Autora de ‘Vozes (In)visíveis’ representará o Estado com HQ reportagem sobre luta e vivência LBT em Campo Grande
Mato Grosso do Sul terá uma representante no prêmio mais importante do país ligado ao jornalismo: a quadrinista Marina Duarte concorre na categoria ‘Arte’ na 47ª edição do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos de 2025. A escolha dos vencedores será no dia 7 de outubro, das 14h às 18h, em sessão pública e transmissão ao vivo pelo Canal do YouTube do Prêmio.
A HQ é o resultado de um trabalho realizado durante o ano de 2024, com objetivo de colaborar com a luta LGBTQIAP+ em Campo Grande, com entrevistas com mulheres que trabalham e lutam dentro dos movimentos sociais e institucionais, como a Casa Satine.
“O Vozes (In)visíveis é uma HQ reportagem que vai trazer relatos da luta e vivência LBT em Campo Grande. Significa que a gente explorou, por meio do recorte do gênero, dentro também da cisgenaridade, da transexualidade, o papel da mulher, lésbica, bissexual, transexual, e as questões que as atravessam na cidade”, explica Marina ao jornal O Estado. A autora explica que o nome é um jogo de palavras que mostra a tentativa de visibilizar essas vozes.
“Tem depoimentos de figuras importantes no meio, do movimento dos anos 90 e 2000 na cidade, na intenção de fazer um diagnóstico sobre o que é ser mulher LBT aqui. Essa é a pergunta que guia o material”, diz Marina.
Escolhida
O Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog presta homenagem a personalidades e profissionais da comunicação que se destacam na promoção dos direitos humanos fundamentais. Para Marina, ser finalista no prêmio conversa diretamente com o seu trabalho e o que ela quer mostrar no futuro.
“Me sinto muito feliz e satisfeita, foi uma surpresa muito boa quando eu encontrei, na semana passada, o meu nome entre os finalistas, porque é um prêmio gigante, que a importância dele vai além da premiação em si, aborda o jornalismo e direitos humanos, o qual é o que sempre tento trazer para os meus trabalhos”, disse a artista ao Jornal O Estado.
Marina ainda destaca que ver o nome de Campo Grande, sendo finalista com uma obra de quadrinhos, é um reconhecimento tanto do seu próprio trabalho, quando do tema, que joga luz nas questões de violência da Capital, principalmente ligadas ao feminicídio e LGBTfobia.
“Esse trabalho tem para mim uma importância muito grande quando vemos o reconhecimento de ser finalista de um prêmio desse tamanho, ainda mais sabendo como é difícil fazer tanto quadrinhos quanto jornalismo alternativo em Campo Grande. Estou nas nuvens!”, disse.
Possibilidades
O quadrinho foi lançado pela editora Avuá, que também é independente. “Juntamos forças. E também estiveram comigo outras pessoas trabalhando, além da Lei de Incentivo Paulo Gustavo. Para mim, como quadrinista independente, é muito importante a existência das leis de incentivo. Conseguimos dar saltos ainda maiores quando temos possibilidades, apoio e financiamento nos nossos projetos. Temos trabalhos muito legais que poderiam ser cada vez mais alavancados”, opinou.
Marina ainda quer que essa indicação seja uma visão positiva para quem, quer ser quadrinista. “Além de mim, esse ano foi um ano em que muitas pessoas, muitas delas também Queer, daqui do MS, figuraram em premiações grandes, indicadas ou como premiadas. Eu acredito que sejam momentos importantes para pontuar que aqui no MS se faz cultura, que temos artistas muito atuantes e que, valorizados como deveriam ser, poderiam alçar voos ainda maiores. É uma pena a abordagem que, tanto na esfera municipal, quanto na esfera estadual, nos é dada. De verdade”.
Usando do método da HQ reportagem, gênero jornalistico que utiliza das histórias em quadrinhos para noticiar um fato, Marina quer abordar a temática de forma pedagógica, mas ainda promover o debate.
“Busquei fazer de uma forma sensível, e acredito que o quadrinho tenha esse potencial, tanto artístico quanto didático. Apresentei a análise de dados, histórias de LGBTfobia que acontecem na cidade, e a denúncia de uma dessas histórias, com a LGBTfobia acontecendo até mesmo dentro dos espaços escolares, com alunos e professores. Também é abordado a questão da ideologia de gênero, como ela está enraizado num discurso perigoso até nos órgãos publico”, revela. “É um material de reflexão, que busca ser sensível e, ao mesmo tempo, trazer uma denúncia em cima do tema. Ele poderá contribuir muito para o debate das políticas públicas aqui na cidade”, finaliza.
O prêmio
Neste ano, foram 469 produções inscritas nas categorias: Arte, Fotografia, Texto, Vídeo, Áudio, Multimídía e Livro-reportagem. No marco dos 50 anos do assassinato de Vlado, organizadores instituíram nova premiação – Categoria EXTRA – para reconhecer produções focadas na Defesa da Democracia.
Desde a sua primeira edição, concedida em 1979, o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog presta homenagem a personalidades e profissionais da comunicação que se destacam na promoção dos direitos humanos fundamentais. Também celebra a vida e obra do jornalista Vladimir Herzog, torturado e assassinado pela ditadura civil-militar no dia 25 de outubro de 1975 nas dependências do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo.
Por Carolina Rampi
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