Funcionários da Santa Casa retornam ao trabalho nesta quarta-feira após receberem 13º salário

Funcionários durante a mobilização no início da manhã de ontem, na frente da Santa Casa - Foto: Nilson  Figueiredo
Funcionários durante a mobilização no início da manhã de ontem, na frente da Santa Casa - Foto: Nilson Figueiredo

Pagamento será feito em duas parcelas e deve ser finalizado no dia 10 de janeiro

 

Após o segundo dia consecutivo de greve, os funcionários da Santa Casa de Campo Grande aceitaram a contraproposta oferecida pela Santa Casa para o pagamento do 13º salário, o que encerrou a paralisação no final da tarde desta terça-feira (23). De acordo com Lázaro Santana, presidente do SIEMS (Sindicato de Enfermagem de Mato Grosso do Sul), o pagamento será feito em duas parcelas, sendo que uma será paga nesta quarta-feira (24) e a segunda parcela deve estar na conta no dia 10 de janeiro.

O acordo foi aceito por 90% dos funcionários e veio após a entidade receber cerca de R$ 4,5 milhões pagos pela municipalidade, que correspondem à um aporte financeiro por excedente de produção. Já para o pagamento da segunda parcela, o hospital deve contar com o apoio do Estado.

Imagem da reunião com dirigentes da Santa Casa e representantes dos funcionários – Foto: Roberta Martins

“Tivemos a reunião hoje no Ministério Público, não chegamos em um acordo. Segunda-feira vai ter outra reunião no Ministério Público. De lá vai sair uma decisão sobre de onde virá a segunda parcela do décimo terceiro. A gente vai deixar de pagar fornecedores, comprar alguns materiais, que é para isso, para adiantar a primeira parcela do décimo terceiro e voltar à rotina do hospital, porque os pacientes estão sendo muito prejudicados.”, explicou Alessandro Junqueira, diretor administrativo da Santa Casa.

Até então, o atendimento à população estava sendo realizado de forma parcial, conforme acordado entre os sindicatos e a administração do hospital para garantir a assistência dos pacientes. A partir de hoje, o atendimento deve ser normalizado.

O presidente do Sintesaúde (Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de MS), Osmar Gussi, que representa cerca de 1500 trabalhadores, que atuam na linha de frente, tais como administrativo, higienização e trabalhadores do raio-x, confirmou o pagamento do 13º.

“Amanhã está garantido pela direção das 8h, hoje já vão providenciar a transferência, a documentação e amanhã das 8h às 10h está creditado na conta”, confirmou.

De acordo com Lázaro a decisão pela paralisação foi tomada após a comunicação, no dia 19, de que não haveria recursos para o pagamento do 13º, previsto para o dia 20.

“Decidimos, em caráter emergencial, fazer uma assembleia para deliberar se aceitaríamos a proposta da Santa Casa de pagar o 13º em três parcelas, a partir de 25 de janeiro, ou se iríamos paralisar. Decidimos suspender as atividades”, relatou.

O presidente do Sindicato de Radiologia, José Carrijo, relatou que, anteriormente, a direção do hospital apresentou a proposta de quitação do 13º em três parcelas, entre janeiro e março de 2026, condicionada a repasses do Estado, mas sem nenhuma garantia imediata, o que resultou na adesão à greve.

De acordo com a gestão da Santa Casa, o pagamento do 13º estava dependendo do repasse de aproximadamente R$ 9 milhões.

O movimento grevista não envolveu apenas os enfermeiros da instituição, mas foi aderido pelos radiologistas, funcionários administrativos, além de trabalhadores da copa, cozinha e lavanderia.

Médicos também protestaram, mas ainda não há previsão de pagamento dos salários atrasados e nem do 13º para a categoria. Para tentar solucionar a situação, a categoria deve entrar com ação judicial contra o hospital.

Antes de receber o aporte, os sindicatos solicitaram auxílio do governo para amenizar a situação. Porém, em nota, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) esclareceu que não existe pactuação para que o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul seja responsável pelo pagamento do 13º salário dos funcionários da Santa Casa. A pasta ressaltou que, nos últimos anos, de forma extraordinária, realizou o pagamento de parcelas extras aos hospitais filantrópicos do Estado, como auxílio no custeio e no cumprimento de obrigações financeiras.

