Fábrica de celulose faz futuro, reposiciona município e abre horizonte de desenvolvimento

Viveiro de Bataguassu -Foto: Roberta Martins
Viveiro de Bataguassu -Foto: Roberta Martins

Empreendimento deve gerar até 12 mil empregos no pico da obra e já movimenta capacitação profissional, construção civil e expectativas da população de Bataguassu

Foto: Roberta Martins

Há poucos meses, Bataguassu era uma típica cidade de interior, com seu ritmo tranquilo e rotina quase que previsível, apesar dos mais de 23 mil habitantes. Hoje, o município respira expectativa. O anúncio da instalação de uma fábrica de celulose, que no pico da construção mobilizará 12 mil trabalhadores, acendeu um movimento que vai além da economia: famílias sonham com novas oportunidades, jovens se preparam em cursos de qualificação e a cidade se reposiciona no mapa de desenvolvimento de Mato Grosso do Sul.

A nova unidade industrial da Bracell será instalada às margens da BR-267, rodovia que faz parte da chamada “Rota da Celulose” no Estado, e a aproximadamente nove quilômetros do centro urbano de Bataguassu, representando um investimento de R$ 16 bilhões, um dos maiores do país na iniciativa privada.

Para a prefeita Wanderleia Caravina, a chegada da Bracell é um divisor de águas para o desenvolvimento econômico de Bataguassu. “Esse investimento projeta nosso município para o futuro, gerando emprego, renda, novas oportunidades, sendo importante garantir a qualidade de vida da nossa população”, afirmou a chefe do Executivo.

A planta da Bracell terá capacidade anual para processar 12 milhões de metros cúbicos de eucalipto, cultivados em aproximadamente 300 mil hectares de áreas de reflorestamento, já em desenvolvimento em municípios como Santa Rita do Pardo, Ribas do Rio Pardo e Bataguassu.

Em nota, a Bracell informou que está conduzindo os trâmites iniciais para viabilizar o projeto industrial no município, em linha com seu plano de expansão econômica e sustentável no Brasil. “Neste momento, a empresa está em fase de estudos e de cumprimento das exigências legais que subsidiam a análise dos órgãos competentes e garantem a transparência do processo”, dizia trecho da nota.

A Bracell reiterou que, “alinhado às demais iniciativas da empresa, o projeto é pautado pela responsabilidade socioambiental, pelo diálogo aberto com as comunidades e pelo cumprimento rigoroso da legislação, reforçando o olhar atento para gerar valor nas regiões onde está presente.”

A empresa reafirma o que disse o presidente Praveen Singhavi no dia de assinatura do termo de incentivo em maio deste ano. “Estamos animados com as possibilidades que este projeto trará para a região”.

Cidade em transformação

Foto: Roberta Martins

Ao caminhar pelas ruas do município, já é possível perceber o ritmo acelerado, mesmo antes do início da construção da planta. Ou seja, mais do que celulose, a indústria que chega já faz a cidade expandir no horizonte. Terrenos sendo vendidos, casas em construção e um comércio que começa a se expandir para atender à demanda futura. Inclusive, segundo a secretária de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Bataguassu, Maria Elenir, a prefeitura vem se preparando desde o anúncio da implementação da indústria de celulose para que o crescimento ocorra de forma ordenada.

“Um crescimento e um desenvolvimento muito grande para o município e que vai beneficiar em todos os aspectos, porém nós, como gestores de diversas pastas e a administração geral, estamos fazendo de tudo para que aconteça de forma ordenada”, reiterou.

No município, em bairros considerados modelos, a construção de casas está a todo vapor em loteamentos recém-implementados. Conforme o gerente de Emprego e Renda de Bataguassu, Thiago Natan, mão de obra ligada ao setor da construção já está “dificílimo” de encontrar.

“ Pedreiro, servente de obra, hoje em dia, sempre que tem essas vagas anunciadas na Casa do Trabalhador, é uma dificuldade encontrar. Por que já estão empregados com esses investimentos que estão sendo feitos na área da construção civil, especialmente, na construção de moradias. Os investimentos na construção civil têm aumentado significativamente na cidade, significativamente mesmo”, enalteceu.

