalizar parcerias comerciais com o Estado
Nos últimos meses, a economia global tem enfrentado desafios que resultaram em uma desaceleração dos mercados e em uma série de incertezas econômicas. Após o anúncio do tarifaço feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na última quarta-feira (2), um dos principais países no cenário de importações — a China — será fortemente afetado. O país asiático recebeu uma tarifa de 54% sobre todas as suas exportações para os EUA. O Brasil também entrou na lista, mas com uma alíquota mais branda, de apenas 10%.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Semadesc, as exportações de Mato Grosso do Sul para os Estados Unidos cresceram 175% nos últimos cinco anos. Em 2020, o valor era de US$ 243 milhões, e em 2024 subiu para US$ 669,5 milhões. Apenas nos dois primeiros meses de 2025, o Estado já exportou US$ 84,7 milhões para o mercado norte- -americano, o que representa 12,6% do total exportado no ano anterior.
Em nota, o secretário da Semadesc, Jaime Verruck, destacou os impactos da nova tarifa, que pode prejudicar produtores rurais e empresas exportadoras. “A nova tarifa de 10% sobre as importações brasileiras, imposta pelo governo americano, deve impactar diretamente a competitividade desses produtos. Esse custo adicional, de cerca de US$ 66 milhões, pode ser repassado ao consumidor americano ou diluído ao longo da cadeia produtiva, afetando desde as empresas exportadoras até os produtores rurais sul-mato- -grossenses.”
Em entrevista ao jornal O Estado, o presidente da Famasul, Marcelo Bertoni, afirmou que, a curto prazo, deve haver uma melhoria estratégica nas exportações de Mato Grosso do Sul para países afetados pelas tarifas impostas pelos EUA. “A imposição de barreiras tarifárias reduz a competitividade de exportadores tradicionais, abrindo espaço para que o Estado amplie sua presença em mercados antes menos acessíveis. Esse redirecionamento da demanda internacional tende a favorecer a produção agropecuária do MS, resultando em maior volume exportado, valorização de preços e novos acordos comerciais.” No entanto, ele ressalta que esse crescimento depende da capacidade do setor de manter regularidade na oferta, qualidade dos produtos e infraestrutura logística adequada
Bertoni também destacou que o Estado poderá se beneficiar de novas parcerias comerciais e da abertura de mercados, especialmente na Ásia e na América Latina. “A abertura de novos mercados, como China, Indonésia e México, somada à manutenção de acordos com grandes compradores, tende a consolidar Mato Grosso do Sul como um dos principais polos exportadores do país.”
Brasil e Mato Grosso do Sul
Apesar de a decisão recente do governo Trump afetar alguns setores da economia brasileira, para o agronegócio, ela pode representar uma vantagem, com o possível aumento das exportações para outros países. O economista Eduardo Matos explica que, para compreender os efeitos das tarifas de Trump — e como elas impactam não apenas o Brasil, mas também Mato Grosso do Sul — é preciso analisar as pautas de exportação de cada país. Segundo ele, a China exporta principalmente produtos industrializados ou semiacabados para os Estados Unidos, itens que, em sua maioria, não fazem parte da pauta exportadora brasileira. Já o Brasil, e particularmente Mato Grosso do Sul, exporta principalmente commodities como soja, milho e carne, além de produtos semiacabados como celulose e certos minérios.
“Dessa forma, os efeitos do tarifaço de Trump sobre as exportações brasileiras e sul- -mato-grossenses não são tão significativos, uma vez que os produtos dos dois países não competem diretamente em muitas áreas. Embora o Brasil seja afetado pelas tarifas, o impacto tende a ser menor em comparação com outras economias”, avalia Matos.
Ele também destaca a relevância de Mato Grosso do Sul na produção de milho, soja e carne bovina, o que pode aumentar sua competitividade global. “Comparado a outros países, especialmente fora da China, o Estado pode se destacar, já que o Brasil possui vantagens em relação a muitos de seus concorrentes no setor agrícola. Produtos como carne, que também são exportados pelos EUA, além de grãos como milho e sorgo, são fundamentais para a pauta exportadora de Mato Grosso do Sul.”
Segundo Matos, alguns países do sudeste asiático e o Japão devem buscar parcerias mais sólidas com o Estado, em busca de produtos de qualidade. “Diante dos últimos acontecimentos, tudo indica um aumento nas relações comerciais entre o Brasil, especialmente Mato Grosso do Sul, e países como Vietnã, Japão e Indonésia.” Ele também menciona a União Europeia como um mercado com grande potencial. “A UE já demanda uma quantidade significativa de commodities do Estado, especialmente carne. Contudo, há barreiras — principalmente sanitárias — que limitam um maior volume de exportações. Com as novas tarifas dos EUA, é possível que haja flexibilizações para tornar esse comércio mais viável.”
João Buchara