A Avenida Ernesto Geisel, que voltou a atrair a atenção da população pela retomada das obras ontem (11) no Córrego Anhanduí, também é palco de uma antiga ocupação de moradores de rua. Eles estão no cruzamento das Avenidas Ernesto Geisel e Manoel da Costa Lima e o número de ocupantes tem aumentado a cada dia. Atualmente, barracos construídos de lona ocupam ambas as margens do córrego. A última desocupação no local ocorreu há dez meses, mas os moradores de rua, em vulnerabilidade social, afirmam não ter para onde ir e por isso retornam aos poucos.
Uma dessas pessoas é Márcia Nascimento, de 36 anos, que conta morar embaixo da ponte há cinco anos. Além das dificuldades, ela precisa enfrentar a incerteza de quem pode ser retirado de lá a qualquer momento. “O pessoal da prefeitura vive dizendo que vai tirar a gente daqui, mas nós continuamos voltando porque é aqui que está nossas coisas, nosso trabalho”, disse. São dezenas de famílias que moram no cruzamento e, apesar de sobreviver da ajuda de terceiros, aos poucos tentam construir algo, de acordo com a realidade em que eles vivem. “Querem que nós deixemos tudo, que a gente saia apenas com a roupa do corpo. Mas isso [os barracos], é tudo que a gente tem na vida e eles querem juntar tudo e jogar na caçamba de um caminhão”, lamentou.
Na mesma região, estão os comerciantes. A ocupação que ocorre há mais de uma década desanima aqueles que trabalham nos arredores do cruzamento. Para o comerciante, Osmar José, de 45 anos, principal dilema está na falta de segurança que o cenário representa. “É difícil para todo mundo, imagino que seja para eles, mas nós também enfrentamos problemas por conta dessa ocupação. O cliente para aqui e olha preocupado, não é fácil fazer orçamento ou tentar vender algo porque eles sempre estão por perto”, relatou. Já outro comerciante, que não quis se identificar, apontou que, mesmo que haja a retirada dos moradores, a população acaba incentivando a retomada, pois além de alimentos, muitos continuam doando dinheiro. “Eles passam o dia bem, conversam com os motoristas, mas chega a ser triste ver esse cruzamento após às 20h, tudo que eles passam o dia juntando é levado pelo vício”, revelou.
Para Osmar, a situação é recorrente e faltam políticas públicas. Para ele, que iniciou as atividades na região há cerca de seis meses, o número de ocupantes sobe mais a cada dia. “É complicado falar: ‘tirem eles de lá’, mas para onde eles irão?”, questiona. O comerciante ainda completa. “Primeiro, esse problema era na antiga rodoviária, agora passou para cá, se tirar daqui só vai para outro lugar.”
Em outubro de 2019, a prefeitura mobilizou esforços para retirar os ocupantes, em uma ação que contou com uma parceria da Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) e da SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) para evitar riscos, aos quais os ocupantes se expõem. Porém, mesmo que os barracos tenham sido removidos, a região continuou sendo ocupada. A reportagem entrou em contato com a SAS, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. Já a Sisep, responsável pelas obras no Córrego Anhanduí, apontou que já foi estudada a criação de barreiras físicas, mas a instalação de cercas, ou alambrados, não detém a retomada dos ocupantes.
(Texto: Amanda Amorim/Publicado por João Fernandes)