“Pensar na Capital e em MS, sem a Santa Casa, é pensar em pessoas morrendo”
A rotina de trabalho agora é outra. No escritório do Partido Progressistas, Esacheu Nascimento recebe a classe política, sindicalizados e líderes comunitários. A Santa Casa de Campo Grande, hospital por onde ficou por quatro anos como presidente, passou a estar no coração. Esacheu renunciou ao cargo para se dedicar a pré-candidatura a prefeito de Campo Grande. O maior hospital de Mato Grosso do Sul passou por ampla reestruturação: construções e reformas, investimentos em equipamentos de alta tecnologia, diminuição do índice de infecção hospitalar, conclusão da Unidade do Trauma, valorização dos profissionais. Segundo o ex-presidente, todo ressurgimento do hospital se deve ao grupo de conselheiros administrativos e fiscais. A intervenção, em meados de 2005, deixou legado de dívidas. “Uma intervenção irregular e desastrada de um grupo que ficou oito anos, a título de resolver o problema financeiro detectado na época, na ordem de R$ 37 milhões”, revelou. O hospital, hoje, está entre as três melhores Santas Casas do país. Se deixar de funcionar por completo, um caos ocorre no setor da saúde do Estado: “Uma série de pessoas ficarão sem receber tratamento médico à altura que a população merece”, resumiu o ex-presidente. Esacheu defende o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à pandemia e revela que muitos partidos se colocaram à disposição para apoiá-lo como pré-candidato.
Esacheu Nascimento deixa a direção do hospital colocando-o entre os três melhores do País, fato que o credencia como adversário político do prefeito nas eleições municipais
O Estado: Quem vê a Santa Casa não imagina a situação dela alguns anos atrás. É possível afirmar que existe uma Santa Casa antes e depois do Dr. Esacheu?
Esacheu: A Santa Casa é um hospital com 102 anos. Sempre foi um hospital conduzido pela Sociedade Civil Organizada de Campo Grande, um grande porto seguro na assistência à saúde. O que ocorreu no ano de 2005, foi uma intervenção irregular e desastrada de um grupo que ficou oito anos, a título de resolver o problema financeiro detectado na época, na ordem de R$ 37 milhões. Neste período, destruíram todo o prédio, os equipamentos e, ainda, devolveram com uma dívida de R$ 168 milhões. Então, nós, o grupo que pertence à Sociedade Civil Organizada, que sempre dirigiu a Santa Casa, por força de decisão judicial, voltou a administrar o hospital. Desde então, não temos medido esforços para recuperar o patrimônio, para pagar as dívidas e recuperar a estrutura. De fato, reestruturamos, mas não é apenas o Dr. Esacheu Nascimento, mas os 18 conselheiros de administração, os 6 conselheiros fiscais. Este grupo de 24 pessoas que esteve à frente durante todo esse período. Nós estamos com os recursos para terminar as reformas que são necessárias, estamos aguardando apenas a aprovação da Vigilância Sanitária. Ao longo destes quatro anos, vários equipamentos foram adquiridos, através de doações de instituições, por compras direta com participação dos parlamentares, emendas parlamentares, enfim, de fato, a Santa Casa quando nós pegamos, era uma outra, que não oferecia segurança aos pacientes, com um índice de infecção hospitalar muito grande e, também, não oferecia condições para os profissionais de saúde que ali trabalhavam. Nós enquadramos hoje a Santa Casa como um dos três melhores hospitais do Brasil, ou seja, outros hospitais filantrópicos, como a Santa Casa de Porto Alegre, a Santa Casa de Belo Horizonte.
O Estado: Nós podemos dizer também que a Santa Casa reconquistou a confiança do campo-grandense, se internar no hospital é uma questão de escolha. Em um caso hipotético, caso a Santa Casa parasse, qual seriam os danos?
Esacheu: Nessa hipótese, nós temos toda a certeza de afirmar que seria o caos à saúde. Muitas pessoas morreriam. Para se ter ideia, nós estamos fazendo cerca de 40 mil cirurgias por ano, das mais variadas especialidades, transplantes cardíacos, de rins, de córneas, além do trabalho muito sério, realizado por equipes médicas em cirurgias de alta complexidade, como para doença de Parkinson, AVC, para a área de oncologia, na assistência à quimioterapia, quanto para cirurgia de oncologia. Pensar em Campo Grande e no nosso Estado sem a Santa Casa, é pensar em pessoas morrendo, e em uma série de pessoas sem receber o tratamento médico à altura que a população merece.
O Estado: O hospital se encontra em um bom momento administrativo, o que te levou a deixar a diretoria da Santa Casa?
Esacheu: O trabalho que nós realizamos na Santa Casa, nesses 4 anos, aos poucos foi adquirindo o reconhecimento da população. A partir do segundo semestre do ano passado, nós começamos a receber importantes lideranças da nossa comunidade, tanto religiosa, quanto lideranças empresariais, lideranças comunitárias, sempre pedindo que nós colocássemos o nome para eleição municipal, como prefeito. No primeiro momento, eu fiquei com pé atrás, pois o compromisso era focado na recuperação da Santa Casa, mas as propostas vieram com intensidade agora no início do ano, e eu acabei seguindo a sugestão de colocar meu nome à candidato a prefeito. É um propósito de fazer pela cidade da mesma forma que estamos fazendo na Santa Casa, de reconstrução, vamos dizer assim, de Campo Grande. Investindo na moral, na infraestrutura, para que a cidade possa voltar a ter uma relação de cidadania entre os cidadãos e as autoridades públicas. Foi essa motivação que nos levou a deixar a Santa Casa, e posso dizer que nós deixamos a Santa Casa organizada, ela possui um plano estratégico de 3 anos para ser executado, e deixei ela com esse grupo que ajudou a reconstruí-la, apenas saiu o presidente e assumiu o vice.