A SES informou ainda que todos os repasses financeiros referentes à contratualização da Santa Casa são realizados por meio de pagamentos ao município de Campo Grande, sempre no quinto dia útil. De janeiro a outubro, o Estado repassou R$90.773.147 ao hospital, o que corresponde a um valor mensal de R$9.077.314,70. Em novembro, houve um acréscimo de R$ 516.515,89, elevando o repasse mensal para R$ 9.593.830,59.

“O Estado está integralmente em dia com suas obrigações. Cabe destacar que, além dos repasses obrigatórios, em 2025 o governo estadual já destinou mais R$ 25 milhões em recursos oriundos da bancada federal para atender a Santa Casa de Campo Grande”, declarou

Conselho Regional de Medicina alerta que tem recebido denúncias sobre falta de insumos – Foto: Roberta Martins

Em relação aos médicos, o presidente do Sintesaúde/MS (Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Mato Grosso do Sul), Osmar Gussi, afirmou que a situação é grave e pode comprometer diversos serviços do hospital. Segundo ele, áreas como ortopedia e oncologia já funcionam de forma precária. “Oncologia é uma situação complicada, porque se trata de câncer, se parar com a medicação, volta à estaca zero, complica muito”, alertou.

O dirigente reforçou que a assistência aos pacientes está sendo preservada. “50% estão na mobilização e 50% na assistência. Isso não prejudica em nada os pacientes. Estamos preservando os pacientes, dando a assistência necessária”, explicou. O Sintesaúde representa cerca de 1.500 trabalhadores da Santa Casa, incluindo profissionais da higienização, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas e nutricionistas, exceto médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, farmacêuticos e técnicos de radiologia.

Durante o ato, trabalhadores também chamaram atenção para a importância de setores de apoio, como a limpeza hospitalar. Segundo relatos, a paralisação desses profissionais pode inviabilizar cirurgias, já que a higienização das salas é obrigatória entre um procedimento e outro.

Vale ressaltar que em razão da paralisação dos profissionais de saúde e das equipes de apoio, que afeta diversas áreas do hospital, a Santa Casa precisou ajustar temporariamente as rotinas de visita aos pacientes. Conforme comunicado interno, será permitida a entrada de apenas um familiar por paciente, com direito a uma única visita diária, realizada no período da manhã, às 11h. O acesso deverá ocorrer exclusivamente pela porta de vidro localizada no térreo. As visitas estão autorizadas tanto para pacientes internados na UTI quanto nas enfermarias. Já os pacientes da área de Trauma deverão receber visitas pela entrada específica do setor.

Senador aciona Ministério da Saúde

Em entrevista à Rádio J FM, o senador Nelson Trad Filho, o Nelsinho Trad, disse que a situação da Santa Casa precisa de uma intervenção federal, já que os repasses feitos pelo Governo de MS e pela Prefeitura de Campo Grande não está sendo suficientes para conter o iminente colapso do hospital, que é referência para a saúde do Estado.

Para tentar encontrar uma saída para a crise financeira e operacional, o senador por Mato Grosso do Sul afirmou que entrou em contato com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para que se tenha uma resposta emergencial para a instituição, por meio de uma força-tarefa envolvendo União, Estado, prefeitura e articulações com a bancada estadual em Brasília.

“O horizonte é agir agora, de forma emergencial, para estabilizar a situação e, depois, buscar as soluções estruturais“É como um paciente com hemorragia: primeiro estanca o sangramento, depois trata a causa. O emergencial precisa vir antes de tudo”, afirmou.

Nelsinho ainda disse que colegas de parlamento como Vander Loubet, Teresa Cristina e Geraldo Resende estão em busca de possíveis soluções emergenciais para sanar o problema. Ainda de acordo com ele, a intenção é evitar o colapso completo da entidade, porque isso afetaria ainda mais os serviços prestados em outras unidades como UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e outros hospitais.

CRM sugere intervenção

Diante do cenário, o vice-presidente do CRM/MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul), Flávio Freitas Barbosa, afirmou, nesta terça-feira, que uma das saídas seria uma intervenção judicial na Santa Casa e que a instituição está à disposição para participar das negociações entre a Santa Casa, o prefeitura de Campo Grande e o Governo de MS, a fim de encontrar uma solução para o impasse financeiro que assola da entidade.

