Mais uma fakenews foi checada, desta vez sobre os dez representantes da esquerda brasileira que teriam assinado um documento enviado ao G7 pelo presidente da França, Emmanuel Macron, pedindo a “internacionalização da Amazônia”. Por meio do projeto de verificação de notícias da Agência Lupa tudo foi analisado.
“Lista de assinaturas no documento encaminhado ao G7 por Macron para medidas de internacionalização, (invasão), da Amazônia (…) Pasmem, vejam quem assinou o pedido para que o G7 “tomasse a Amazônia do Brésil” ”
Legenda de imagem publicada no Facebook, com 1,5 mil compartilhamentos até as 19h30 do dia 28 de agosto de 2019
FALSO
A lista que aparece na imagem analisada pela Lupa não é de documento encaminhado ao G7 pelo presidente da França, Emmanuel Macron, e nem pede medidas para a internacionalização ou invasão da Amazônia. As pessoas mencionadas são signatárias de um manifesto publicado no jornal Libération em 27 de julho. O texto pede que o mandatário francês rejeite o acordo entre União Europeia (UE) e Mercosul, e que condicione o comércio entre os dois países à adoção de regras ambientais e trabalhistas mais duras.
O texto foi assinado por 51 pessoas, incluindo dez políticos brasileiros. São eles os deputados federais Glauber Braga (PSOL-RJ), Ivan Valente (PSOL-SP), Talíria Petrone (PSOL-RJ), David Miranda (PSOL-RJ), Paulo Pimenta (PT-RS), Gleisi Hoffmann (PT-PR), o senador Humberto Costa (PT-PE), o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, e os líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile.
Os outros 41 signatários são políticos franceses, a maioria filiada aos partidos Europe Écologie Les Verts (EELV) e La France Insoumisse (FI). Ambos fazem oposição a Macron. O texto foi publicado em 27 de julho, antes, portanto, do início dos grandes incêndios na Amazônia.
Na época, o ministro de Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, visitava o Brasil. Dois dias depois da publicação do texto, ele teria uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro (PSL). O brasileiro cancelou a reunião alegando “problemas de agenda” e, no mesmo horário, fez uma transmissão ao vivo cortando o cabelo.
O documento publicado no La Libération faz duras críticas à política ambiental de Bolsonaro. “Esperamos que Jean-Yves Le Drian tenha reservado na sua agenda uma visita às margens da floresta amazônica, onde o desmatamento conheceu uma aceleração de 88% desde 2018”, diz. Entretanto, em momento algum o texto fala em intervenção na Amazônia, ou em internacionalização do bioma.
Os políticos questionam a disposição de Bolsonaro em manter o Brasil no Acordo de Paris – e cumpri-lo. “Para se estar de acordo com os princípios do Acordo de Paris, é necessária determinação política e um engajamento sem falhas na luta contra o aquecimento climático. É isso que falta notoriamente ao governo de Jair Bolsonaro”, dizem.
Há, ainda, críticas diretas ao acordo entre UE e o Mercosul. “Além de favorecer a importação de matéria prima pela Europa, ele deve reduzir consideravelmente as barreiras aduaneiras para a exportação de produtos manufaturados [europeus]. A indústria local [no Mercosul], já frágil, será dizimada”, diz o texto. O texto aponta que o acordo deve aumentar, também, as emissões de dióxido de carbono.
Por fim, os deputados pedem que Macron “recuse o tratado de livre-comércio entre a UE e o Mercosul e condicione o comércio entre os dois países à adoção de normas mais restritivas em assuntos relacionados ao meio-ambiente e aos trabalhadores brasileiros”. (Rafael Belo com assessoria)