Criado em 16 de setembro de 1949, o desenho animado do Papa-léguas e do Coiote é lembrança certa na vida de muita gente. A dupla é uma criação do diretor de arte Chuck Jones, que teve a ideia para o desenho no ano anterior, em 1948 a pedido dos estúdios da Warner Bros. A história foi desenvolvida pelo escritor Michael Maltese. Para quem não sabe, Chuck Jones foi um grande mestre nos desenhos animados, dirigindo e criando grande parte dos episódios dos ‘Looney Tunes’, como Pernalonga e companhia. Talvez seu mais lembrado legado seja esta série de desenhos onde o desesperado coiote, fã número 1 dos produtos da fábrica ACME, que manufatura de tudo, de patins a foguetes, apetrechos que ajudam, ou deveriam ajudar o pobre faminto a finalmente pegar sua presa. Os episódios mostravam a incansável perseguição do faminto Willy Coiote, (que talvez você não saiba, mas ele tem um nome – Willie E. Coyote) ao rápido pássaro do deserto, o Papa-léguas.
O Papa-léguas, sagaz como é, sempre consegue escapar ileso de todas as artimanhas e armadilhas espalhafatosas de Willy. Esperto e veloz, ele sempre faz com que o Coiote caia em suas próprias emboscadas. O desenho não possui diálogos, com exceção do “bip-bip” do Papa-léguas. Também aparecem algumas palavras escritas, geralmente em cartazes, por parte do Coiote. Engraçado como a gente torcia para o Willy conseguir ao menos uma vez realizar seu sonho. Eu mesmo vivia torcendo por ele. Aliás, este é um dos raros casos em a audiência torce pelo sucesso do vilão, não porque o herói não mereça, mas porque o coiote é tão insistente, otimista e tão ingênuo que chama a atenção para si. A gente torce para que uma das armadilhas mirabolantes do pobre coiote finalmente dê certo. Mas nunca dá. Pelo menos não nos desenhos da Warner.
No sitcom de animação Family Guy, “Uma Família da Pesada” criado por Seth MacFarlane para a Fox, em uma paródia, chega ao fim a saga de Willy. Finalmente ele tem êxito em seu incansável intuito, após capturar o Papa-léguas e jantá-lo com um amigo, Willy entra em depressão, passa a beber e acaba se convertendo a uma igreja evangélica. Esse episódio entrou para a história de Uma Família da Pesada, que se dedica a tirar sarro de acontecimentos reais e também de fatos da cultura pop. Além das mirabolantes perseguições, uma curiosidade aparece em praticamente todos os episódios. Nomes científicos (fictícios, é claro) para o coiote e o pássaro são sempre trocados e fazem um trocadilho com a condição deles no desenho, como, por exemplo, “Acelerati incredibus” para o Papa-Léguas e “Carnivorous vulgaris” para o Coiote.
As aventuras sob o comando de Chuck Jones duraram 23 episódios, de 1949 até 1962, quando Chuck saiu dos estúdios Warner pra cuidar da sua própria produtora de animações. Depois de sua saída, mais 24 episódios foram produzidos até 2003, mas sem dúvida a safra sob a batuta de Chuck traz a melhor fase do desenho. Quando criou o personagem, Chuck tinha em mente o público americano e acreditava que ele se identificaria com o coiote. “O coiote é tudo o que queremos ser: um perfeccionista em qualquer objetivo”.
A revista TV Guide incluiu Wile E. Coyote em sua lista de 2013 “The 60 Nastiest Villains of All Times”, (Os 60 vilões mais desagradáveis de todos os tempos). Apesar disso, o personagem segue amado pelos fãs, que já declararam que, “Coyote pode ser um vilão, mas ele ensina uma lição, para nunca parar de tentar.”. A fama do coiote não para por ai! O lendário guitarrista Mark Knopfler, ex Dire Straits criou uma música chamada “Coyote” presente no álbum de 2002 The Ragpicker’s Dream.
Passados 71 anos Willy, o coiote segue incansável na sua sanha para capturar o Papa-léguas e divertindo gerações em todo o mundo. Eu mesmo, se estiver zapeando os canais de televisão e ver que está passando o desenho, paro o que estou fazendo e dou boas risadas, como dava há muitos anos.
(Texto: Marcelo Rezende)