Vale ressaltar que, segundo a própria Bracell, serão 12 mil pessoas trabalhando no pico da obra da fábrica, o que faz com que as oportunidades atravessem divisas. Thiago revelou que prefeitos de outros municípios já se mostram interessados nas vagas.

“Estamos falando de 12 mil trabalhadores. Bataguassu não terá essa mão de obra, em si, então nós já estamos recebendo muitas pessoas dos municípios próximos na Casa do Trabalhador. Nós recebemos pessoas de Anaurilândia, Brasilândia. Constantemente elas vêm nas entrevistas, querem saber mais. Os secretários desses municípios, os prefeitos, ligam para saber como que está sendo o andamento da contratação, se tem oportunidades”, declarou.

E para atender a esse aumento na população em relação à infraestrutura, o município também já está se preparando, como por exemplo com a implementação de uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento). “Todo crescimento traz suas dores. Mas os impactos negativos podem acontecer se ficarmos de braços cruzados e não formos nos adequando”, declarou o gerente de Emprego e Renda.

Os moradores da cidade já estão sentindo as mudanças. Yolanda Baessa, 28 anos, criada em Bataguassu desde criança, já enxerga uma movimentação maior na cidade. Inclusive, ela já é uma das pessoas da cidade que está trabalhando no escritório da MS Florestal no setor de Recursos Humanos. “Eu acredito que seja algo comum em uma cidade que está se desenvolvendo e que a gente sabe que a quantidade de pessoas que vai chegar é bem grande. Assusta um pouco, mas faz parte do processo de desenvolvimento do município”, contou.

Antes de trabalhar na MS Florestal, Yolanda era funcionária na Casa do Trabalhador. Ela acompanhou de perto o início do processo de qualificação profissional para atender à demanda da indústria que está chegando. “Aqui o intuito, com certeza, é qualificar os moradores para que eles sejam os mais beneficiados com a chegada dessa empresa. Então, a qualificação de mão de obra realmente é algo muito importante para o nosso município e algo que já está sendo desenvolvido aqui”, assegurou.

Segundo ela, os moradores mais antigos da cidade já entenderam e enxergam com bons olhos o crescimento da cidade, o desenvolvimento da região. “Eu acredito que, para uma grande maioria, essa empresa chegando traz novas oportunidades, geração de emprego, valorização do comércio local, visibilidade para Bataguassu. A chegada dessa fábrica faz Bataguassu ampliar horizontes. A gente fura bolha, começa a conhecer pessoas novas, com outras histórias, com outra visão de vida e a gente meio que amplia a nossa forma de enxergar a vida, mesmo vendo que existem outros horizontes”, enalteceu.

Assim como Yolanda, a bataguassuense Daiane da Silva, de 29 anos, também já é uma colaboradora da MS Florestal. Ela trabalha há 4 meses como auxiliar de campo nas florestas de eucalipto. “Com a vinda da fábrica, estão aparecendo mais oportunidades. A fábrica trouxe um novo gás para a cidade, com certeza, eu mesma trabalhava no frigorífico e não me imaginava trabalhando com eucalipto. No entanto que minha rotina mudou totalmente, mas eu estou gostando muito desta parte florestal, sem falar nos benefícios que hoje tenho bem mais”, afirmou.

A proprietária de um restaurante, a catarinense Olga Gerhard, 61 anos, que mora em Bataguassu há 39 anos e sempre foi empreendedora, fala que a população precisa ter calma e que todo mundo ganhará com o crescimento da cidade. “Como sempre tive comércio e há 20 anos esse restaurante que leva meu nome, sou bastante conhecida e acabo escutando muita coisa, mas o que todos precisam fazer é pensar no futuro e que todos podem ganhar com a instalação dessa fábrica. E ter paciência que devagar as coisas vão se ajeitando e comportando toda essa mudança”, comentou.

