O Governo de Mato Grosso do Sul afastou compulsoriamente o investigador Augusto Torres Galvão Florindo, preso pela Polícia Federal na última sexta-feira (28) enquanto recebia cerca de R$ 160 mil em propina. A decisão foi oficializada na edição desta terça-feira (2) do Diário Oficial do Estado e assinada pelo corregedor-geral da Polícia Civil, delegado Clever José Fante Esteves.
A medida leva em consideração a prisão em flagrante, posteriormente convertida em preventiva, do servidor, que integrava o quadro efetivo da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e estava lotado na Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras). O afastamento permanece válido enquanto durar a prisão.
Além disso, o investigador teve suspensos o acesso aos sistemas internos da polícia, como Sigo e Infoseg, e o direito a férias. A portaria também determinou o recolhimento da arma funcional, da carteira de identificação e de todos os bens públicos sob responsabilidade do agente.

Flagrante e esquema de propina
A Polícia Federal prendeu Augusto Torres no momento em que ele recebia um pacote com o valor aproximado de R$ 160 mil. O dinheiro era entregue por Marcelo Raimundo da Silva, ex-guarda municipal com histórico de envolvimento em contrabando e descaminho. Segundo as investigações, a quantia seria paga ao policial em troca da facilitação das atividades de grupos criminosos que atuam na região de fronteira.
A operação teve início após denúncia anônima que alertou para um saque de grande quantia em dinheiro destinado ao pagamento de propina. A PF verificou o histórico criminal da pessoa citada na denúncia e, com base nas informações, passou a monitorar o grupo até realizar as prisões.
O caso reacendeu uma preocupação recorrente na segurança pública do Estado: a infiltração de servidores em esquemas ligados ao contrabando na faixa de fronteira. O próprio secretário de Justiça e Segurança Pública, delegado Antônio Carlos Videira, afirmou nesta segunda-feira (1º) que a prática não é isolada e que há procedimentos internos em andamento para apurar possíveis desvios de conduta relacionados ao crime organizado.
Repercussão e defesa da promotora
Durante a apuração, foi informado que a esposa de Augusto Torres é a promotora Luciana Moreira Schenk, que atuou por quase dez anos no Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial (Gacep/MS), especializado em investigar abusos, ilegalidades e omissões cometidas por agentes de segurança pública.
Após a repercussão do caso, a Associação Sul-Mato-Grossense dos Membros do Ministério Público (ASMMP) divulgou nota repudiando tentativas de associar a promotora ao crime praticado pelo marido. A entidade destacou que publicações nas redes sociais levantaram comentários ofensivos, alguns com “potencial caráter criminoso”, e reiterou apoio integral à promotora, reconhecida por sua conduta ética e trajetória exemplar.
A associação informou ainda que tomará providências para preservar a honra e a segurança institucional da integrante do Ministério Público.
Próximos passos
As investigações da Polícia Federal continuam e devem aprofundar a possível participação de outros servidores no esquema de facilitação ao contrabando. Internamente, a Corregedoria da Polícia Civil mantém procedimentos para apurar responsabilidades e eventuais vínculos de agentes com organizações criminosas que atuam na fronteira.
Confira as redes sociais do Estado Online no Facebook e Instagram