A deputada Camila Jara anunciou na última semana que dará início a segunda etapa do seu tratamento contra um câncer de tireóide, chamado de iodoterapia. Segundo especialistas consultados pelo O Estado, este tratamento é utilizado tanto em algumas doenças benignas quanto em casos específicos de câncer de tireoide e faz parte da rotina terapêutica em diversos serviços do país. Em Mato Grosso do Sul, o procedimento está disponível de forma parcial, o que obriga alguns pacientes a buscarem atendimento em outros estados, mesmo com cobertura pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
O tratamento é amplamente utilizado e acessível, sendo oferecido pelo SUS desde 2014. A Portaria nº 67/2014, publicada no DOU (Diário Oficial da União), que inclui os procedimentos de iodoterapia para carcinoma diferenciado da tireoide no Sistema, prevê que a autorização, o controle e a avaliação do procedimento sejam realizados conforme o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Carcinoma Diferenciado da Tireoide, do Ministério da Saúde.
De acordo com a médica cirurgiã oncológica e especialista em cabeça e pescoço, Dra. Rosana Leite, o tratamento pode ser dividido em duas frentes. A primeira é a iodoterapia ablativa. “É um tratamento com Iodo-131 para destruir células tireoidianas malignas ou remanescentes após cirurgia de câncer de tireoide, eliminando tecido doente ou metástases, indicada principalmente para doenças benignas, como o hipertireoidismo. Esse tipo de tratamento nós conseguimos fazer em Campo Grande. O Estado tem estrutura para isso”, explica.
Já a segunda modalidade, que envolve doses terapêuticas mais altas, acima de 100 a 150 milicurie, é utilizada principalmente em pacientes com câncer de tireoide que apresentam indicação específica após avaliação médica. Nesse caso, segundo a especialista, o procedimento ainda não é realizado em Mato Grosso do Sul. “Infelizmente, nós não temos essa dose terapêutica no Estado. Os pacientes com câncer de tireoide que precisam dessa dosagem acabam tendo que ir para outros estados para realizar o tratamento”, afirma.
Apesar de o SUS e os planos de saúde cobrirem o procedimento fora do Estado, a médica ressalta que a situação gera transtornos. “É um inconveniente, porque o Estado já poderia oferecer esse serviço. Na prática, seria necessário apenas um quarto com proteção radioativa para realizar o tratamento”, pontua.
As indicações da iodoterapia variam conforme o diagnóstico. Nas doenças benignas, ela pode ser indicada em casos selecionados de hipertireoidismo. Já nos casos de câncer, a decisão depende de fatores prognósticos avaliados antes da cirurgia, como características do tumor e análise da peça cirúrgica. “Essa indicação é definida pelo cirurgião oncológico ou cirurgião de cabeça e pescoço, em conjunto com o paciente”, explica Dra. Rosana Leite.
A iodoterapia é realizada por via oral, geralmente na forma de um líquido semelhante a um xarope, após a administração do iodo radioativo o paciente precisa cumprir um período de isolamento, principalmente por questões de segurança radiológica. Segundo a especialista, esse tempo diminuiu significativamente ao longo dos anos. “Há 10 ou 15 anos, os pacientes ficavam internados de três a cinco dias. Hoje, esse período é, em média, de 24 a 48 horas”, afirma.
Durante esse período e nos dias seguintes, algumas orientações são fundamentais. “A orientação é a ingestão abundante de líquidos, já que o iodo é eliminado principalmente pela urina e pelas glândulas salivares. Também é recomendado permanecer em ambientes bem ventilados e evitar contato próximo com gestantes e crianças pequenas, especialmente na primeira semana após o tratamento”.
“A gente orienta cuidado maior na primeira semana, principalmente com recém-nascidos e mulheres grávidas. Mas hoje se sabe que, seguindo as recomendações, a radiação não é tão deletéria quanto se imaginava no passado”, completa a médica. Em casos específicos, como pacientes que estão amamentando, as orientações são ainda mais rigorosas.
A especialista também chama atenção para o fato de que a iodoterapia não é indicada para todos os pacientes com câncer de tireoide, apesar da alta incidência da doença. “A indicação não é rotineira. Ela é feita apenas nos casos em que o tumor apresenta alguns fatores prognósticos específicos”, explica.
De forma geral, a iodoterapia é considerada um procedimento seguro e eficaz quando bem indicada, contribuindo para o controle da doença e para a redução do risco de recidiva, seja em condições benignas ou em determinados tipos de câncer de tireoide.
Por Inez Nazira
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