Seminário expõe falhas e urgência da acessibilidade cultural de Campo Grande

Mirella Ballatore durante o Seminário de Cultura Acessível, realizado em Campo Grande em 30 de setembro. Foto: Henrique Kawaminami
Mirella Ballatore durante o Seminário de Cultura Acessível, realizado em Campo Grande em 30 de setembro. Foto: Henrique Kawaminami

Participantes relataram dificuldades e cobraram que inclusão deixe de ser promessa para virar prática

O Seminário “Cultura Acessível, Floresce Cidadania”, realizado em Campo Grande no dia 30 de setembro, transformou-se em um espaço de denúncia e cobrança por mudanças efetivas. Promovido pelo Comitê de Cultura de Mato Grosso do Sul (CCMS) e pela Subsecretaria da Pessoa com Deficiência, o encontro reuniu vozes da experiência pessoal e da militância que questionaram a ausência de condições mínimas de acessibilidade nos espaços culturais.

Entre os depoimentos, chamou atenção o relato de Taisa Santos da Silva, 46 anos, que perdeu a visão há sete anos e destacou a importância da audiodescrição para garantir participação. “Tem que haver acessibilidade em geral. […] Eu fiquei feliz, me senti muito contemplada. Então, os gestores também têm que estar mais à parte, tem que estar presente nas próximas para eles poderem sentir na pele um pouquinho, entender nosso sofrimento”, disse.

A paratleta Edivanda Diniz Aires, 59 anos, reforçou que a exclusão de pessoas com deficiência do meio cultural não é por falta de interesse, mas de condições. “A falta de acessibilidade significa falta de inclusão. Então não tem como falar que existe inclusão quando não existe acessibilidade. A acessibilidade é uma ponte para a inclusão”, afirmou. Ela também criticou a aplicação inadequada de recursos públicos: “10% do orçamento que vem para a cultura é direcionada para a acessibilidade e inclusão. Só que isso não acontece”.

A própria realização do evento revelou contradições. Mirella Ballatore, cadeirante e presidente da Associação de Mulheres com Deficiência de MS, apontou que não conseguiu acessar o palco sozinha por causa da inclinação da rampa. “Eu não quero ajuda, eu quero acessibilidade”, declarou, ao relatar que precisou de apoio para se locomover dentro do espaço.

As falas pressionaram gestores presentes. O superintendente do Iphan-MS, João Henrique dos Santos, classificou o encontro como “um pé na porta e um tapa na cara”, destacando a urgência de pensar acessibilidade desde a fase de projeto arquitetônico. Já a subsecretária de Políticas para Pessoas com Deficiência, Malu Fernandes, definiu o seminário como um “divisor de águas”, mas reconheceu que será preciso reconquistar a confiança da comunidade.

Enquanto a arquiteta Jacqueline Nascimento, da Planurb, lembrou do desafio de adaptar o patrimônio histórico sem descaracterizá-lo, a tônica do encontro foi clara: a acessibilidade cultural não pode ser tratada como um favor ou detalhe técnico, mas como um direito básico ainda negligenciado.

*Com informações de Tero Queiroz/Flor e Espinho

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