“Mauricio de Sousa: O Filme” é a grande estreia da semana

Foto: Reprodução
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Longa mostra desde a infância do maior quadrinista brasileiro até suas inspirações e ‘nãos’ ao longo da carreira

“Desenho não dá futuro nem dinheiro para ninguém!”. É quase impossível imaginar, mas essa frase foi dita a Mauricio de Sousa, um dos maiores quadrinistas do Brasil, que construiu a partir de seus personagens, o império nacional e internacional da ‘Turma da Mônica’. Nesta quinta-feira (23), o pai da Mônica, Magali, Cebolinha, Cascão e Bidu terá sua trajetória contada nas telas dos cinemas brasileiros com o longa ‘Mauricio de Sousa: O Filme’.

Com direção de Pedro Vasconcelos (‘Fala Sério, Mãe!’ e ‘Dona Flor e seus Dois Maridos’), o filme reconta a história de Mauricio desde a sua infância, a relação com os pais e os primeiros passos, e momentos marcantes que tornaram realidade o seu sonho de se tornar desenhista. A trama traz um olhar pessoal e sensível para a vida do artista, com referências que o formaram, como sua avó Benedita, conhecida nos quadrinhos como Vó Dita; da descoberta e paixão pelos quadrinhos à construção de uma carreira considerada impossível na época, o longa mostra a coragem de Mauricio em sustentar suas ideias, histórias e personagens.

Quem dá vida a Mauricio não poderia ser outro se não o próprio filho, Mauro Takeda de Sousa (inspiração para o personagem Nimbus), além de Elizabeth Savalla, como a Vó Dita, responsável por contar histórias de terror para a criançada, Thati Lopes, como Marilene, primeira esposa de Mauricio e mãe de Mariangela, Mônica, Magali e Mauricio Spada.

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‘O Walt Disney brasileiro’

Em 2016, a rede britânica BBC News chamou Mauricio de ‘Walt Disney brasileiro’. Comparação de peso, mas a trajetória do quadrinista nem sempre foi regada a arte: de engraxate a entregador de marmitas em Mogi das Cruzes, o jovem Mauricio se inseriu no jornalismo – onde as tiras em quadrinhos eram inicialmente publicadas, anteriormente aos gibis – como repórter policial, em 1954.

Foi na redação do jornal Folha da Manhã, hoje Folha de S.Paulo, que a vida do artista mudou. Em busca do sonho, ele entra com seus desenhos no local, mas logo é enxotado por redator, que disse ‘Desista! Desenho não dá futuro!”. Chateado, ele estava saindo da redação já sem esperança, mas o jornalista Mário Cartaxo olhou seu material e o contratou como repórter policial, contanto que continuasse a se aperfeiçoar no desenho.

Ele ficou cinco anos escrevendo e ilustrando esse tipo de reportagem. Em 1959, Mauricio criou o cãozinho Bidu, seu primeiro personagem aprovado pelo jornal.

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Criação

Prestes a completar 90 anos, Mauricio possui mais de 200 empresas parceiras, mais de 4 mil produtos licenciados e criou cerca de 400 personagens. Retratar todo esse percurso não é tarefa fácil.

Para a Folha de S.Paulo, o diretor Pedro Vasconcelos revelou que passou anos envolvido na produção do longa, pinçando com o próprio Mauricio, histórias que considerou essenciais para pintar um retrato do que o artista considerava fiel. Mauro também auxiliou no processo, que descobriu um novo lado do pai.

O roteiro evita passar por momentos sombrios de Mauricio, escolhendo representar sua história com um ‘filtro’ lúdico e divertido, que levará a família toda para a frente das telas de cinema. “Para seguir o tom dos quadrinhos, não cabiam certas questões. Eu não quis nem saber do que fosse obscuro. Mauricio se sentiu confortável, claro. Não fazia questão de expor tudo mesmo”, disse o diretor a Folha. Mas, para Mauro, um dilema familiar sempre presente na vida do pai acabou escorrendo para o longa. “O trabalho foi como seu filho primogênito, e por muitas vezes veio em primeiro lugar, antes das funções de marido e pai”.

Em exibição e coletiva de imprensa exclusiva, o portal Adoro Cinema também conversou com o diretor, que revelou um fato curioso sobre a produção do filme.

“Não sei se vocês conseguiram perceber isso, [mas em] 99% do filme, a gente está com a câmera travada, não tem movimento nenhum e as cenas acontecem dentro desses quadrinhos”, revelou o cineasta sobre o formato da tela, que tenta reproduzir o quadro de uma HQ para que lembrasse o tom divertido da obra original.

A ideia teria surgido após pensar em como milhões de brasileiros cresceram com os personagens de Mauricio por meio dos gibis. “Todo mundo ali brincando, se divertindo ali dentro [dos quadros] e eu falei: ‘Cara, tem que ser um filme divertido, leve, gostoso, como a gente reconhece a obra dele'”.

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Recepção

Janda Montenegro, do portal CinePop, destaca o acerto da produção na escolha de Mauro para interpretar Mauricio. “Ter conseguido Mauro Sousa embarcando nesse projeto é, sem dúvidas, o maior acerto e o grande forte do filme, não tanto pela sua semelhança física óbvia, mas, acima de tudo, pelo grande carisma do ator. Mauro consegue tirar o peso de tudo com um bom sorriso amigável, uma voz suave e uma expressão de quem saiu direto das HQs. Não fosse uma pessoa real, diríamos que ele teria sido fruto da imaginação do Mauricio de Sousa”.

Andreza Nunes, do portal Medium, evidencia que a cinebiografia é feita com o seu inspirado ainda vivo, o que traz ainda mais precisão em cada parcela de vida contada.

“O filme se destaca ao equilibrar precisão histórica e sensibilidade na representação dos momentos formativos de Maurício de Souza, proporcionando ao público a compreensão de sua trajetória profissional e dos vínculos e experiências que moldaram sua visão criativa. A interpretação cuidadosa do elenco, aliada à atenção aos detalhes da vida familiar, transforma a cinebiografia em um registro vivo e perspicaz, capaz de ressoar tanto com quem conhece a obra quanto às novas gerações”.

 

Por Carolina Rampi

 

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