 

“Qualificar para empregar”

Apesar da construção da fábrica começar somente no ano que vem, no primeiro semestre de 2026, já tem um escritório da MS Florestal funcionando no município com mais de cem colaboradores e ainda, trabalhadores na parte da matéria-prima em si, no cultivo do eucalipto, a silvicultura.

E para atender às demandas já existentes, o município, em parceria com o Senai MS, já está qualificando pessoas na Escola Técnica Municipal. A ideia da prefeitura, desde o anúncio da instalação, é estar um passo à frente das contratações e ter sempre à disposição profissionais qualificados para atender às necessidades da empresa.

“Nós estamos qualificando para empregar. E para sanar esses desafios fizemos um mapeamento e a lacuna entre a oportunidade e desafio está, justamente, na qualificação profissional. Então, com a Escola Técnica do município, nós trazemos a qualificação que a empresa precisa; em contrapartida, a empresa emprega essas pessoas”, explicou Thiago.

O gerente de Emprego e Renda complementou ainda dizendo que os jovens bataguassuenses, ainda em idade escolar, já estão se interessando pelos empregos do futuro na fábrica, que segundo a Bracell, serão cinco mil trabalhadores na operação.

“O jovem já está perguntando para nós, enquanto Casa do Trabalhador, qual é a necessidade de mão de obra que ele pode se adequar para atender à demanda do futuro. Isso, para nós, é maravilhoso: o jovem se interessar pela sua área profissional e isso tudo veio devido a todo esse anúncio, toda essa mudança no desenvolvimento econômico”.

 

“Agarrei a oportunidade”

Recentemente houve a formação da primeira turma do curso de mecânico de máquinas florestais. Uma demanda já da empresa, de acordo com o Thiago, em parceria com o Senai MS. Daniel Verner, de 20 anos e que mora há 11 no município, é um dos recém-formados. Ele conta que a implementação da fábrica gerou curiosidade em buscar conhecimento, apesar de ter interesse em ser mecânico.

“Eu entrei sem saber, até por ser algo totalmente novo, e agora chego ao fim do curso com diversos conhecimentos. Eu tinha um interesse em ser mecânico, porque eu trabalhei em uma fábrica e eu sempre via o trabalho dos mecânicos e com o curso, eu pude ter a oportunidade de ser um mecânico. E como me identifiquei mais com a parte da hidráulica dos maquinários, agora a próxima porta de entrada seria uma especificação dentro desta área”, declarou.

E para quem pensa que, por falar em mecânica e de máquinas florestais, a turma era composta somente por homens, se enganou. Três mulheres estão formadas, uma delas é Rony Pereira de Lima, de 38 anos. Ela, durante 18 anos, exerceu a função de auxiliar administrativo e, assim como muitos na cidade, viu uma nova oportunidade de profissão com a implementação da Bracell.

“ Eu já vim embora para Bataguassu há 18 anos atras em busca de emprego e aqui eu fiquei abraçando as oportunidades que iam aparecendo, como essa de agora. Eu acho que o município vai expandir muito, principalmente nessa área do nosso custo de mecânica. Então eu fiz o curso para me encaixar na Bracell e vou fazer de tudo para conseguir uma vaga”, enfatizou.

Assim como para o Daniel, esse curso foi só o primeiro de muitos. Rony já estuda quais serão as próximas qualificações que irá fazer. “Neste que me formei foram dois meses, mas a mecânica tem um campo muito grande, então tem que seguir buscando conhecimento para desenvolver melhor a função. Até porque, eu achei que nem ia ser escolhida por ser mulher, tem a questão do preconceito, mas deu certo e eu agarrei a oportunidade e absorvi tudo que pude nesse curso”, finalizou.

 

Apoio Senai MS

E, para ajudar na qualificação profissional, como já dissemos, o Senai MS tem sido um parceiro não só da prefeitura, mas da população de Bataguassu. Segundo o diretor regional do Senai em Mato Grosso do Sul, Rodolpho Mangialardo, é feito um estudo na região para que sejam analisadas todas as possibilidades e necessidades locais.

