Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade faz alerta
Mais da metade das cidades brasileiras possuem implementado o transporte coletivo – ao todo 2.901 – e, conforme estudos Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), é preponderante nesses locais um atraso na reformulação do setor. Enquanto o primeiro mundo já se discute eletromobilidade e a importância de efeitos sociais da integração das pessoas nos municípios, na América Latina a realidade comum ainda é de pouca perspectiva.
“Falta no Brasil, o Poder Público redefinir melhor as suas atenções para um Transporte Público que atenda necessidades do futuro. Seja no que diz respeito à melhor qualidade de vida das pessoas, ou ainda nos efeitos ambientais de uma transformação, que encaro como urgente. Ainda está fora da pauta! E pior que isso, a expectativa hoje é de, apenas em 2021, essa discussão avançar nas ações do Governo Federal e no Congresso Nacional. Há escassez de recursos.”, alerta o coordenador nacional do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para Todos (MDT), Nazareno Stanislau Affonso, que participou recentemente de um seminário de empresários do segmento em Brasília, o qual teve também a participação do presidente do Consórcio Guaicurus, João Resende.
O executivo da concessionária responsável pelo serviço em Campo Grande-MS, destaca ainda que apenas a aplicação de mais recursos nos municípios não seria o suficiente para a modernização necessária ao Transporte Coletivo. “Discordo que, só o discurso do ‘mais Brasil e menos Brasília’, resolva o nosso dilema. Temos bons exemplos de reordenação do setor na Colômbia, onde a integração de medidas foi o que promoveu um plano de mobilidade bastante funcional. Só que lá eles não trabalham com política setorizada como aqui, onde cada pasta do Poder Público trabalha cuidando somente do seu propósito. A solução dos problemas das cidades devem ser vistos no âmbito global”.
Estrutura e ‘perda de momento’
Já, o coordenador do MDT explica ainda o real motivo do Brasil não ter conseguido viver antes a agenda de reformulação do Transporte Público. Mesmo com toda atmosfera de transformação, criada durante uma década, em via da expectativa do país sediar no breve período de dois anos uma Copa do Mundo e uma edição das Olimpíadas. Para Stanislau Affonso, pesou a estrutura da maioria das prefeituras nesse setor.
“Sabemos como passa por um momento difícil os municípios. Acontece que, na fase em que houve maior irrigação de verba, os prefeitos, talvez por imediatismo, não souberam aproveitar o dinheiro para melhorias significativas desse setor. É comum em cidades com 400 mil habitantes, a pasta de Transporte e Infraestrutrura ter no quadro reduzido de técnicos. E o que você faz se tiver apenas dois engenheiros? Por isso deve haver um plano nacional para lidarmos com o problema”, questiona o especialista que luta por uma agenda nacional para a mobilidade urbana.
O que dizem experts no assunto?
“Eletromobilidade, é o futuro, algo que o mundo já debate”
Nazareno Stanislau Affonso – coordenador do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade (MDT)
“63% das pessoas que deixaram o transporte público, retornariam a ele se a tarifa fosse R$ 1 mais barata”
Otávio Vieira Cunha Filho – presidente executivo da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP)
“É preciso ter coragem de criar maneiras de financiamento para transporte coletivo e enxergar o cidadão como cliente”
Felício Ramuth, prefeito de São José dos Campos e vice-presidente de Mobilidade da Frente Nacional de Prefeitos (FNP)
Investimento em inovação apaga ‘tempo de violência’ em Medellin (El País)
Respectivamente em Medelín, Colômbia: Metrô e teleféricos na segunda maior cidade do país. (Foto: Agência EFE)
A violência gerada pelo narcotráfico na Colômbia pode ter manchado o passado da cidade de Medellín, epicentro da luta dos cartéis, mas hoje é uma prova viva de que, com investimento social, em especial na mobilidade urbana, é possível combater o crime com sucesso.
Não é segredo para ninguém que a página mais escura da história da cidade, com 2,1 milhões de habitantes e a segunda maior do país, foi escrita por Pablo Escobar, líder do Cartel de Medellín. Na sua época dourada, entre as décadas de 1970 e 1980, essa estrutura criminosa chegou a movimentar 80% da cocaína que era consumida nos Estados Unidos e a faturar US$ 100 bilhões ao ano.
Escobar aproveitou da necessidade dos jovens humildes da cidade, que não tinham futuro, e os transformou em seus sicários. Ao longo de 15 anos, o derramamento de sangue iniciado pelo narcotraficante e seus aliados de Escobar em Medellín matou 60 mil pessoas. “A partir desse momento, os habitantes de Medellín entenderam que ou promovíamos uma mudança ou morríamos todos”, disse em entrevista à Agência Efe o prefeito da cidade, Federico Gutiérrez.
Criou-se então um consenso nas altas esferas políticas sobre a urgência de realizar grandes obras de infraestrutura às periferias para fazer com que os habitantes participassem do processo de transformação necessário para mudar a região.
Desse modo, Medellín passou de uma cidade onde as pessoas tinham medo de viver há 20 anos para ser a única com o país com metrô. Depois vieram o teleférico, as escadas elétricas e o bonde. Isso fez com que Medellín fosse eleita em 2013 como a cidade mais inovadora do mundo, ganhando de Nova York e Tel Aviv. E qual é a fórmula: “investir dois pontos percentuais do PIB em atividades de inovação, ciência e tecnologia”, diz o prefeito da cidade colombiana, Federico Gutiérrez. (Reportagem: El País)