Contratualização com São Julião é vista como possível solução para superlotação da Santa Casa

Secretário de Saúde de MS mantém conversa com a instituição, que receberia pacientes crônicos transferidos

Para tentar solucionar a superlotação afeta a ABCG (Associação Beneficente Santa Casa de Campo Grande), o secretário de Saúde de Mato Grosso do Sul, Maurício Simões afirmou, na quinta-feira (18), que está em tratativa com o Hospital São Julião para firmar uma possível contratualização com a unidade hospitalar, a fim transformá-la em um “hospital de retaguarda”, como ele mesmo classifica. Caso a parceria saia do papel, os pacientes crônicos da Santa Casa e do Hospital Regional seriam levados para esses leitos, desafogando, assim, o fluxo de atendimento e evitando a lotação dos dois hospitais de referência além da sua capacidade.

Simões justificou a necessidade de se manter contratos de prestação de serviços com mais um hospital porque, de acordo com ele, uma unidade de alta complexidade como a Santa Casa não pode receber pacientes crônicos. Assim, uma forma de resolver esta situação seria remanejando pacientes estáveis, mas crônicos, para outras unidades, seja em Campo Grande ou no interior.

Com essa mudança de fluxo de regulação abriria espaço para que a Santa Casa e o Regional possam receber pacientes em quadros agudos que aguardam por vagas ou para aqueles socorridos pelo SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e Emergência) e outros serviços de socorro, que muitas vezes precisam ser acomodados pelos corredores do hospital por falta de leitos, como acontece na Santa Casa.

O secretário detalhou que a ideia central dessa nova regulação, que inclui o São Julião é receber o paciente agudo, ou seja, aquele que necessita de uma estabilização imediata por ter passado por alguma situação súbita, dar todo suporte necessário e, dentro de 3 a 5 dias, caso já estabilizado, mas não recuperado totalmente, transferi-lo para outra unidade, deixando o leito vago para o próximo paciente agudo que der entrada na instituição.

“Um hospital de alta complexidade não pode ter pacientes que se cronifica, porque ele já não deveria estar mais lá, por isso, tem a que ter outro hospital para que ele seja transferido, deixando leito na Santa Casa para quem é agudo e que, às vezes, está na UPA [Unidade de Pronto Atendimento], mas não consegue vaga em hospital nenhum, porque os crônicos estão ocupando o espaço ao invés de irem para outra unidade”, explicou.

E completou: “Nós já estamos delineando um projeto com o São Julião para que ele possa absorver os pacientes crônicos, tanto do Hospital Regionalm quanto da Santa Casa”.

Simões destaca que a conversa ainda é inicial, mas avalia que seria uma solução viável para a alegada falta de leitos hospitalares, problema que, para ele, pode ser resolvido com a gestão do fluxo que paciente irá seguir na rede de saúde.

“A gente precisa parar de falar em novos leitos e vagas hospitalares e falar em fazer uma boa gestão da trajetória do paciente. A trajetória do paciente é que precisa estar sendo constantemente monitorada para que ele tenha a assistência necessária no momento necessário em todas as fases da atenção”, declarou.

O secretário ainda frisou que o governo de MS tem investido nos hospitais do interior para que mantenham boas condições e profissionais e possam receber transferências de pacientes que, em um primeiro momento, seriam enviados para a Santa Casa. De acordo com o titular da pasta, o encaminhamento de pessoas para outras cidades que não seja Campo Grande também contribui para a regulação do fluxo de pacientes.

“Nós temos no interior alguns hospitais interessantes do ponto de vista físico, mas onde ainda faltam profissionais especializados para fazer esses atendimentos de alta complexidade, gerando essa migração para a Santa Casa. Então temos investido nessas estruturas no interior para que possam receber os pacientes também”.

Organização da regulação

Ao jornal O Estado, a Superintendente de Gestão do Hospital São Julião, Jéssyca Mendes, disse que o projeto apresentado pelo Governo do Estado insere a unidade hospitalar como parte da nova organização de regulação de pacientes das microrregiões de MS que está sendo implementada pela SES (Secretaria Estadual de Saúde). Mendes ainda afirmou que o projeto ainda está em análise interna e o hospital está propondo ajustes dentro do que foi apresentado por Simões, que esteve em visita ao hospital na semana passada.

“Eles apresentaram um projeto para o Hospital São Julião para que ele fosse colocado dentro dessa nova organização, como um hospital de leitos de retaguarda para os hospitais de alta complexidade. No momento, estamos em fase de análise desse projeto e fazendo alguns ajustes dentro do que foi proposto, para que a gente volte a conversar com a Secretaria Estadual de Saúde”, pontuou.

Pode ajudar

Questionado se de fato uma futura contratualização com hospitais de retaguarda, como classificados pelo secretário de Saúde, poderia desafogar o fluxo de pacientes na Santa Casa, o diretor de Negócios e Relações Institucionais da Santa Casa, adiantou que “pode ajudar, mas não resolve totalmente”.

O gestor aponta que a maior demanda, e que acaba gerando a superlotação, ainda vem do setor de traumas e que os pacientes transferidos geralmente estão passando por casos clínicos e de baixa complexidade.

Por sua vez, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou, por meio de nota, que recebeu a proposta apresentada pela pasta estadual, que segue em análise da equipe técnica.

Com os entes envolvidos ainda estudando a proposta, a contratualização será possível apenas em 2026.

Por Ana Clara Julião e Rafaela Alves

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