Para especialistas, problema deve ser solucionado com o tempo e se dá pela lembrança da união dos estados
Recentemente, em visita a Campo Grande, o jornalista Márcio Gomes cometeu um erro comum entre as pessoas de outros Estados brasileiros: durante a apresentação de sua palestra em um evento do Sebrae MS, o comunicador confundiu-se ao chamar o Estado de Mato Grosso e não Mato Grosso do Sul. Após o erro, Márcio se retratou em um vídeo de grande repercussão nas redes sociais, no qual se desculpou pela gafe.
No entanto, mais que uma gafe, o erro ainda causa muito incômodo, porque, após 48 anos da sua criação – comemorada neste dia 11 de outubro, as pessoas ainda insistem em ignorar a existência desse Estado que é tão diverso do seu vizinho Mato Grosso e, que após a Divisão, construiu sua própria história, cultura e costumes.
Para o professor de História especialista em Mato Grosso do Sul, Henry Guimarães, não existem motivos científicos para a confusão causada, sendo que uma das únicas razões seria a similaridade dos nomes e a proximidade do território.
O especialista ainda lembra que, a partir de 1977, os moradores de MS passaram por um processo para entender a importância da sua existência, diferenciando-se em muitos aspectos no seu vizinho MT.
“Historicamente, não existe motivo para confundir, temos apenas o nome parecido, mas temos outros Estados com nomes parecidos, que é o caso do Rio Grande do Norte e o Rio Grande do Sul, mas a diferença é que cada um teve o seu processo de criação e não são próximos, o que contribui para que não sejam confundidos. , explica.
Apesar das claras diferenças culturais – como a grande influência que Paraguai exerce na formação social de MS, mas não em MT, por exemplo – Guimarães aponta que este pode ser um problema geracional e, provavelmente, irá desaparecer com o tempo. Para ele, muito desse erro se deve ao fato de que muitas dessas pessoas ainda se lembram de quando Mato Grosso era um único grande Estado.
“Como historiador, 48 anos não é quase nada, não é nem uma geração, que é 80 anos. A gente conhece pessoas que ainda estão vivas e que viram a divisão, que nasceram em Mato Grosso, mas que precisaram mudar os documentos para Mato Grosso do Sul. Então, ainda vai um tempo para dar uma apaziguada nessa discussão”
Mudança de nome
Na tentativa de cessar a questão, muitos apostam que a saída seria a mudança do nome de MS para algo que o diferencie de vez do seu vizinho, mas essa discussão também não é tão recente. De acordo com o Henry, ainda no processo de criação do Estado diversos nomes foram sugeridos, entre eles Estado do Planalto de Maracaju, Estado de Campo Grande ou Estado de Bodoquena.
“Pensaram em batizar o novo Estado como Campo Grande, assim como tem São Paulo, com a Capital São Paulo, mas Dourados, que era a segunda maior cidade e quase foi Capital de MS, não gostou. Logo depois, mas já no século XX, pensaram em mudar para Estado do Pantanal, mas outras pessoas argumentaram que também tem Pantanal de MT. Com o tempo surgiram diversas dificuldades”, explica.
Henry ainda explica que, em sua visão, esta última sugestão seria o nome ideal para nosso Estado, pegando como exemplo o Amazonas, que leva este nome em referência à Floresta Amazônica que, apesar de se espalhar para diversos territoriais, inclusive fora no Brasil, tem sua maior porção naquele Estado, assim com o Pantanal em 70% do seu bioma em MS.
Outra vantagem em ter um nome que se distingue de Mato Grosso é a maior assimilação pelas pessoas de fora. Neste caso, basta observar o exemplo de Tocantins, que se formou pelo desmembramento da área de Goiás, mas nunca é confundido com seu vizinho por haver uma nomenclatura bem distinta entre os dois.
“Mudar para Estado do Pantanal seria positivo até por uma questão turística e para quem vem de fora é interessante apresentar o Estado como sendo o que o tem o Pantanal, assim como apresentam o Amazonas ligando a ideia com a Amazônia. Além disso, acabaria com o problema, porque é um nome bem diferente. Mas, se isso vai se concretizar, só vai depender da vontade política”, concluiu.
Independente de mudanças de nome ou não, uma coisa é certa: sempre que alguém falar Mato Grosso haverá um coro para responder: “Do Sul”, seja em palestras, como aconteceu com Márcio Gomes, em shows, entrevistas ou em comentários do dia a dia, quando insistem em nos confundir com MT. .
Assim como o jornalista disse em seu vídeo de desculpas: “Eles não têm problema com Mato Grosso, eles têm problemas em não serem reconhecidos como Mato Grosso do Sul, que é um outro Estado, um Estado diferente, com uma cultura diferente, comportamento diferente”.
E completou: “Não errem. Quando vocês vierem para Campo Grande, vocês estarão vindo para Mato Grosso do Sul. Quando vocês vierem para o Pantanal, vocês estarão vindo para Mato Grosso do Sul”.
Fala povo
Como em todo o debate que envolve a população é preciso ouvir quem lida com a confusão de nomes no dia a dia. Por isso, a reportagem do Jornal O Estado foi às ruas de Campo Grande para saber: afinal, as pessoas são contra ou a favor da troca de nome? Confira o Fala Povo a seguir.
Alberto Medina, advogado. “Desde a divisão do Estado nós estamos em busca da nossa identidade. Culturalmente, não temos muito em comum com o pessoal do Mato Grosso. Aqui gostamos de chamamé e tereré; lá é lambadão e guaraná. Acho que deveríamos discutir novamente o assunto e realizar um novo plebiscito. Sou a favor da troca do nome”.

Alberto Medina – Foto: Roberta Martins
Wellington dos Santos, segurança. “Já ouvi muita gente chamar Mato Grosso do Sul de Mato Grosso, principalmente na TV, mas nem ligo. O importante é a gente saber que é Mato Grosso do Sul. Acho que trocar o nome não resolveria nada. É melhor deixar como está, e com o tempo as pessoas aprendem a falar o certo”.

Wellington dos Santos – Foto: Roberta Martins
Thayna Silva, arquiteta. “Fico irritada quando confundem, sim. Sempre corrijo, até na internet, porque nosso Estado é único. Temos que nos orgulhar do que somos e do nosso povo. Mato Grosso é uma coisa, Mato Grosso do Sul é outra. Não acho que trocar o nome resolveria, falta é mostrar mais a nossa cultura e o que é ser sul-mato-grossense”.

Thayna Silva – Foto: Roberta Martins
Eliane Ivanil, vendedora. “Irritada eu não fico, mas não gosto quando falam errado. Gosto de ouvir o nome certo: Mato Grosso do Sul. Eu nasci aqui, é o meu Estado. Por isso tem que falar o correto. E trocar o nome? Ah, não. Mato Grosso do Sul é mais bonito e deve continuar assim”.

Eliane Ivanil – Foto: Roberta Martins
Victor Vaez, músico. “Não fico incomodado quando trocam, mas entendo quem se irrita. É falta de informação de quem é de fora. Acho que mudar o nome não adiantaria. O ideal seria divulgar mais nossa cultura e reforçar a diferença entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul”.

Victor Vaez – Foto Roberta Martins
Arlete Xavier, do lar. “Me incomodo, sim. É Mato Grosso do Sul, não Mato Grosso. Já ouvi muita gente falando errado e sempre corrijo. Moro aqui desde sempre e já me acostumei com o nome. Trocar agora não faria sentido. Pra mim, tem que continuar do jeitinho que é”.

Arlete Xavier – Foto: Roberta Martins
Por Ana Clara Julião e Geane Beserra
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