Nova definição de febre muda conduta de pais e pediatras: saiba quando medicar as crianças

FOTO: NILSON FIGUEIREDO
FOTO: NILSON FIGUEIREDO

SBP atualiza parâmetro e considera febre a partir de 37,5°C; mães de Campo Grande relatam como lidam com o sintoma no dia a dia

A febre em crianças ganhou nova definição da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), que passou a considerar o sintoma quando a temperatura corporal atinge 37,5°C ou mais, medida na axila. A atualização busca alinhar o Brasil às diretrizes internacionais e orientar pais e cuidadores sobre a importância de observar não apenas o termômetro, mas o comportamento geral da criança.

No CRS Tiradentes, em Campo Grande, mães relataram à reportagem como lidam com a febre dos filhos e o que pensam sobre a nova recomendação.
A dona de casa Nicole, que aguardava atendimento com a filha, contou que ainda segue o hábito de esperar a febre subir antes de procurar o posto de saúde.

“Eu espero. Quando dá 39 eu venho pro posto. Já vi 38 e 37,5, mas me mandaram voltar pra casa. Dou remédio em casa, vejo se melhora. Só venho se não baixar”, disse.

Prefiro pecar por excesso
Para a gestora Paola Nogueira, mãe de João Vicente, de 1 ano e 6 meses, o medo e a insegurança de ser mãe de primeira viagem pesam na decisão.
“Por ser o primeiro filho, com 37,3 eu já dou dipirona e falo com a pediatra. Se passa disso e não melhora, levo no pronto atendimento. Prefiro pecar por excesso”, contou.

Paola diz que monitora de perto as reações do filho após medicá-lo. “Dou a dipirona e fico vendo em quanto tempo a febre volta. Sempre tenho dúvidas, porque não sei se é Covid, H1N1 ou bronquiolite, que ele teve aos 10 meses.”

Sou a mãe que medica a qualquer sinal
A jornalista Tamires Santana, mãe de Miguel, de 1 ano e 7 meses, diz que o comportamento do filho costuma ser o primeiro sinal de alerta. “Percebo a febre pela temperatura corporal ou se ele fica mais desanimado. Já fico em alerta a partir de 37. Medico com dipirona ou novalgina, espero um tempo e meço de novo pra ver se baixou ou subiu. Se não melhora em 24 horas, levo no hospital.”

Tamires afirma que prefere agir rapidamente. “Sou a mãe que medica a qualquer sinal. Se mediquei e não baixou, ou baixou mas voltou, é hospital. Se é algo simples, passa com medicação. Se não passa, é porque tem alguma coisa.”

Medico a criança, não a febre
A também jornalista Zana Zaidan, mãe do pequeno Téo, adota uma postura mais tranquila e observadora. “Primeiro dou banho morno, água geladinha e visto uma roupa leve. Se ele está ativo, brincando, eu nem medico. A regra que aprendi com um pediatra e sigo até hoje é: a gente medica a criança com febre, e não a febre em si.”

Zana diz que o estado geral é o que define a conduta. “Se está dormindo bem, comendo e bebendo água, está tudo bem. A febre está ali por um motivo e não tem por que medicar só pra abaixar. Só levo ao médico se percebo sinais de alerta, como prostração ou falta de apetite. A orientação que recebi é esperar até três dias, mas, se noto algo diferente, não espero.”

Ela ainda menciona uma dúvida comum entre os pais: “Nem sempre é consenso entre os médicos a dose certa de dipirona. Uns dizem que é uma gota por quilo, outros não. Isso confunde.”

O bem-estar da criança deve guiar a conduta
A pediatra da Unimed CG, Kamilla Moussa, em entrevista exclusiva ao O Estado, explica que a atualização da SBP segue evidências científicas recentes sobre as variações naturais de temperatura, especialmente em bebês e crianças pequenas.

“A partir de 37,5°C já se observa uma resposta inflamatória ou infecciosa mais consistente. O objetivo é evitar diagnósticos errados e o uso desnecessário de medicamentos”, afirmou.
Segundo Kamilla, o comportamento da criança deve ser o principal critério para decidir quando medicar. “Se ela está ativa, aceitando líquidos, brincando e sem dor, não há necessidade de dar antitérmico apenas porque a temperatura subiu. O remédio serve para aliviar o desconforto, não para baixar números.”

A médica explica que o novo parâmetro também busca reduzir o uso automático de antitérmicos. “A febre é uma defesa natural do corpo contra infecções. Quando observamos o estado geral da criança, conseguimos evitar riscos e efeitos colaterais desnecessários.”

Ela ressalta, porém, que febres mais baixas não devem ser ignoradas. “Febre baixa não significa que nada está acontecendo. É essencial ficar atento a sinais como sonolência excessiva, dificuldade para respirar, recusa de líquidos, manchas na pele, vômitos persistentes ou convulsões. Nessas situações, o atendimento médico deve ser imediato, independentemente da temperatura.”

Para Kamilla, informação e orientação são as melhores formas de garantir a segurança das crianças. Ela afirma que o foco deve estar no bem-estar da criança — e não apenas no termômetro.

Por Suelen Morales

 

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