Ainda de acordo com o vice-presidente, o CRM foi informado que existe a possibilidade do interrompimento temporário de procedimentos, como no setor pediátrico, radiologia, cirurgia vascular, entre outros.

Para evitar que situação do hospital afete ainda mais os serviços prestados pela população, na semana passada, conforme já reportado pelo jornal O Estado, o MPMS (Ministério Público de MS) abriu procedimento civil para que uma comissão formada pelos entes envolvidos e outras autoridades faça uma auditoria para averiguar as condições financeiras da Santa Casa. Questionado sobre a possibilidade do CRM participar, Flávio Freitas afirmou que a entidade está à disposição.

“Neste momento a maior preocupação do Conselho é a melhor assistência do paciente e para o ano que vem podemos sentar à mesa para mediar um novo modelo de gestão e trazer a melhor solução para todos”, disse o vice-presidente que esclareceu que questões financeiras não competem à entidade.

O Conselho recebeu denúncias sobre as condições de trabalho oferecidas pelo hospital, bem como queixas sobre o atraso recorrente de salários.

“A instituição hoje tem três modalidades de contrato com os médicos, um contrato com o pessoal jurídico, um contrato com autônomo, um contrato com no regime CLT. Talvez esse não seja o melhor caminho, porque todos devem receber quase as mesmas condições”, afirmou, reforçando que há profissionais sem receber salários desde o final do primeiro semestre de 2025.

Em nota, a prefeitura de Campo Grande afirmou que está em dia com as obrigações financeiras junto à Santa Casa, inclusive realizando aportes extras de R$ 1 milhão por mês desde o início do ano.

Em relação ao movimento grevista, o Executivo disse que tem adotado medidas para colaborar com a instituição neste momento, sempre mantendo o diálogo e buscando alternativas para contribuir com a mitigação dos impactos à população.

Até o fechamento desta edição, os funcionários da Santa Casa aguardavam a contraproposta do hospital e seguiam em protesto do hospital.

Denúncia aponta falta de ar-condicionado em alas do Hospital Regional

Foto: Roberta Martins

Uma denúncia encaminhada ao Jornal O Estado aponta que diversas alas do HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) ficaram sem ar-condicionado desde o último sábado (20), em meio às altas temperaturas registradas em Campo Grande. Segundo os relatos, a situação teria afetado todo o segundo andar da unidade, incluindo áreas destinadas a bebês, o centro obstétrico e a UTI Neonatal.

De acordo com as informações recebidas pela reportagem, pacientes e recém-nascidos permaneceram em ambientes sem climatização adequada, o que agravou o desconforto causado pelo calor intenso dos últimos dias. A denúncia também indica que, por se tratar de ala cirúrgica, não é permitida a entrada de ventiladores no segundo andar.

Internada desde o dia 15, a estudante de psicologia Emily Nunes, que deu à luz a um menino nesta semana, relatou à reportagem as dificuldades enfrentadas durante o período sem ar-condicionado. Transferida de ala na manhã desta terça-feira (23), ela afirmou que a situação persiste em alguns setores. “Onde eu estou agora, no quinto andar, a maioria dos quartos não tem ar há muito tempo, mas ainda dá para usar ventilador. Já no segundo andar não dá, porque é ala cirúrgica, não pode entrar nada. Está todo mundo no calor, principalmente os bebês”, disse.

Emily também relatou que a UIN (Unidade Intermediária Neonatal) ainda estava sem climatização. “Hoje de manhã estava insuportável. Os bebês estavam todos sem roupinha por causa do calor. Saí da UIN por volta das 10h30 e não tinha ar”, afirmou.

Procurado pela reportagem, o HRMS informou que o problema ocorreu devido a uma falha elétrica que danificou parte do sistema e que o ar-condicionado central já foi reparado. A nota foi enviada ao Jornal O Estado e segue na íntegra:

“O HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) informa que o ar-condicionado central já foi consertado. O sistema apresentou falha em decorrência de uma pane elétrica no quadro de energia, que ocasionou a queima de uma bomba.”

Apesar do comunicado, pacientes relatam que alguns setores seguem sem climatização adequada, especialmente áreas voltadas ao atendimento neonatal. A reportagem segue acompanhando a situação.

 

Por Inez Nazira, Gabriel Gill, Geane Beserra e Ana Clara Julião

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