“O estudo é feito, de maneira geral, não especificamente no município no qual a celulose ou a silvicultura vai se implantar, mas em toda a região que a gente possa atender de maneira muito coerente aquilo que está sendo necessário, quais são as carências atuais do setor da silvicultura, em específico e na transversalidade, os empregos indiretos”, explicou.

Inclusive, para o Senai, hoje em Mato Grosso do Sul, a maior demanda é da mão de obra técnica para o chão de fábrica. “Isso é fato, por mais que eu vá trabalhar como técnico ou não, essa é a maior demanda no Mato Grosso do Sul. A mão de obra técnica, além de extremamente valorizada, ainda é muito carente. Então, se a gente não conseguir qualificar, a gente não vai conseguir dar perenidade a esse trabalho. Então, a qualificação profissional dentro desse boom, dessa expansão industrial no Estado, ela é básica, ela é necessária, ela tem que ser fomentada”, assegurou.

 

Celulose em expansão

Mato Grosso do Sul vive uma expansão da indústria de celulose e da silvicultura. Não à toa, já é líder na produção e exportação de celulose no Brasil. A capacidade atual, com quatro linhas de produção em operação, sendo três em Três Lagoas e uma em Ribas do Rio Pardo, é de cerca de 7,5 milhões de toneladas, aproximadamente 28% da produção nacional. No ano passado, a receita de exportação foi de US$ 2,7 bilhões, com quase 5 milhões de toneladas exportadas, 67% da produção estadual.

Foto: Roberta Martins

Entretanto, além da nova fábrica em Bataguassu, uma outra indústria de celulose também está se instalando no Mato Grosso do Sul, no município de Inocência. Lá as obras já foram iniciadas e, com essas duas novas unidades, a capacidade estadual deve superar os 12 milhões de toneladas por ano. Isso que existem outras possibilidades, como a abertura de uma segunda linha de produção em Três Lagoas, estudo de uma nova planta ao norte do Estado.

Para o presidente do Sinpacems (Sindicato das Indústrias de Papel e Celulose do Estado de Mato Grosso do Sul), Elcio Trajano Junior, o setor vive um momento histórico e o Estado já está consolidado como um dos maiores polos de celulose do mundo. “Já não é apenas um “boom passageiro”, mas sim uma base sólida de desenvolvimento econômico que transformou o Estado em referência global. O horizonte é de expansão contínua. Só com as novas fábricas já anunciadas, até 2032, o setor deve gerar cerca de 100 mil empregos diretos e indiretos, isso equivale a 14 mil contratações por ano, de acordo com um estudo da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores)”, defendeu.

Ainda conforme Elcio, a combinação única de terras aptas, clima favorável, tecnologia florestal de ponta e capacidade logística em evolução contribuíram para que o Estado se tornasse um polo tão competitivo na área de celulose e silvicultura. “Além disso, Mato Grosso do Sul conseguiu atrair grandes grupos internacionais com um ambiente de negócios favorável. O resultado é que, em pouco mais de uma década, o Vale da Celulose já é reconhecido em grandes mercados, como a Ásia, que valida nossa visão estratégica”, justificou.

E para que tenhamos matéria-prima para atender toda essa demanda, a área plantada com eucalipto poderá superar 2,6 milhões de hectares até o fim da década. Ao todo, os investimentos, entre fábricas e florestas, previstos, também até o fim da década, são de cerca de R$ 100 bilhões, levando em conta as duas unidades já anunciadas mais as possibilidades futuras.

De acordo com o governador do Estado, Eduardo Riedel, Mato Grosso do Sul tem trabalhado para oferecer um ambiente de negócios estável e competitivo. “Estamos criando as condições necessárias para o sucesso de projetos dessa magnitude, com impacto direto na economia, na geração de renda e na qualidade de vida da população”, afirmou.

Fotos: Roberta Martins
Por Rafaela Alves

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