Calor em ônibus da Capital faz viagens parecer jornada ‘dantesca’

Motoristas encaram sensação térmica superior a 50ºC e os passageiros relatam sofrimento com os bancos fervendo

Em sua ‘Divina Comédia’, Dante Alighieri relata o inferno como um ciclo de nove círculos de sofrimento localizados dentro da Terra. A obra-prima do poeta italiano, que viveu entre 1265 e 1321, deu origem ao termo dantesco para descrever situações de grande horror, pavorosas e medonhas. Ou, se o gênio da literatura mundial vivesse nos tempos atuais, as viagens de ônibus em Campo Grande durante as quebras de recordes de altas temperaturas registradas.

Sem ar-condicionado, equipamento que deixa de se tornar um mero luxo para garantir a própria saúde em tempos de calorão, os coletivos da Capital viram verdadeiros fornos para passageiros e motoristas, deixando evidente uma exposição ao desgaste, que começa já com as longas esperas em pontos e terminais e a rotineira lotação.

O Estado embarcou ontem (6) em duas das linhas mais movimentadas, a 087 (Terminal General Osório/Terminal Guaicurus) e 070 (Terminal Bandeirantes/Terminal General Osório), que cortam a cidade de Sul a Norte, no horário entre 11h30 e 14h, considerado os pontos de mais calor – e preocupação – para quem tem de enfrentar as ruas. Munidos com termômetros especiais usados por especialistas em meteorologia da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), o resultado é estarrecedor: para os motoristas, que trabalham ao lado do motor, a temperatura pode chegar a mais de 50ºC. Aos passageiros, os bancos passam de 46ºC quando expostos ao sol.

E as impressões eram até otimistas. Na plataforma do Terminal Morenão batiam entre 35ºC e 37ºC. Melhor que o recorde de 41ºC registrado na segunda-feira (5), mas mesmo assim perigoso. Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), é recomendada uma temperatura de 23ºC a 26ºC em ambientes internos, durante o verão. O órgão federal relata que, além do mal-estar, a exposição excessiva ao calorão pode desencadear problemas de saúde, como o chamado estresse térmico.

Carregando sua filha de 9 meses vestindo apenas fraldas, a auxiliar de limpeza Luana Trindade, 18 anos, era um retrato do sofrimento causado pela alta temperatura. Água vira um elemento básico de sobrevivência, não apenas para amenizar o calor. “Infelizmente não tenho com quem deixar a criança e somos obrigados a enfrentar essa situação”, disse, saindo da região do Jardim Campo Belo, onde foi visitar familiares, para o Santa Emília. Uma distância de quase 20 quilômetros.

Situação semelhante à vivida pelas atendentes Gisele Galvão, 32, e Kimberleen Fermow, 26, que são obrigadas todos os dias a encarar os coletivos – carinhosamente chamados por elas de ‘forninhos’ – para percorrer os mesmos 20 quilômetros para sair do Jardim Los Angeles, onde moram, para o Coronel Antonino, onde trabalham.

Nas bolsas, além da água, estão uniformes reservas para o caso do suor constante incomodar. O que não está é a disposição. “Já chegamos cansadas no serviço, não tem jeito, não tem escolha. É tirar a empolgação que sobrou e não escorreu com o suor”, brincou Kimberleen. Confira o material completo e outras notícias.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *