O novo ouro verde do MS: biometano, a energia que nasce da ciência e move o futuro

No coração do Brasil, usinas de biometano reforçam o protagonismo de Mato Grosso do Sul na revolução verde nacional. (Imagem/IA)
No coração do Brasil, usinas de biometano reforçam o protagonismo de Mato Grosso do Sul na revolução verde nacional. (Imagem/IA)

Mato Grosso do Sul se consolida como referência mundial em energia limpa com a maior usina de biometano do planeta e políticas que unem inovação, ciência e sustentabilidade

 

O mapa da energia mundial está sendo redesenhado e no centro dessa transformação, o Brasil surge como potência verde. Enquanto o planeta enfrenta a urgência da descarbonização e busca reduzir a dependência de combustíveis fósseis, o país aposta em um ativo que conhece bem: a bioenergia.

Colheita mecanizada de cana. (Foto: João Carlos Castro)

Mas é em Mato Grosso do Sul, território de grandes extensões agrícolas e políticas públicas voltadas para sustentabilidade, que esse movimento ganha escala e forma. O Estado, que já foi sinônimo de fronteira agrícola, agora se firma como fronteira energética, liderando um novo ciclo industrial com o biometano como protagonista.

Resultado de um processo que converte resíduos orgânicos, como a vinhaça da cana-de-açúcar e a torta de filtro, em combustível limpo, o biometano é apontado como o combustível do futuro. E o futuro, como mostram os números e os investimentos, já começou.

Do bagaço ao tanque: a virada verde de Mato Grosso do Sul

Caminhão movido a biometano. (Imagem Ilustrativa)

O avanço da bioeconomia sul-mato-grossense tem base sólida. Segundo a Biosul (Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul), o Estado conta hoje com 22 usinas em operação, todas produtoras de etanol hidratado e bioeletricidade. Sendo que, 14 delas exportam energia excedente e três já produzem etanol de milho, fortalecendo uma matriz energética diversificada e autossustentável.

Colheita de cana. (Foto: João Carlos Castro)

A produção de cana-de-açúcar atingiu 48,3 milhões de toneladas na safra 2024/25, com previsão de crescimento de 4,5% na safra seguinte. O etanol deve avançar de 4,3 bilhões para 4,7 bilhões de litros no mesmo período, enquanto o açúcar cresce 30%, chegando a 2,6 milhões de toneladas.

Esses números sustentam um protagonismo inédito: Mato Grosso do Sul é hoje o segundo maior produtor de etanol de milho do Brasil e o quarto de cana-de-açúcar e bioeletricidade. A bioenergia já representa 17% do PIB industrial estadual, movimentando R$ 5,8 bilhões e gerando 33 mil empregos diretos, com massa salarial anual de R$ 1,3 bilhão.

Mas o dado mais simbólico talvez seja outro: mais de 90% da matriz energética do Estado é limpa, vinda de fontes renováveis como eólica, biogás e biometano.

“O papel da indústria é liderar essa transformação”

O diretor de Sustentabilidade da Fiems, Robson Del Casale, vê o momento como um divisor de águas para a indústria sul-mato-grossense.

Diretor da Fiems, Robson Del Casale. (Divulgação)

“O Estado tem avançado em várias frentes da sustentabilidade, especialmente na produção de energia. Hoje, mais de 90% da nossa matriz energética é limpa, vinda de fontes renováveis como a eólica, o biogás e o biometano. O mais importante é que a energia produzida aqui tem origem renovável, e isso nos impulsiona a seguir ampliando esse processo. E o papel da Federação é justamente esse: estimular o avanço dessas iniciativas, defender o desenvolvimento sustentável e incentivar que mais empresas adotem práticas responsáveis no menor tempo possível. Temos trabalhado para disseminar essa cultura da sustentabilidade, porque ela é irreversível hoje, qualquer empresa precisa pensar em uma produção sustentável.”

Del Casale destaca ainda que o biometano, antes restrito a projetos-piloto, ganhou escala e se tornou símbolo do novo tempo industrial.

“Quando falamos em protagonismo, vemos isso na prática. Há projeções para instalação da maior usina de biometano do país aqui no Estado. Mesmo que ainda não seja a maior, o fato é que estamos nos preparando para isso. Até pouco tempo atrás, as iniciativas de biogás eram tímidas, muito por falta de regulação, mas os investimentos têm crescido, principalmente nas usinas de etanol, que já produzem energia a partir da biomassa. Esses avanços são essenciais. O setor de bioetanol, açúcar e energia tem papel estratégico e mantém o Estado na vanguarda da sustentabilidade e da transição energética no país.”

A maior usina de biometano do mundo

O projeto que simboliza essa virada está em Nova Alvorada do Sul, município de pouco mais de 20 mil habitantes, que se prepara para abrigar a maior usina de biometano do mundo, construída pela Atvos.

Com investimento de R$ 360 milhões, a planta terá capacidade de 28 milhões de metros cúbicos por safra, o equivalente a substituir 10 milhões de litros de diesel por ano. Metade da produção será utilizada na frota própria da companhia.

Usina da Atvos. (Divulgação)

A usina faz parte de um pacote de R$ 2,36 bilhões em investimentos firmados pela empresa junto ao Governo do Estado, que inclui também duas novas usinas de etanol de milho, uma em Nova Alvorada do Sul e outra em Costa Rica, cada uma com capacidade de 250 milhões de litros anuais.

Para o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, esses anúncios mostram que o ambiente de negócios criado em Mato Grosso do Sul inspira confiança.

Governador de MS, Eduardo Riedel. (Foto: Saul Schramm)

“Temos construído um ambiente que inspira confiança aos investidores. A presença da Atvos no Estado, com anúncios e projetos importantes, reforça esse movimento de crescimento e desenvolvimento de Mato Grosso do Sul. Quando um acionista decide investir aqui, é porque acredita nas pessoas e no potencial deste lugar. E o Estado tem fortalecido, dia após dia, essa relação de confiança com empresas, instituições e investidores.”

Biometano: o combustível da bioeconomia

A bioeconomia é a arte de transformar resíduos em riqueza e o biometano é sua expressão mais pura. Produzido a partir da biomassa da cana-de-açúcar, da vinhaça e de resíduos orgânicos agroindustriais, esse gás renovável tem o mesmo poder energético do gás natural, mas emite até oito vezes menos CO₂.

No caso de Mato Grosso do Sul, o impacto vai além da redução de emissões: o biometano cria um ciclo produtivo completo, em que o que antes era descarte, vinhaça, torta de filtro e palha, volta ao sistema como fonte de energia limpa.

Segundo a Biosul, o Estado já produz cerca de 28 milhões de metros cúbicos de biometano por ano, com potencial para chegar a 10 milhões de metros cúbicos apenas com o reaproveitamento da vinhaça. Essa revolução silenciosa está mudando a lógica industrial: o resíduo passa a ser insumo, e o passivo ambiental se transforma em ativo econômico.

“O biometano faz parte da estratégia de energia limpa do Estado”

Na visão do secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck, o biometano é peça-chave da política estadual de transição energética, o MS Renovável, e da meta MS Carbono Neutro 2030.

Secretário, Jaime Verruck. (Divulgação)

“Nós, no Estado, dentro do programa MS Renovável, temos uma política estadual de energia limpa e transição energética e o biometano faz parte dessa estratégia. Já realizamos uma redução tributária e avançamos na regulação do setor, com uma agência estruturada para acompanhar a qualidade do biometano”, explica Verruck.

Ele destaca que as ações públicas têm criado incentivos diretos aos produtores e condições para a integração do biometano à rede nacional de gás natural, o que poderá transformar radicalmente o mercado energético.

“Dentro das políticas públicas estaduais, especialmente na área de suinocultura, criamos incentivos diretos ao produtor. Quanto mais ele avança na produção de biometano, maior é o adicional que recebe. Hoje, praticamente toda a suinocultura de Mato Grosso do Sul já produz biogás, e muitas propriedades estão evoluindo para o biometano. Além disso, temos concedido incentivos fiscais a projetos pioneiros, como o da Adecoagro, e outros em fase de contratação, como o da Agroserra.”

Segundo o secretário, o objetivo é inserir o biometano na rede de distribuição, criando uma infraestrutura que garanta escala e competitividade.

“Nosso objetivo é que esse combustível do futuro seja integrado à rede de gás natural. Já lançamos dois editais, por meio da MSGás, para compra de biometano. No entanto, até o momento, as propostas apresentadas têm preços pouco competitivos, cerca do dobro do valor do gás natural. Estamos em negociação com a TBG para viabilizar uma estrutura que permita a captação e o transporte do biometano pela rede nacional. A construção deve começar no próximo ano, e o processo já está na fase final de licenciamento.”

O secretário cita ainda o projeto Fértil 3 (FN3), que pode se tornar um marco na descarbonização industrial. “Na última reunião da Associação Brasileira do Biogás, propus um desafio: que Mato Grosso do Sul e São Paulo unissem esforços para abrir o projeto Fértil 3 com biometano, e não apenas com biogás — seriam cerca de 2 milhões de metros cúbicos diários. Isso permitiria a descarbonização completa da cadeia produtiva, incluindo a produção de ureia verde. É esse o caminho que o Estado tem perseguido.”

A força da indústria e da inovação: Senai e Fiems como pilares da transição

Nenhuma transição energética se sustenta sem tecnologia e qualificação profissional e é exatamente nesse ponto que entra o papel da indústria organizada. O Senai e a Fiems têm trabalhado lado a lado com o governo e as empresas para consolidar o Estado como referência em energia limpa.

MS se torna 2º maior produtor de energia a partir de biomassa no Brasil. (Divulgação)

O diretor-técnico do Senai, Renato Tavares, resume os desafios que o setor enfrenta e as oportunidades que o biometano oferece.

“Os investimentos em biometano, etanol de milho e SAF reforçam diretamente os pilares ESG, ao promover uma economia de baixo carbono alinhada às metas globais de redução de emissões do Acordo de Paris e ao Plano Estadual Carbono Neutro 2030. Os principais desafios estão na integração tecnológica, regulatória e logística necessária para consolidar uma transição energética efetiva e sustentável.”

Tavares aponta cinco eixos estratégicos que orientam o futuro da bioenergia em Mato Grosso do Sul:

  • Inovação e escalabilidade tecnológica, com ampliação da infraestrutura de produção e distribuição do biometano;
  • Marco regulatório e incentivos fiscais, para atrair investimentos de longo prazo;
  • Gestão sustentável de resíduos, assegurando rastreabilidade e eficiência;
  • Capacitação de mão de obra, conectando tecnologia e formação técnica;
  • Logística verde, adaptando transporte e armazenagem para a nova realidade energética.


“Superar esses desafios permitirá que Mato Grosso do Sul converta seus investimentos em ganhos ambientais, sociais e econômicos permanentes, consolidando o Estado como protagonista na transição para uma economia neutra em carbono e verdadeiramente sustentável”, conclui o diretor do Senai.

Da vinhaça ao progresso: a revolução da Adecoagro

Em Ivinhema, a transformação da vinhaça em combustível é mais do que um processo químico, é o retrato da nova economia. A Adecoagro, multinacional de capital aberto (NYSE: AGRO), investiu R$ 225 milhões na expansão de sua planta de biometano, que já produz 6 mil metros cúbicos diários e deve chegar a 35 mil m³ até 2027.

Indústria da Adecoagro. (Divulgação)

A empresa destaca que o projeto vai muito além da energia: ele movimenta economias locais, gera empregos e fecha o ciclo de sustentabilidade da cadeia sucroenergética.

“A expansão da planta de biometano em Ivinhema vai muito além do investimento, representa um projeto que transforma a economia regional e gera benefícios concretos para a sociedade”, afirmou a companhia em nota ao O Estado.

A Adecoagro estima que a substituição do diesel por biometano permitirá mitigar 38 mil toneladas de CO₂ por ano e reduzir o consumo de 10 milhões de litros de diesel anualmente a partir de 2028.

“Cada metro cúbico que substitui o diesel evita a emissão de CO₂ e outros poluentes. Caminhões, tratores e motobombas já operam com biometano, e a nova capacidade produtiva vai acelerar essa conversão — reduzindo a dependência do diesel e aumentando a competitividade do agronegócio.”

Além do biometano, a Adecoagro investe em SAF (combustível sustentável de aviação), uma fronteira que deve transformar o setor aéreo global:

“O SAF representa uma nova fronteira para o setor. Acreditamos no seu potencial e enxergamos como oportunidade de desenvolver novos mercados para o etanol. Nossas unidades já estão certificadas pelo padrão internacional Corsia Plus, em preparação para essa evolução.”

A visão do setor: “O biometano é o combustível do futuro”

O presidente da Biosul, Amaury Pekelman, define a bioenergia como o motor da nova industrialização de Mato Grosso do Sul.

Presidente da Biosul, Amaury Pekelman. (Divulgação)

“O biometano tem potencial real para substituir boa parte do diesel utilizado nas usinas e no setor agrícola. Trata-se de um combustível que emite até oito vezes menos CO₂ e já é produzido em escala a partir da vinhaça. O projeto da Adecoagro, em Ivinhema, é um marco dessa transição: com frota adaptada ao biometano, tornou-se referência nacional e prova de que é possível abastecer veículos pesados com energia limpa produzida localmente.”

Para Pekelman, o Estado está pronto para dar o próximo salto: integrar biometano, etanol, bioeletricidade e SAF em um sistema de bioeconomia circular, em que tudo se aproveita.

“A integração entre cana e milho mostra que Mato Grosso do Sul avança rumo a uma bioeconomia circular. A cana garante produção contínua de etanol, açúcar e bioeletricidade, enquanto o milho complementa a matriz, mantendo as usinas ativas na entressafra. Ao mesmo tempo, resíduos como o bagaço da cana, a vinhaça e a torta de filtro se transformam em energia elétrica, biogás e biometano, fechando um ciclo de reaproveitamento”, analisa Pekelman.

O setor já evitou 13,7 milhões de toneladas de CO₂ nos últimos quatro anos, o equivalente ao plantio de 89 milhões de árvores e se tornou o segundo maior produtor nacional de etanol de milho, com 19% da produção brasileira.

Fonte de dados: Biosul

Fonte de dados: Biosul

As cidades que crescem com a energia do futuro

Os investimentos bilionários em bioenergia não mudam apenas indicadores econômicos, eles redesenham a vida cotidiana em dezenas de cidades do interior sul-mato-grossense.

Municípios como Nova Alvorada do Sul, Costa Rica e Ivinhema experimentam uma nova realidade de desenvolvimento, marcada por mais empregos, renda e oportunidades de qualificação.

Em Nova Alvorada do Sul, onde será instalada a maior usina de biometano do mundo, a população acompanha com expectativa as transformações. O prefeito José Paulo Paleari reconhece que o avanço industrial traz desafios, mas também inaugura uma era de prosperidade.

Prefeito de Nova Alvorada do Sul, José Paulo Paleari. (Divulgação)

“O impacto será muito grande para o município, porque estamos falando de uma grande geradora de empregos e de tributos, tanto para Nova Alvorada do Sul quanto para o Estado. Isso é geração de riqueza. Mato Grosso do Sul vive um momento de crescimento e desenvolvimento, e o nosso município está alinhado com essa direção, junto ao Governo do Estado e aos parceiros do setor produtivo.”

Paleari destaca que a Atvos, empresa responsável pela nova planta de biometano e pela indústria de etanol de milho, já anunciou R$ 1,3 bilhão em investimentos. O efeito imediato será a criação de empregos e o aumento da arrecadação municipal, com reflexos diretos na saúde, educação e infraestrutura.

“É claro que todo município do interior enfrenta desafios, porque nem sempre está preparado para um crescimento tão rápido. Por isso, estamos nos planejando e já levei ao governador as nossas necessidades de investimento em saúde, educação, habitação e infraestrutura. Vamos precisar ampliar tudo, mas com planejamento e parcerias é possível equilibrar os impactos.”

A parceria com o Sistema S (Senai, Sebrae, Sesc, Senar e Senai/FIEMS) tem sido decisiva para preparar a mão de obra local.

“Em parceria com o Senai, Fiems, Sebrae, Sesc, Senar e o Sindicato Rural, estamos oferecendo cursos técnicos voltados para as necessidades das usinas e das novas indústrias. Temos formações em mecânica, operação de máquinas, manutenção e várias áreas ligadas à indústria. A capacitação precisa acompanhar a tecnologia que está chegando, porque as máquinas estão cada vez mais avançadas. Daqui a pouco, operar um trator vai exigir até inglês”, explica o prefeito.

O desenvolvimento que chega pelo Norte

A 500 quilômetros dali, no norte do Estado, Costa Rica também se prepara para viver uma expansão sem precedentes. O município, conhecido por sua vocação agropecuária, agora atrai investimentos industriais que devem gerar 1.500 novos empregos e elevar significativamente sua receita pública.

O prefeito Cleverson Alves dos Santos explica que o município tem se estruturado para absorver esse crescimento de forma planejada.

Prefeito de Costa Rica, Cleverson Alves. (Divulgação)

“Do ponto de vista econômico, o impacto é muito positivo. Esse investimento aumenta o valor adicionado do ICMS e, consequentemente, a participação do município na cota do imposto. Ou seja, é mais receita para Costa Rica. Além disso, serão gerados mais de 1.500 novos empregos, com a renda desses trabalhadores circulando na economia local, o que movimenta o comércio e os serviços.”

Cleverson reconhece que o avanço econômico traz também novos desafios para o poder público, especialmente no atendimento das demandas sociais. Segundo ele, o município já vem se antecipando para garantir que o crescimento aconteça de forma equilibrada.

“O aumento populacional eleva a procura por serviços de saúde, por exemplo. Por isso, estamos construindo uma nova UBS e uma policlínica, que já está em fase final de edificação, enquanto a UBS está no início das obras. Na educação, hoje temos mais de 5 mil alunos na rede municipal e esperamos um aumento considerável, então já estamos ampliando várias escolas para atender essa nova demanda”, explicou.

Ele acrescenta que a gestão também tem investido na qualificação da população local para acompanhar esse ritmo de expansão.

“Firmamos parcerias com o Sebrae e o Senai para ofertar cursos de capacitação profissional. A ideia é aproveitar ao máximo a mão de obra local, reduzindo a necessidade de trazer trabalhadores de fora e minimizando os impactos dessa chegada. É natural que surjam alguns desafios, mas eles são superados pelos benefícios econômicos e sociais que o projeto trará. A cidade está crescendo, e esse crescimento é um sinal de desenvolvimento.”

Emprego e qualificação: a nova revolução industrial

Os números mostram o tamanho do desafio e da oportunidade. Entre 2025 e 2027, será necessário qualificar 207 mil profissionais industriais em Mato Grosso do Sul, segundo projeções do Senai.
As áreas com maior demanda são:

  • Logística e transporte: 50 mil vagas
  • Alimentos e bebidas: 21 mil
  • Construção: 20 mil
  • Agropecuária: 20 mil
  • Manutenção e reparação: 19 mil

O programa MS Qualifica já soma mais de 5 mil pré-inscritos até julho de 2025, enquanto o Senai abriu 1.640 vagas para cursos técnicos em 2024, número que deve crescer significativamente neste ano.

Senai qualifica trabalhadores na AdecoAgro em Ivinhema. (Foto: João Garrigó)

A formação técnica, impulsionada pela expansão das indústrias de bioenergia, está moldando uma nova geração de trabalhadores especializados, aptos a operar máquinas inteligentes, biodigestores e sistemas automatizados de purificação e compressão do biometano.

“O biometano não é apenas um combustível. É uma ponte entre tecnologia e sustentabilidade. Cada litro de etanol, cada metro cúbico de gás produzido no Estado carrega o esforço de engenheiros, técnicos e operadores formados aqui mesmo, em solo sul-mato-grossense”, resume Renato Tavares, do Senai.

Indústria da bioenergia amplia empregos e espaço para mulheres em MS

A participação das mulheres na indústria de Mato Grosso do Sul vem crescendo de forma contínua — e o setor de bioenergia reflete esse avanço. Entre 2019 e 2024, a contratação de mão de obra feminina na indústria sul-mato-grossense aumentou 31%, superando o crescimento masculino, de 25% no mesmo período.

Em 2024, as mulheres representavam 25% dos trabalhadores da indústria no Estado, um índice que já foi de 26,34% em anos anteriores, mostrando pequenas variações, mas mantendo presença significativa. A tendência acompanha a expansão do número de empregos no segmento de bioenergia, impulsionada por políticas de diversidade e igualdade de oportunidades em empresas e instituições locais.