O Estado: Um dos marcos da sua gestão, foi a entrega da Unidade do Trauma, ela pode ser usada no enfrentamento à COVID-19?
Esacheu: A unidade do Trauma era um caso emblemático da má gestão, tanto pública, quanto do hospital. A construção estava paralisada, e nós fomos procurar autoridades que poderiam ser parceiras, como o Ministério da Saúde, o Governo do Estado, e a prefeitura que administrou um recurso repassado pelo Detran. Nós então colocamos a mão na obra, dentro de 23 ou 24 meses, conseguimos terminar a obra e em mais de 50% equipar, operacionalizar. Mas, desde setembro do ano de 2018, o recurso que vem é apenas para alta complexidade. Ainda não temos recurso de apoio para manutenção desse importante espaço hospitalar. Hoje nós estamos tocando o hospital com os mesmos recursos que já estavam contratados de quando a Unidade do Trauma estava inacabada. Em janeiro deste ano, a técnica do hospital alertou para a possibilidade de contaminação pelo coronavírus no Brasil e consequentemente aqui no Estado. Em fevereiro, nós já tínhamos protocolos sendo montados para o enfrentamento a essa nova doença, como esses pacientes transitariam e onde ficariam segregados, para não contaminar os demais pacientes do hospital. A Santa Casa tomou todas as medidas preventivas e as autoridades destinaram um outro hospital público da capital para ser referência. Mas nós estamos preparados, e colocamos à disposição do poder público a Unidade de Trauma, que estaria bloqueada para internação destes casos, com 10 leitos de UTI, que podem ser ampliados para a área de centro cirúrgico, que agora está desocupado com a diminuição dos acidentes. Nós analisamos a situação toda com preocupação e seguimos todas as orientações técnicas para esse enfrentamento. Até agora, a Santa Casa não recebeu nenhum paciente com a COVID-19, todos os casos suspeitos tiveram os resultados dos exames negativos e, atualmente, o hospital recebe os pacientes não contaminados pelo novo coronavírus, pois está como apoio do Hospital Regional, que é a referência para a doença.
O Estado: Como enxerga o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro em relação as medidas de prevenção?
Esacheu: Parece que a única autoridade que está agindo com bom senso, no Governo Federal é o presidente Jair Bolsonaro. Existe a necessidade de segregação dos pacientes contaminados, do isolamento social para os idosos e aqueles que possuem algum déficit de imunidade, isso é preciso. Nós não vemos de parte das autoridades de saúde essa preocupação, estão tratando todos da mesma forma, mantém 89% das pessoas isoladas, sabendo que quando eles colocarem o nariz para fora da porta, eles poderão ser contagiados e a gravidade vai ocorrer. E esse contágio vai ser mais demorado, mas os estudiosos têm comprovado que países que tomaram posição de não isolar toda a população, mas sim de fazer teste para todos aqueles que apresentassem sintomas, e deixasse a população livremente transitar, ir e vir, tiveram sucesso maior no controle, países que fizeram isso que o Brasil está fazendo, tiveram o número de mortes muito grande, como é o caso da Itália, da França e de outros países. Portanto, nós entendemos que o presidente está agindo corretamente e nós esperamos que o ministro da Saúde possa ouvir, pois nós não temos uma verdadeira pandemia de coronavírus no Brasil, mas poderemos ter uma verdadeira crise econômica.
O Estado: No ano passado, o senhor participou de uma reunião com o presidente. Essa aproximação resultou em algo positivo?
Esacheu: O presidente Jair Bolsonaro, desde a posse, chamou as 10 maiores Santa Casas para se informar de como as coisas estavam andando na área da saúde. Nos pediu apoio e nós fornecemos esse apoio ao presidente e apoiamos também a indicação do atual ministro de Saúde, com compromisso de ele ter um olhar para as Santa Casas, corrigindo o déficit que é imposto todos os meses para atender o SUS (Sistema Único de Saúde), as tabelas não são atualizadas há cerca de 10 anos, e ele tomou atitude na aprovação de leis no Congresso, recomendando aos bancos oficiais, especialmente, para que fizessem empréstimos para ter participação das dívidas das Santas Casas, que não são decorrentes de má gestão, mas sim do subfinanciamento da saúde no Brasil.
O Estado: O senhor revelou que irá se candidatar para prefeito de Campo Grande nas eleições deste ano pelo PP.
Esacheu: Nós estamos iniciando o trabalho. Eu já me afastei da Santa Casa. O novo presidente já tomou posse, o economista, Heber Xavier. Nós estamos iniciando uma discussão com todos os segmentos de Campo Grande para preparar um programa de gestão que seja aquilo que a cidade quer. Estamos nos organizando porque as convenções devem ter início a partir de julho, e nós queremos ser uma opção para a sociedade de Campo Grande, para que a gente possa construir um novo tempo. Tempo de prosperidade, de desenvolvimento econômico, de efetiva assistência social para nossa população carente. Tenho certeza que juntos nós resolveremos os problemas que permanecem gestão após gestão.
O Estado: O senhor tem conversado com outros partidos, pensando em coligação, podendo até mesmo o nome do vice vir desta parceria?
Esacheu: Temos conversado.
(Texto: Amanda Amorim)