Empresas como a Atvos têm adotado políticas afirmativas com metas para ampliar a presença de mulheres em cargos de liderança. A companhia recebeu o selo “Empresa Amiga da Mulher” em reconhecimento às suas práticas de equidade de gênero. Além da gestão, há mais mulheres em funções técnicas e operacionais — um exemplo é a colaboradora da Atvos, em Costa Rica, que assumiu a chefia de uma equipe de tratores, função antes ocupada apenas por homens.

A expansão também aparece em setores complementares: em 2025, 85% das vagas de um viveiro de mudas no Estado são ocupadas por mulheres, evidenciando o protagonismo feminino nas etapas produtivas que alimentam a cadeia da bioenergia.

Mulheres na indústria. (Divulgação/Fiems)

Programas de capacitação, como o “Mulheres em Campo” do Sistema Famasul, fortalecem a gestão e o empreendedorismo no agronegócio, área diretamente ligada à bioenergia. Já na UFMS, pesquisadoras lideram estudos sobre novas biomassas e tecnologias sustentáveis, consolidando o protagonismo feminino na ciência e na inovação.

O movimento também tem ganhado palco em eventos como o “Cana Substantivo Feminino”, realizado em 2024, que destacou a presença das mulheres na criação de soluções tecnológicas e sustentáveis.

Mato Grosso do Sul: o novo mapa da energia limpa

Os indicadores consolidam a posição de Mato Grosso do Sul como uma das potências nacionais na produção de biocombustíveis. O Estado é o 4º maior produtor de cana-de-açúcar e etanol de cana do Brasil, ocupa a 2ª posição na produção de etanol de milho, figura como o 5º maior produtor de açúcar e ainda se destaca como o 4º maior exportador de bioeletricidade do país.

Fonte de dados: Biosul

Fonte de dados: Biosul

 

Com 22 usinas em operação, presença em 42 municípios e colheita 100% mecanizada, a cadeia sucroenergética de Mato Grosso do Sul se tornou um modelo de sustentabilidade. A vinhaça é usada como adubo orgânico, o bagaço vira energia elétrica e a torta de filtro retorna ao campo, fechando o ciclo de economia circular.

A bioeletricidade gerada a partir da cana representa 15% da matriz elétrica estadual, o que equivale a 2.200 GWh exportados em 2023 — energia suficiente para abastecer todas as residências do Estado durante um ano inteiro.

“Enquanto houver processamento de cana, haverá insumos para novos produtos. Com investimento em biodigestores, inovação e logística, transformamos resíduos em energia limpa, renda e competitividade para Mato Grosso do Sul”, afirma Amaury Pekelman, da Biosul.

O Brasil do amanhã começa aqui

O futuro energético do Brasil passa por Mato Grosso do Sul. No Estado, a bioenergia deixou de ser discurso e virou prática com ganhos ambientais, sociais e econômicos mensuráveis.

Fonte de dados: Biosul

Fonte de dados: Biosul

A combinação entre infraestrutura moderna, segurança jurídica e governança público-privada transformou o território em um ecossistema de inovação sustentável. Projeções da Fiems indicam que, até 2030, os investimentos em biocombustíveis e biometano poderão elevar o PIB industrial estadual em mais de 40%, consolidando o Estado como referência global em energia limpa.

“Nossa vantagem duradoura vem da combinação entre eficiência energética, segurança jurídica, infraestrutura e governança. Mato Grosso do Sul reúne esses atributos e tem um ambiente institucional sólido, que atrai investidores ao oferecer previsibilidade regulatória e condições logísticas adequadas”, reforça Pekelman.

A meta é clara: atingir a neutralidade de carbono até 2030, com base em inovação, responsabilidade e educação.

“Transformamos benefício ambiental em geração de valor econômico, reputação e novas oportunidades de negócios”, completa.

E, nesse caminho, o biometano é mais do que um combustível, é o símbolo de um Estado que aprendeu a gerar riqueza sem esgotar seus recursos, que encontrou nas cinzas do passado o gás que move o futuro.

Agora que você já conhece o papel de Mato Grosso do Sul na produção de bioenergia e biocombustíveis, que tal testar seus conhecimentos no quiz abaixo:

 

 

Reportagem escrita por: Suelen Morales

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